quarta-feira, 30 de junho de 2010

Feira tropical

Estou numa feira onde se espera a nata dos políticos e empresários europeus. Ao todo, os organizadores previam cerca de três mil visitantes. Mas até ao momento, o o convidado mais assíduo tem sido o calor. Estão 30 graus lá fora e devem estar 50 ca dentro. O tecto é de vidro e não há ar condicionado. Pode uma coisa destas? Este vosso amigo pôs-se todo lindo e maravilhoso para falar com os participantes, mas nem sequer o blazer aguenta. Além disso, alguem que tomou o pequeno-almoço antes das sete da manhã está obviamente, necessitado de uma coisa muito siples: comida. Pois acontece que aqui ainda é pior do que no sítio onde trabalho. Lá, as refeições de trabalho só podem ser sandes. Tudo o resto é muito caro. Aqui o coffee break só tem bolachas, ainda por cima pequeninas que nao cabem na cova de um dente. E, como se não bastasse, amargas como o rabo do gato. Para cúmulo, tenho de escrever esta mensagem num teclado francês que tem o A onde devia ter o Q. Acham bem? Eu não...

terça-feira, 29 de junho de 2010

A sabotagem

Estou em crer, aqui só entre nós, que o meu vizinho de cima anda a sabotar a minha organização doméstica...
Acham normal que ao fim de um dia de sol tropical a roupa que eu estendi no dia anterior esteja húmida?? A mesma roupa que, por acaso, até já estava seca de manhã, mas que eu  não tive tempo de tirar da corda? Cheira-me aqui a sabotagem... Já suspeitei do vizinho do lado que rega o jardim todas as noites com uma mangueira que acorda um morto. Mas, dado que o dito cujo habita no rés-do-chão e eu no segundo andar, achei que talvez fosse improvável a água subir até aqui. Por mais potente que seja a mangueira do senhor, ou melhor, a mangueira do jardim do senhor. Dos vizinhos de baixo não suspeito, pois anteontem fui eu que pinguei para o terraço deles. E precisamente no instante em que o vizinho se tinha refastelado numa espreguiçadeira, todo ele em pose de descanso. Com a barriga a bronzear mesmo debaixo da goteira da minha varanda. É o que dá ter uma máquina de lavar que entrou em greve e decidiu não centrifugar. Esta cena dos electrodomésticos com atitude irrita-me. Estão a precisar de saber quem manda aqui. Eles e o malandro que me anda a molhar a roupa...
Quem também precisa de uma lição é o Blogger, este sítio web que gentilmente me acolhe, porque tem um corrector ortográfico que não reconhece «electrodomésticos» nem «espreguiçadeira». Duas coisas tão úteis e ele não sabe o que são...

domingo, 27 de junho de 2010

A importância dos pequenos gestos

Já todos recebemos vezes sem conta aqueles emails da treta com ensinamentos orientais, correntes que andam a circular desde antes de a Internet existir e apresentações que devemos reenviar aos verdadeiros amigos, mesmo que as tenhamos recebido de um ilustre desconhecido que não nos lembramos de alguma vez ter visto.
Mas a verdade é que os pequenos gestos são realmente importantes. Podem mudar o dia de uma pessoa. E transformar a má disposição em boas energias. Vou-vos contar o que me aconteceu.
Há uns dias atrás, cheguei a casa com vontade de torcer o pescoço a quem se atravessasse no meu caminho e cheio de dores em todos os músculos que tinha acabado de exercitar no ginásio, mais naqueles que não tinha exercitado mas que quiseram doer em solidariedade. Puxo das chaves para abrir a porta e qual não é o meu espanto quando vejo um pacote de Portugal na soleira da porta. A minha querida Maggy tinha-me feito uma surpresa, desta eu já sabia, mas os correios fizeram-lhe outra e despacharam a encomenda mais cedo do que o previsto. Como gosto de guardar o melhor para o fim, reservei o pacote para quando sentasse o rabo no meu sofá castanho, devidamente banhado e jantado. Foi com enorme alegria que descobri uma moldura com duas fotografias (sim, duas, porque a Maggy não é mulher de fazer as coisas em ponto pequeno) de um memorável jantar com todo o meu grupo de amigas da pós-graduação. Fiquei sem palavras. Ao fim de um dia em que não devia ter saído da cama receber um presente já é extraordinário. Mas compreender que alguém pensou especialmente em nós, se deu ao trabalho de ir revelar a fotografia à Worten, escolheu uma moldura e enviou-a pelo correio para um dos fotografados é demais. Esqueci-me imediatamente do que tinha corrido menos bem nesse dia, aliás também me esqueci do que tinha corrido bem e de tudo o que tinha feito até àquele momento. Porque a felicidade que tomou conta de mim foi maior do que tudo o resto. Maggy, não sabes o bem que me fizeste. São assim os amigos. E eu sou uma pessoa de sorte por ter tantos e tão bons.
Beijinhos e boa semana!

