sexta-feira, 30 de julho de 2010

As plantas da Vanessa

Fui ontem jantar a casa da minha amiga Vanessa, a pretexto de aprender a regar as plantas dela enquanto estiver de férias. Há pessoas muito organizadas. Até ontem, eu julgava-me uma delas. Mas descobri que esta minha amiga excede qualquer noção de organização que eu tinha.
Voltei para casa com quatro folhas com um plano detalhado sobre como regar as plantas alheias e ter orgulho na tarefa: um calendário com os dias exactos em que tenho de lá ir, a quantidade de água a pôr nas plantas e o tipo de regador a utilizar. Isto porque há um pequeno regador branco, do qual bebem as plantas da varanda da frente, e um grande regador verde, do qual bebem as plantas das traseiras. Ah, sim, tenho a meu cargo duas varandas, mais a janela do quarto, mais as plantas da cozinha, que são família. Uma é filha da outra e a terceira chama-se Sophia, em homenagem à fabulosa Sophia Loren, pois vem de Nápoles tal como a diva. Além de todas estas, que tenho de regar três vezes durante a ausência da Vanessa, existe ainda a orquídea da sala, que tem de ser regada apenas uma vez durante o meu período de trabalho, mas com especiais cuidados, que incluem deixá-la a marinar na água durante dez minutos.
Dado que este é o meu período de estágio, a Vanessa telefonar-me-á nos dias da rega para saber como correu tão complexa tarefa. Espero estar à altura…

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Como despachar um mau cliente em cinco minutos (e sem que ele se aperceba)

A feira oficialmente chegou ao fim e eu estou mais derretido do que é possível imaginar. Trinta graus são muitos graus. E num local sem ar condicionado e com um tecto de vidro e seis projectores de halogéneo a incidirem na mona é o fim da picada. Acho que transpirei em locais onde não sabia que se transpirava. Neste tipo de ocasiões, os homens são sempre quem sofre mais, com as nossas gravatas e blazers e sapatos fechados. Deviam inventar um código de vestuário que banisse tudo isto e democratizasse o uso de sandálias (por que não mesmo havaianas?), pólos e calções - mas não daqueles curtinhos que se usam agora, porque eu já tenho idade para ter juízo.
Hoje uma colega entrou um pânico quando lhe apareceu um egípcio que começou a tocar-lhe no braço e a querer informações que ela não sabia dar. «Vai lá tu se quiseres, eu não volto a pôr os pés no stand enquanto aquele homem não sair de lá». Eu, como bom relações públicas, que sou, lá fui enfrentar a fera. Chego e dou de caras com um senhor com cinco vezes o meu tamanho, uma espécie de Fernando Mendes em versão escura, alapado numa cadeira no interior do stand como se fosse dele. Temos de tratar da situação. Os maus clientes devem-se despachar a alta velocidade por duas razões: fazem perder tempo à organização sem qualquer proveito e tendem a atrair outros clientes maus. Além de, geralmente, encherem os sacos de material que custa dinheiro e deve servir para veicular informação e não para distribuir aos netos. Assim sendo…
- Em que posso ajudar?
- A Lucy já me vem ajudar.
- Não sei se a Lucy vem, mas em que posso ajudar?
- Ela foi buscar uma coisa para mim, mas volta já concerteza. Deve estar aqui perto.
- Não faço ideia se ela volta nem onde ela está, mas de certeza que eu posso ajudá-lo. De que se trata?
- Quero plantar vegetais.
Pára tudo. Já atendi clientes que queriam comprar sofás mas a quererem plantar vegetais é a primeira vez...
- Mas não quero plantá-los na terra.
Ah não, então no ar?
- Quero plantá-los na água. Só na água… mas para isso preciso de máquinas. Muitas máquinas. Os meus vizinhos vão-me emprestar algumas, mas não chegam.
- Que interessante. Mas nós não somos nenhum fornecedor de máquinas para agricultura.
- Mas estão no Egipto.
- Lá isso estamos. Vou já procurar o contacto da organização que trabalha connosco e pode contactá-los directamente.
- Diga-me os nomes das pessoas.
Estás a abusar. Achas que eu sei quem é que trabalha no Egipto?!
- Os nomes das pessoas não constam no sítio web. Mas tem aqui a morada o número de telefone e o endereço web. Expõe o assunto e os colegas terão todo o gosto em ajudar, se puderem prestar assistência nessa área.
- Muito obrigado pela sua ajuda.
- Não tem de quê. Boa sorte para o projecto e um bom resto de seminário.
E pronto, o cliente foi despachado em cinco minutos. Cinco longos minutos debaixo dos seis projectores de halogéneo. Mas não foi o horror que a colega descreveu. O caminho ficou livre para eu ir buscar um café e para outros clientes serem atendidos. E o senhor até saiu contente e agradeceu.