sexta-feira, 2 de julho de 2010

Como despachar um mau cliente em cinco minutos (e sem que ele se aperceba)

A feira oficialmente chegou ao fim e eu estou mais derretido do que é possível imaginar. Trinta graus são muitos graus. E num local sem ar condicionado e com um tecto de vidro e seis projectores de halogéneo a incidirem na mona é o fim da picada. Acho que transpirei em locais onde não sabia que se transpirava. Neste tipo de ocasiões, os homens são sempre quem sofre mais, com as nossas gravatas e blazers e sapatos fechados. Deviam inventar um código de vestuário que banisse tudo isto e democratizasse o uso de sandálias (por que não mesmo havaianas?), pólos e calções - mas não daqueles curtinhos que se usam agora, porque eu já tenho idade para ter juízo.
Hoje uma colega entrou um pânico quando lhe apareceu um egípcio que começou a tocar-lhe no braço e a querer informações que ela não sabia dar. «Vai lá tu se quiseres, eu não volto a pôr os pés no stand enquanto aquele homem não sair de lá». Eu, como bom relações públicas, que sou, lá fui enfrentar a fera. Chego e dou de caras com um senhor com cinco vezes o meu tamanho, uma espécie de Fernando Mendes em versão escura, alapado numa cadeira no interior do stand como se fosse dele. Temos de tratar da situação. Os maus clientes devem-se despachar a alta velocidade por duas razões: fazem perder tempo à organização sem qualquer proveito e tendem a atrair outros clientes maus. Além de, geralmente, encherem os sacos de material que custa dinheiro e deve servir para veicular informação e não para distribuir aos netos. Assim sendo…
- Em que posso ajudar?
- A Lucy já me vem ajudar.
- Não sei se a Lucy vem, mas em que posso ajudar?
- Ela foi buscar uma coisa para mim, mas volta já concerteza. Deve estar aqui perto.
- Não faço ideia se ela volta nem onde ela está, mas de certeza que eu posso ajudá-lo. De que se trata?
- Quero plantar vegetais.
Pára tudo. Já atendi clientes que queriam comprar sofás mas a quererem plantar vegetais é a primeira vez...
- Mas não quero plantá-los na terra.
Ah não, então no ar?
- Quero plantá-los na água. Só na água… mas para isso preciso de máquinas. Muitas máquinas. Os meus vizinhos vão-me emprestar algumas, mas não chegam.
- Que interessante. Mas nós não somos nenhum fornecedor de máquinas para agricultura.
- Mas estão no Egipto.
- Lá isso estamos. Vou já procurar o contacto da organização que trabalha connosco e pode contactá-los directamente.
- Diga-me os nomes das pessoas.
Estás a abusar. Achas que eu sei quem é que trabalha no Egipto?!
- Os nomes das pessoas não constam no sítio web. Mas tem aqui a morada o número de telefone e o endereço web. Expõe o assunto e os colegas terão todo o gosto em ajudar, se puderem prestar assistência nessa área.
- Muito obrigado pela sua ajuda.
- Não tem de quê. Boa sorte para o projecto e um bom resto de seminário.
E pronto, o cliente foi despachado em cinco minutos. Cinco longos minutos debaixo dos seis projectores de halogéneo. Mas não foi o horror que a colega descreveu. O caminho ficou livre para eu ir buscar um café e para outros clientes serem atendidos. E o senhor até saiu contente e agradeceu.

3 comentários:

M disse...

Coitado do Egípcio! Parabéns ao RP, na realidade com papas e bolos se enganam os tolos. M

Betablogging disse...

És o máximo. Assim mesmo, não há nada como despachar alguém de uma forma muito diplomática. Eli

Anónimo disse...

O homem deve ser tão mandriam que nem quer regar o que semeia. Será que ele vai plantar coves coração? e ainda de oferece alguma e tu tratas como alface? Bjs