Como preparar um jantar para dois em 15 minutos

A minha Mãe costuma dizer que sou um bocado lento. Não tenho reflexos rápidos, é verdade. No outro dia, até o monitor do ginásio me dizia: «O seu corpo é um bocado lento, tem de lhe imprimir mais ritmo». Mas hoje surpreendi-me com a minha própria rapidez.
Acaba de sair de minha casa uma amiga que veio para jantar. O dito estava marcado para as 20h00. Às 18h25, depois de comprar um bronzeador para os banhos de sol de amanhã, entro no Carrefour. Às 18h45, termino as compras e junto-me à fila da caixa. Nada estava preparado. Dez pessoas à minha frente. Às 19h00, continuo na fila e até ainda estou no mesmo sítio. Às 19h20, decido enviar uma mensagem à minha amiga: «Podes vir às 20h30, que eu estou um bocado atrasado?» «Ok». Finalmente, às 19h30, este vosso amigo paga as compras e acarta com as ditas cujas para casa. Escusam de perguntar se é preciso 45 minutos para atender dez pessoas. Se alguma vez entraram num Carrefour em Portugal – todos padecem da mesma doença – sei que me compreendem.
Às 20h00 em ponto, a mesa está posta, o jantar pronto e eu até já estou vestido. Menu: tâmaras com bacon, macarrão com queijo e fiambre e gelado. Até tive tempo de pôr uns salgadinhos na mesa de centro. E perguntam vocês: «Mas como???»
É simples. O meu professor de marketing da faculdade dizia que a melhor maneira de obter uma coisa não era fazê-la. Era roubá-la. A segunda melhor maneira de a obter era comprá-la. E só não podendo escolher nenhuma destas alternativas se fazia. Eu comprei. Aprendam para o vosso próximo jantar. Comprem o macarrão já pronto, coloquem num pirex bonito e acendam o forno quando os convidados tocarem à porta. Mesmo que tenham cozinhado a massa no micro-ondas, essa prestimosa máquina a que ninguém dá valor, finjam que aquecem no forno, que não tem grande préstimo, leva horas a aquecer e gasta luz que se farta, mas toda a gente acha mais saudável. Mesmo os que não sabem ligá-lo. Enquanto a massa cozinha, retiram o caroço das tâmaras as tâmaras - bem sei que em Portugal se vendem tâmaras desencaroçadas, mas aqui no século XIX ainda não. Tiram a massa do micro-ondas, enfiam lá as tâmaras e aproveitam este intervalo para pôr a mesa, ligar a música e abrir o vinho. E vestirem-se, caso sejam como eu e tenham feito tudo o resto em roupa interior para gáudio da vizinhança. Às 20h00, a minha convidada manda uma mensagem avisando que está atrasada. Bom, vou aproveitar para estender roupa. Às 20h30, está perdida. Assim sendo, vou pôr mais roupa na máquina e fazer uns telefonemas. Às 21h00 aterra finalmente à minha porta e eu pergunto a mim mesmo para que é que andei a correr feito tresloucado sem necessidade. Mas o resultado não deixa dúvidas: «Este macarrão está óptimo! Que bem que cozinhas!!!»…