sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A primeira vez

Vivas, aplausos e urras! Não estou ainda em mim. Deixem-me sentar um bocadinho a ver se consigo digerir isto…
Pela primeira vez em dois anos e meio, perguntei uma coisa e a minha chefe soube responder. De imediato. Não foi preciso explicar que eu estava a falar daquele assunto chamado alhos que não tem nada a ver com bugalhos. Não foi preciso repetir três vezes de forma diferente. E saí desta pequena converseta com uma resposta. Pode lá ser? Esta é que me apanhou de surpresa. Não estou habituado. Sinto-me tão perplexo que vou ao fisioterapeuta ver se recupero a normalidade…


terça-feira, 19 de outubro de 2010

A austeridade quando nasce… é para alguns

Este facto de estar a 2 000 quilómetros de distância permite ter alguma distância em relação às coisas. Permite colocar as coisas em perspectiva, que é algo que os meus colegas dizem que eu faço muito bem. E este histerismo sobre o orçamento para 2011 dá-me muito que pensar. A vocês também?
Tenho acompanhado na imprensa online (abençoada Internet) os planos de austeridade do nosso primeiro, os cortes orçamentais e as reacções da oposição. Como sabem, adoro ler sobre estes temas económicos. Mas está-me outra vez a cheirar a esturro. Não sei por quê, parece que estou a ver novamente o filme da Grécia, mas desta feita os protagonista são diferentes. As vítimas, essas, são quase sempre as mesmas. Uma colega falava-me hoje de um livro que explica como, em situações de crise, os governos aproveitam para efectuar mudanças drásticas que noutra situação não poderiam efectuar. Amplificam a crise até não poderem mais, dão a situação como caótica e quase irremediável para depois darem remédios que vão dar cabo do paciente. Assustam-no com a chegada do FMI e a ingovernabilidade. É uma espécie de lavagem ao cérebro em grande escala. O livro chama-lhe “estado de choque”. O paciente, que somos todos nós, já está tão mentalizado de que não há saída que aceita tudo o que lhe querem fazer. Mais ou menos como Portugal.
Ora reflictam lá comigo. Já pensaram que, no meio de tanto corte orçamental, há gastos que não levam com a tesoura? 53 milhões de euros para consultoria são essenciais, diz o governo. Então a ordem não é para poupar? O TGV é para manter. Mas não faltava dinheiro? Não estou a entender nada. Para pagar um portal qualquer sobre o centenário da República esturraram-se quase 100 mil euros (fui verificar no sítio dos contratos públicos). Mais uma vez, para isto houve dinheiro. Na Hungria, que também quer equilibrar as finanças públicas, o número de deputados foi reduzido de 386 para 200. Em Portugal não. O subsídio para campanhas eleitorais em 2009 foi de nove milhões de euros (até dá vontade de escrever por extenso). Ainda não ouvi nenhum político propor reduções. Há assuntos que simplesmente nem entram na discussão.
Vocês que estão aí mais perto talvez achem que a oposição está a fazer barulho, mas eu cá acho que não está a fazer nada. O Passos Coelho faz-se de difícil mas está bom de ver que fará a vontade ao governo. Não acham um pouco estranho? Já repararam que, de todo este imbróglio orçamental e de todos os sacrifícios que se querem impor aos portugueses, há uma classe que sai a ganhar? Os políticos nunca são beliscados e saem da crise mais fortes do que antes. Sejam do governo, sejam da oposição. A sua legitimidade sai reforçada, porque em tempos de penúria endireitaram o país. Daqui a uns anos, talvez por alturas de eleições, serão os heróis que nos salvaram do buraco. Já não estão comprometidos pelos licenciamentos duvidosos nem têm oposição interna. Uma das vantagens da crise é que se fala tanto dela que ofusca qualquer outro assunto. Deixa o paciente em estado de choque, lá diz o outro. E enquanto ele está em estado de choque, fazem dele o que querem…
Pensem nisso…
PS – Não me esqueci de contar a visita às plantas, ficou prometida e chegará em breve…