quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O frasco do soro

… não fosse faltar o rolo da carne. Leram bem, sim, não é preciso voltar atrás. Provavelmente nem todos apreciam, mas rolo de carne é um prato óptimo porque, além de ser apetitoso, é facílimo de cozinhar, põe-se no forno e já está. O que daria um jeitão enorme aqui, dado que a minha cozinha não tem exaustor nem chaminé nem nada dessa família e, assim sendo, os cheiros não saem a não ser que se cozinhe de janela aberta. O que numa terra onde sistematicamente está frio – disso já há e muito, para dar e vender –, não é grande opção. Por isso, o forno rapidamente se tornou num dos meus melhores amigos e, até prova em contrário, tudo o que se lá cozinhe é bom. Mas rolo de carne, que também é bom, viste-o. Nem no talho, nem no supermercado nem em parte alguma. Acresce que eu não sabia como lhe chamar em Francês, por isso mesmo que quisesse pedir não chegaria lá. Pelo que resolvi novamente pedir ajuda às minhas prestáveis colegas, que cozinham habitualmente e, assim sendo, saberiam ajudar-me. Porém, desta vez o resultado foi diferente. O desastre começou por eu insistir que «rolo de carne» se dizia em Inglês «meat roll», ao que a minha colega irlandesa, a protagonista da história da boda, me responde: «É assim: por mais que eu te queira ajudar, não consigo, porque eu nem sequer percebo do que é que estás a falar!». Seguiram-se explicações, desenhos, descrições, mas nada. A páginas tantas, fiz uma pesquisa aturada na Internet, da qual resultou não só uma fotografia como também a certeza de que, efectivamente, o termo inglês é «meat roll». Aliás, uma das versões mais conhecidas é o rolo de carne à americana, que é recheado com legumes. Contudo, mesmo com a fotografia na frente, multiplicaram-se as hesitações: «Talvez “pan de viande”… não, espera, tenta antes “roulet de viande”… Ou melhor, “roulade de viande”, talvez assim. Pede no talho.» Mas… «sinceramente, nunca vi tal coisa à venda, duvido que encontres». Duvidava mas estava certa, não encontrei.
O que me consola é saber que não sou o único a sentir a falta de coisas tão básicas. No outro dia, estava a falar com uma amiga italiana que conheci cá e que me perguntava se em Portugal se vendiam aquelas bolinhas de cheiro para matar as traças. «Olha, claro que sim». «Pois, em Itália também. Aqui não.» Aqui não?? Como assim? «Sim, eu já corri tudo, até já procurei em lojas de limpeza a seco e não vendem. Dizem que faz mal à saúde e por isso não vendem.» «Mas estás a falar de uns pacotes que se põem nos roupeiros?» «Pois, esses mesmo!». Adiante…
Agora pergunta-me vocês: e o frasco do soro do título, que é que tem a ver com isto? Tudo! Todos os meus amigos que usam lentes de contacto, e não são assim tão poucos, sabem que depois de tirar as lentes se deve colocar soro para os olhos não ficarem secos. Ocorre que, há poucos dias, me dei conta de que o meu frasquinho estava na iminência de ultrapassar o prazo de validade. Lixo com ele e compra-se outro, pensei eu. Fui ao supermercado – onde como já perceberam são mais as coisas que faltam do que as que existem - e nada. Vou a outro. Idem. Pronto, desisto, vou à farmácia e acaba-se já com isto. Mas aí é que a porca torce o rabo. Lá pedi soro no meu melhor Francês, mas o senhor pergunta de imediato: «Para pôr nos olhos? Soro?» «Pois, eu uso lentes de contacto e quando as tiro ponho um bocado de soro». «Não é no nariz?», pergunta-me ele muito alarmado. «Pode ser, cada um põe onde quer, mas eu preciso dele para pôr nos olhos.» Dito isto, apresenta-me um frasco de vidro aparentado aos do álcool. «Não, não é isto, isto não dá para pôr nos olhos.» Entretanto, a conversa passou para Inglês, que já era disparate a mais para o meu fraco Francês aguentar. «É isto mas num frasco daqueles que deitam gotas.» «Ah, uma solução para os olhos… lágrimas artificiais!» «Não, não são lágrimas artificiais, se eu quisesse lágrimas artificiais, tinha-as pedido. O que eu quero é um frasco com soro fisiológico». Qual é a palavra que não percebeste? É preciso eu soletrar? «Só se quiser esta solução». «Mas isso faz o mesmo?», pergunto eu quase em desepero. «Claro, e pode pôr com ou sem lentes!» Ora que extraordinário! Mas nesta altura eu já estou por tudo. «Pronto, eu levo a solução». «São 9 euros e meio». São o quê?? Enlouqueceu? Ou está-me a querer enlouquecer a mim? Nove euros por um frasco que na minha terra nem um euro custa? «Se calhar não percebeu o que eu quero. É que em Portugal o soro vende-se nuns frascos pequenos e custa menos de um euro, está a ver?» Provavelmente não. Deve ter lentes de contacto e estão embaciadas. «Ah, já ouvi dizer que noutros países é muito barato, mas aqui não temos. Só se quiser a solução». Ó meu amigo, eu quero um frasco de soro fisiológico, não uma barragem no deserto do Sahara! Será que é pedir muito? Chegado a este ponto, não aguentei mais. A insanidade era demasiada para a minha pobre cabeça. Paguei os nove euros e meio e bazei. Quando saí, foi com alguma dúvida que olhei em redor. Depois acalmei-me… afinal ainda estava na Europa.
