A minha colega e amiga acaba de ser promovida. Devia ter razões para ficar feliz. Eu, pelo menos, fiquei feliz por ela. Ela merece. Há muito que merece. Mas ela:
- Devia-me ir embora daqui.
- Estou farta deste ambiente de trabalho.
- Estou muito cansada.
- Estou mesmo de rastos.
- Não aguento mais.
- Ah… e desculpa estar-me a queixar o tempo todo…
Quer dizer, ela de facto trabalha imenso, uma parte porque a obrigam e outra porque quer. Porque leva tudo a sério. Demasiado a sério. Mas isso não é problema meu, pois não? Então porque estou eu convocado para esta reunião de queixas que não me diz respeito? Porque estou eu a dar ouvidos ao queixume alheio? Eu, que até tinha direito a queixar-me, pois fiquei a ver navios no Alto de Santa Catarina. Aliás, fiquei a ver ser promovida a colega que, ao fim de três anos e meio, trabalhou apenas meio ano a tempo inteiro. Que também é minha amiga, por isso lá fiquei contente por ela e triste por mim, tudo ao mesmo tempo. Já para não falar da outra que também foi promovida, que começou a trabalhar depois de mim mas, como é favorita do chefe, tornou-se na estrela do serviço.
Devia ser proibido as pessoas queixarem-se. Pelo menos a outros que também tenham razão de queixa. Não será uma falta de respeito?
Às vezes acho que preciso de me afastar de alguns amigos. Que até são uns porreiros. Estou como aqueles homens que arranjam uma amante e precisam de dar um tempo. Ou um espaço. Acham que com os amigos também se pode fazer o mesmo? Eu gosto muito delas, mas maçam-me. E eu de maçadas não gosto nada. Só mesmo de massadas, daquelas com gambas…