quinta-feira, 31 de julho de 2008

O senhor no ano que vem terá 30 anos...

... disse-me o dentista esta semana. E vem mesmo a propósito falar aqui de dentistas, porque, tanto quanto me recordo, ainda não vos contei das minhas aventuras pelo maravilhoso mundo dos médicos belgas. Um verdadeiro carrossel de emoções. Ora comecemos pela dermatologista...
Há uns dois meses, estava eu posto em sossego a limpar os pés à saída do duche, quando me deparo com várias manchas encarnadas e a pele dos dedos dos pés a descascar. Resposta pronta: com esta bodega desta água hipercalcária, a pele seca até dizer basta, depois dá nisto. A culpa é toda da água, mas como é que se admite que num país desenvolvido a água seja tão pouco tratada ou mal tratada ou lá o que for a ponto de secar a pele drasticamente. Descarregando a culpa sobre a pobre da água, achei que o problema se resolvia com creme hidratante, daquele que há agora especificamente para pés e até tem um vago aroma de laranja, e vai disto. Toca a pôr creme como se não houvesse amanhã. Mas as manchas lá continuavam, por isso toma com mais creme. Até que ocorreu à minha Mãe, que estava de visita e como sempre pensa nas coisas com todos os neurónios, que talvez o mal não fosse da água, visto que não tinha manchas no resto do corpo, e que talvez devesse consultar um dermatologista. A água é de facto extremamente calcária e quase dá conta da pele se não pusermos creme, mas a tanto não chegaria realmente. Assim decidi dar a mão à palmatória e lá fui à dermatologista. A clínica com muito bom aspecto, atenderam-me a horas, tudo muito bonito até que foi preciso explicar à senhora o que me trazia por ali. Em Francês. Agora é que são elas. Ora eu tinhas manchas, em Inglês stains, bem tentei mas nada, porque ela de Inglês não pescava palavra. Passados cinco minutos de esforços vãos para comunicar, tipo cinema mudo, a senhora optou pela via pragmática: «Então e se me mostrasse?» Assim fiz. Ora as manchas chamam-se tâches, óptimo, mais uma coisa que eu aprendi. O pior foi quando a senhora me disse que eu também tinha champignons. Champignons? Então mas champignons são cogumelos, olha a mulher deve estar é parva, agora cogumelos nos pés, que jeito. E ela repetia, «oui vous avez des champignons», e tornava a insistir e eu cada vez mais à nora, sempre a perguntar «mas que vem a ser isso?» «Fungos», responde ela por fim. «Ah, podia ter começado por aí». Voltei da consulta não com um mas com dois novos vocábulos aprendidos e tenho a dizer que, em três semanas e graças ao tratamento prescrito, todos os males desapareceram. A senhora ficou tão feliz que até exclamou: «Je suis très content de vos pieds». Olha que porreiro, a mulher ficou feliz pelos meus pés, que coisa simpática de se dizer a uns pés. Eles também ficaram contentes certamente.
Esta semana a experiência foi um pouco diferente. Decidi ir ao dentista porque, como alguns de vocês sabem, usei aparelho há alguns anos nos dentes inferiores e queria usar também na parte superior, aproveitando a apregoada qualidade dos tratamentos dentários belgas, tão afamados pela qualidade e pelo preço que vêm pessoas da Holanda e da Alemanha exclusivamente para tratar a dentadura aqui. Pois então vamos a isto. Desta feita, a cena começou logo ao telefone com o senhor a perguntar-me quem me tinha enviado para ele. Ninguém! «Ninguém me recomendou?» «Não». Então mas isto é o dentista ou é o astrólogo? Que eu saiba, só os médicos muito concorridos é que aceitam doentes apenas por indicação de outrem e, como eu constatei, não era propriamente o caso. Lá expliquei ao senhor que moro aqui perto, passei à porta dele e vi a tabuleta e decidi ligar, tudo coisas que me parecem normais, sobretudo porque não sou de cá e não conheço dentistas. Está bem, venha lá e lá fui. Quando toco à campainha, o senhor vem-me receber com toda a simpatia e eu vejo logo que ali não há secretárias nem assistentes como na minha dentista de Lisboa. Até aqui tudo bem. Em seguida, pergunta-me que