quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A caneta






A última da nossa amiga:


Estimados colegas,
Por favor dêem-nos uma estimativa de quantas brochuras, pastas e outro material afim vão necessitar para as vossas reuniões até ao final do ano, para que possamos encomendar tudo ao mesmo tempo e para que tudo seja entregue a tempo. Obrigado.
V.


Estimada V.,
Eu no outro dia estava a passar à frente de uma montra e vi umas canetas muito engraçadas. Servem para fazer apresentações. São pequeninas, mas têm uma luz que se acende na ponta para apontar para o que está a ser projectado. Achei imensa graça e não são nada caras, de modo que comprei uma para o meu marido. Ele ficou muito contente e anda mesmo satisfeito com a caneta. Já a usou para varias apresentações. Achas que podemos comprar umas iguais?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A revelação

Hoje a nossa amiga desmiolada (aquela do envio das imagens) revelou-se uma verdadeira joia. Ora vejam lá o que ela me disse.
Surgiu esta revelação a propósito da discussão dos objetivos para o ano corrente, que, ao contrário do que aconselha a boa organização, se faz no próprio ano me vez de no ano anterior. É sempre assim, todos os anos lá para o mês de fevereiro, mais coisa menos coisa, se discutem os objetivos do anoque já começou há dois meses. Adiante…
Estava tudo a correr bem e nós os dois ali numa bela converseta quando ela fala na avaliação que vai transmitir à radioativa, que é a que atribui as classificações, embora não seja ela que coordena o meu trabalho. Aliás, coordenar propriamente nenhuma das duas o fez durante três anos e meio, até a desmiolada voltar da sua segunda baixa cheia de motivação e vontade de trabalhar, como se lhe tivessem implantando o bom senso no cérebro durante a dita ausência. Adiante…
Ela a dizer que vai transmitir uma boa avaliação à generala e eu, olha boa só não, muito boa, para ela me dar a promoção que me ficou a dever no ano passado. Promoveu todos os da equipa que entraram ao mesmo tempo menos eu. Uma porque era a favorita do chefe e outra porque vai para lá com as conversas do marido e das casas e do chichi das crianças. E ela adora aquela conversa de café, que a mim não me interessa nada e aos chefes com princípios também não interessa quando avaliam o pessoal. Dada a sua ausência implantológica, a desmiolada não sabia de nada e ficou estupefacta quando lhe contei. Solidarizou-se logo com a minha indignação, como quase todos, acha que a transparência é palavra inexistente no dicionário da organização e o compadrio é a primeira entrada. Mas isso agora não interessa nada, pois a epifania deu-se a seguir.
E diz-me assim: Eu acho que, se queres realmente a promoção, este ano deves bater o pé até ta darem. E se for preciso discutir com quem quer que seja, força. Eu cá não quero saber disso para nada, porque já sei como esta gente funciona, mas compreendo que tu queiras e acho que o deves fazer. Mas fá-lo como se fosse um jogo. Se te derem, muito bem. E se não, não fiques nem triste nem frustrado. Porque tu és uma pessoa de muito valor e o mais importante não é que eles te deem valor, porque já sabemos que eles só dão valor a quem os engraxa ou vem recomendado. O mais importante é dares valor a ti próprio, porque és um ótimo profissional e fazes as coisas sempre com empenho, dedicação e profissionalismo. Independentemente das classificações deles, és uma pessoa de valor e deves ter consciência e estar seguro do teu valor. Eu admiro-te e já te vou dizer porquê. Eu nem sabia de nada disso e fiquei muito impressionada quando voltei, porque tu estavas com o teu entusiasmo de sempre, a fazer tudo com imenso empenho. E agora que sei de tudo isto, mais te admiro, porque nunca deixaste transparecer nenhuma frustração, nem desmotivação, nem nunca o teu trabalho foi pior, apesar de te terem tratado injustamente.
E com isto me vou, pois fiquei sem palavras. Depois das berrarias que eu e os colegas aturámos antes durante dois anos, mais depressa esperava que esta mulher me empurrasse para um poço do que me dissesse isto. Bem hajas por me fazeres sentir bem. Se isto não é uma revelação, então o que será?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Quem vai acordar o falador?




Hoje o mundo dedicou-se a um jogo muito original chamado “Quem vai acordar o falador?”.
Detesto acordar cedo. Como dizia uma professora minha da faculdade, até determinada hora da manhã, ainda não é de manhã cedo, é de noite tarde. Mas há quem discorde e há mesmo quem funcione a todo o gás a horas em que nem o sol ainda acordou. E se o sol que é fonte de vida ainda não se ergueu, porque havemos nós de andar levantados?
Toda esta problemática foi devidamente aproveitada por Bruxelas para lançar o jogo “Quem vai acordar o falador?”, cuja primeira (e esperemos que última) edição decorreu esta manhã na minha casa. O papel deste vosso amigo falador era o do peão, aquela peça que é manipulada durante o jogo e cuja tranquilidade vai sendo perturbada à medida que o jogo avança. Assim sendo, não me restou outra alternativa senão levantar-me à hora a que o despertador tocou, e não de meia hora depois como é hábito. Como acordo esfomeado, a minha primeira paragem é sempre a cozinha. Aliás, primeiro acendo o aquecimento, depois ligo o rádio e depois vou para a cozinha. Mas hoje não. Hoje fui diretamente para o duche, o que vale é que, por causa dos sete graus negativos da noite de ontem, deixei o aquecimento ligado e a casa de banho estava habitável. Vinte minutos depois, eu já estava lavado, vestido e a tirar a roupa do estendal, quando entra em cena a primeira jogadora: a empregada. Que vem sempre à hora de almoço, mas agora mudou temporariamente para a manhã.
- Olá bom dia.
Só se for para si, que para mim ainda nem sequer é dia, é noite tarde.
Eis que entretanto o circo fica completo com a chegada do segundo jogador: o homem que vem limpar a caldeira. E não é um, são dois. Desmontam, inspecionam, saem para ir buscar peças ao carro, entram, mexem, cortam a água, saem outra vez para ir buscar mais peças, entra vento, a casa arrefece, eu arrefeço, a empregada não pode limpar porque não pode usar água, nem pode passar para o quarto. A minha casa está transformada num estaleiro, mas eu, que apesar de mal acordado estou otimista, vou aproveitar o tempo para arranjar o jantar. A E. veio cá jantar hoje. Vou arranjar a salada… não, afinal não arranjo a salada, porque a toalha está no lava-louças mergulhada numa barrela de sabão. Entretanto acaba o detergente do chão e não há mais. Ora bem, vou aproveitar para ir ao supermercado comprar. Mas não, afinal não posso ir, os homens já estão quase a terminar a limpeza da caldeira e tenho de lhes pagar. Nesta altura, ambos os jogadores estão a ganhar, acordaram o falador e já lhe deram conta da paciência. Mas falta o terceiro jogador: a meteorologia. A meteorologia é que vai dar conta de mim. Estão quatro graus negativos. Até domingo, a máxima é de – precisamente – quatro graus negativos. Máxima, leram bem. Lá saio de casa enrolado num cachecol, como uma mulher árabe em versão europeia e com os óculos embaciados.
 Esta noite, dizem, será a mais fria dos últimos tempos. Se amanhã der notícias, é porque não saí à rua. Se não der notícias, é porque saí. Nesse caso, alguém faça o favor de me vir tirar do congelador e me enfiar no micro-ondas para descongelar. Obrigado.