domingo, 13 de julho de 2008

Um cheirinho de Lisboa... em Bruxelas

Esta Sexta-feira trouxe um cheirinho muito peculiar da nossa querida Lisboa a esta Bruxelas multi-cultural.
Tudo porque, após seis anos de obras, inauguraram a Place Flagey, que está no centro de uma zona onde vivem muitos emigrantes com particular destaque para uma enorme comunidade portuguesa. Segundo o que apurei de várias fontes, foi a área de Bruxelas onde os primeiros contingentes de Portugueses que para aqui vieram assentaram arraiais, na década de 60, muito antes de outros virem para trabalhar nas instituições europeias. Ora, também segundo as minhas fontes bem informadas, a dita praça esteve em obras seis anos por conta dos ventos que dificultam os trabalhos, ainda por cima tratava-se não só de renovar a dita cuja, mas de de construir um parque subterrâneo, coisa ainda por fazer, e outras empreitadas que agora não interessam nada. O que interessa é que a dita cuja foi inaugurada há dias com fogo de artifício e tudo e no meio da praça, numa ampla zona pedestre, plantaram um enorme palco para concertos. E ontem dedicaram o dia à comunidade portuguesa, inauguraram uma rua em honra do Fernando Pessoa e concluíram a jornada com um concerto... da minha cantora favorita... talvez alguns adivinhem, vamos lá fazer um esforço... a Mafalda Arnauth! Foi eu saber que a pequena vinha cá actuar e decidir de imediato que tinha - TINHA - que ir assistir ao concerto, não que eu já não a tenha visto ao vivo duas vezes mas uma oportunidade assim não se perde. Calhou em sorte que dois colegas meus do trabalho gostam imenso de fado e até já foram ouvir a Mariza e a Cristina Branco e disseram logo que também queriam ir.
Pelo meio ainda temi não poder ir, porque nesta terra a palavra «verão» não tem o mesmo significado que em Português e choveu torrencialmente durante esta semana como se estivéssemos em pleno Inverno. E a chuva arrasta um frio outonal, que é do piorio, porque até podia chover mas não arrefecer ou então fazer frio mas não chover. Agora as duas coisas juntas numa altura destas do ano, não dá. Mas o São Pedro interveio na hora certa e a chuva parou a meio da tarde para só voltar ao fim da noite.
De modo que pés ao caminho na direcção da paragem de autocarro, porque o bom do autocarro vai directo para lá, mas qual quê, passa o horário e autocarro nada, passa o horário do seguinte e autocarro nem vê-lo. O que é estranho, porque os autocarros são daquelas coisas que aqui até funcionam bem. Às vezes têm a pouca sorte de ter paragem incerta: a paragem da minha praça já mudou de sítio três vezes em pouco mais de um mês, de maneira que nunca se sabe onde é que o autocarro vai parar exactamente, isto tudo por causa dos trabalhos, sempre os travaux. Que se calhar vão ser assim ao estilo da Place Flagey e também demorar não sei quantos anos, pois eles já puseram passeio de um lado e podia-se passar, depois cobriram o outro lado com terra e não se podia passar, agora é do lado de cá que há terra e já não se pode passar outra vez e, enfim, é quase preciso dar uma volta de 180 graus para ir a um sítio que está mesmo em frente a nós. Bruxelas parece um estaleiro. Voltando ao autocarro, lá estive eu à espera e em desespero meia hora até que dito chegasse, mas ao menos foi directo à tal praça e ainda eu estava a abeirar-me e já via bandeiras portuguesas por todo o lado.
Em menos de nada, encontro os meus amigos, que gostam de fado mas não são portugueses, e começa o concerto. A Mafalda Arnauth entra linda como sempre, com a voz única e a presença charmosa que tem e canta durante hora e meia, para contento dos Portugueses e não só que por ali se tinham juntado. Um verdadeiro encantamento, que é aliás o título de um dos seus discos. No entanto, o concerto foi muito diferente do que já tinha ouvido em Portugal: em vez de cantar os temas que ela própria escreve com poemas excepcionais, manteve o seu estilo tão próprio e tão autêntico, mas optou por fados mais conhecidos, estilo Povo Que Lavas no Rio mais a Casa da Mariquinhas, e foi para os encores com aquela marcha da Lisboa nasceu pertinho do céu em jeito de fado. Sem desprimor para este repertório, eu prefiro os fados dela, que fogem claramente ao estilo mais tradicional, mas acho que preferiu cantar aquilo que a generalidade das pessoas queriam ouvir e assim acertou em cheio. Ainda assim, não faltaram os Meus Lindos Olhos, Eu Vou (fabuloso), La Bohème (que ela canta em versão fado e foi o delírio porque esta toda a gente conhecia), Para Maria e Audácia, que pôs fim ao concerto e que os meus colegas adoraram. Durante todo o espectáculo, a pequena falou sempre em Português e em Francês com uma pronúncia impecável, de onde lhe virá? E sempre com aquela entrega e simultaneamente tranquilidade que só os grandes artistas conseguem. Memorável!
E como eu nunca quero que vos falte nada, mas mesmo nada, aqui fica um dos fados mais bonitos da Mafalda Arnauth, Meus Lindos Olhos. Quem não gostar... tem logo por baixo a Mamma Mia!
Até amanhã.

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