queixas tenho, tal como a outra, e faz-me seguir para a cadeira e abrir a boca. De imediato, disparam todos os alarmes que há no meu cérebro: o homem não tem luvas! Repito: não tem luvas!!! Luvas, uma coisa indispensável a qualquer dentista! Mas o senhor nem vê-las. Com o nojo e o desconforto instalados, pensei que até poderia sair dali com os dentes tratados mas de uma infecção na boca poderia não escapar. Claro está que a primeira coisa que este vosso amigo fez ao chegar ao trabalho foi precisamente... lavar os dentes! Voltando ao consultório, para começo de conversa eu tentei explicar os tratamentos que fiz em Lisboa, culminando na destartarização que me fizeram antes de vir. Ora claro que destartarização se haveria de dizer em Francês détartarisation. Sem reacção. Segunda tentativa: «détartarisation». Nada. Nem sequer um simples «não percebi». Apenas silêncio. Ao que me ocorre dizer: «quitter tartare». «Ah, détartrage!». Pois, isso... Nisto, decidi perguntar ao senhor o que achava de eu tratar os dentes de cima e ele opinou que eu tenho uma boca normal, não é perfeita mas é normal, e os dentes são todos saudáveis. Está bem. Ou estaria, porque a contenda não ficou por aqui.
«Mas sabe, o senhor tem dentes a mais na boca, por isso é natural que uns pressionem os outros, porque não têm espaço». Quê? Dentes a mais? Ai o homem está de todo, olha agora dentes a mais, que disparate de conversa é esta? Mas onde é que eu me vim meter? «Eu só tenho os meus dentes normais», respondi eu como quem diz «não acrescentei nenhuns». «Claro, mas não é muito comum pessoas da sua idade terem toda a dentição, ao longo da vida por uma razão ou outra tiveram de tirar dentes». Ah, percebi. «De qualquer forma, o senhor tem de pensar que para o ano que vem terá 30 anos e que, sendo ainda tão jovem, não há-de querer que os dentes se entortem ao longo da vida». Pára tudo! Esta agora foi demais. Eu para o ano tenho 30 anos? Passou-se mesmo! «Não, eu para ano que vem terei 29». «Não, o senhor disse-me a data de nascimento, ora em 2009 terá 30 anos». «Não senhor, eu tenho 28, como é que para o ano tenho 30?» «Sim, vai ter». Achei que não valia a pena insistir, rotulei o senhor de tonto, paguei e pus-me a milhas porque, assim como assim, a consulta estava terminada. Fiquei pessimamente impressionado, um dentista que nem sequer usa luvas - LUVAS! - e ainda tem a lata de se enganar a fazer contas. Durou a ilusão até chegar a casa e contar a cena à minha Mãe. Como sempre a raciocinar com todos os neurónios e mais alguns e sem necessitar de fazer contas, diz-me de imediato: «Olha lá, então tu para o ano não vais fazer 30?» «Não! Eu? Claro que não!» «Então este ano não vais fazer 29?» «Ah, vou». «Pois, então para o ano farás 30 anos!! Lógico! Daaahhhh.....» O senhor afinal tinha toda a razão. Para o ano entrarei nos trinta... Mas nada disso desculpa a falta das luvas, está bem???!!!
Meus amigos, este blogue e o seu autor desejam-vos umas óptimas férias, porque os próprios também estão de malas aviadas... para casa! Estarei, pois, ausente durante algum tempo, retemperando forças e, quem sabe, juntando algumas histórias para aqui partilhar. Esperando encontrar em Portugal um tempo tão agradável e um Sol tão luminoso como a cor que dei a estas letras. Como se diz por cá, estarei en congé!

2 comentários:

Anónimo disse...

Ai Pedro, so tu para me fazeres rir....tambem nao sei como reagiria se o meu dentista nao colocasse luvas, aquelas maos todas dentro da minha boca! :D
Boas ferias e mata as saudades do bom tempo daqui, que quando voltares lá estará a chuva e o frio!
Beijocas, Ana.

Anónimo disse...

Olá Pedrinho!!! Já me fartei de rir à conta das idas ao médico... Com que então o menino recusa-se a imaginar, sequer, que vai ter 30 anos... è lógico... A partir daí os anos vão voar e quando nos apercebemos já temos 50.... Mas todas as idades são bonitas, desde que as saibamos gozar... Desejo-lhe umas óptimas férias aqui neste nosso Portugal. Um beijo amigo da Fátima