E com estas aventuras me despeço por este ano. A Força do Destino deseja a todos os leitores um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Marcamos encontro em 2009! Onde quer que o destino vos leve no novo ano… façam o favor de visitar o meu blogue!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A aldeia da roupa branca

A Força do Destino já entrou em pleno na quadra festiva e toda ela se encheu de espírito natalício. Ao vosso lado esquerdo, a estupenda Mariah Carey canta uma melodia que eu dedico a todos os amigos leitores deste blogue: «All I Want for Christmas Is You». Logo por baixo, podem cantar com o Frank Sinatra o «Let It Snow», uma canção que não poderia ser mais apropriada para a ocasião, dado que me encontro ainda nesta cidade onde efectivamente neva a sério. E para acompanhar esta banda já tão animada, resolvi convidar o Michael Bolton para cantar o «White Christmas». Querem lá ver que ele aceitou mesmo e está em directo na Força do Destino? É que eu não quero mesmo que vos falte nada, por isso há mais…
Mas isso verão daqui a pouco. Entretanto, aproveito para vos contar mais umas cenas maradas destas que só acontecem na Bélgica, presumo que… não apenas comigo! Como certamente já se deram conta através de mensagens anteriores, muitas coisas aqui pura e simplesmente não existem. É o caso do centro comercial, de que já vos contei. Ou dos multibancos, como também já partilhei convosco. Parece muito? Desenganem-se! Exclusivamente para esta mensagem, eu compilei todo um rol de coisas absolutamente fundamentais que, pela minha experiência e pelos relatos de amigos, descobri que não há.
Calhou um destes dias aperceber-me de que alguns panos da louça estão a ficar encardidos. Não sei se estão bem a ver a coisa, sobretudo os meus amigos que não têm de lavar roupa. Eu explico: ocorre que por mais que se lave os ditos, eles estão sempre escurecidos. E o que se faz nesta situação? Põe-se os panos de molho em lixívia, verdade? Ocorre que eles são coloridos. Resolve-se já: põe-se em lixívia gentil, mais conhecida pela marca que a introduziu em Portugal e que aqui não refiro a menos que paguem! Até aqui estamos entendidos. O problema surge quando este vosso amigo procura a dita cuja no supermercado e não dá com ela. Vai a outro e depara-se-lhe o mesmo cenário. Vai a um terceiro e é a mesma cena. Posto isto, resolve esclarecer a questão com duas colegas habituadas à vida na Bélgica: «Queres o quê? Para pôr na roupa? Assim de repente, não estou a ver…» nem de repente nem com vagar, porque a tal lixívia aqui não existe… Felizmente, uma das ditas colegas pôs termo ao problema de imediato: «O meu marido trabalha numa empresa de detergentes e sempre que os miúdos sujam alguma coisa, é ele que me diz que detergente devo usar. Vou-lhe perguntar.». Dito e feito. Dois dias depois, estava-me a trazer um pacote de pó branco que lá remediou o caso.
Falando de roupa, que é daquelas coisas inevitáveis como os impostos, há outro artigo particularmente útil quando se trata de lavar roupa na máquina. Isto aplica-se particularmente aos homens, porque geralmente deixamos os colarinhos das camisas claras um bocadinho escuros. Nesses casos – este blogue agora está-se a tornar uma espécie de revista «Maria» –, borrifa-se a camisa com spray, enfia-se na máquina e ficamos todos felizes e contentes. Mas não aqui. Obviamente cá não se vende spray para tal efeito, o máximo que se arranja é a Wipp, um tubo com esponja na ponta que se esfrega abundantemente em colarinhos e afins e – este sim – faz as mesmas vezes do outro. Assim sendo, estaria tudo bem novamente não fosse faltar… continamos na próxima mensagem!
Entretanto, deixo-vos um pequeno filme com as decorações de Natal em Bruxelas. O filme é de produção doméstica, como imaginam, mas as decorações são particularmente bonitas. Toda a cidade está enfeitada. Nem a minha zona escapou!