terça-feira, 24 de março de 2009

Vamos acordar...

Diz o ditado que deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer. Quando eu era criança, a minha Mãe obrigava-me a ir para a cama às oito e meia, aquela hora em que todos os miúdos da minha geração queriam tudo menos cama. Quando cresci, continuei a ter de me deitar cedo porque acordava às seis da manhã para demorar uma hora e tal a chegar à escola que começava espartanamente às oito da manhã. A páginas tantas, deixei de me deitar a horas e continuei a levantar-me cedo, com excepção dos fins-de-semana em que o despertador não manda e, como tal, só se acorda quando o corpo dá ordem. Pese a tudo isto, o crescimento foi o que vocês conhecem e, a esta altura do campeonato, já só se cresce para os lados.
De modo que nunca consegui compreender o dito cujo ditado. Eu sempre tive péssima relação com esta cena do acordar. Ter um despertador é uma maçada mas ter de ter um despertador porque de outra maneira não se acorda é uma maçada ainda maior. Eu agora tenho dois despertadores: o de carreira, que veio de Lisboa, e o substituto ocasional, que é o telemóvel. Tal como a generalidade das pessoas, cada vez tenho mais dificuldades em levantar-me cedo, de tal forma que dei comigo a matutar no assunto. Cheguei à conclusão de que se a cabeça não der ordem não há despertador que faça o corpo levantar-se. Como habitualmente, hoje acordei com o zumbido imparável do despertador permanente às oito da manhã. Olhei para ele, ele olhou para mim, estiquei o braço, combinámos que o desligava e a coisa ficou por aí. Mas o temporário, que anda a ver se apanha o lugar do outro e deixa de trabalhar a recibos verdes, não perdoou e vai de tocar também. Nesta altura, já não foi suficiente esticar o braço. Tive de me soerguer, destapar-me neste frio matinal de Bruxelas e sossegar o animal. Posto isto, dei mais uma volta na cama, adormeci novamente, mas de repente, no meio do torpor generalizado, uma lâmpada acendeu-se na minha cabeça: o despertador permanente já tocou, o substituto também, por isso já não há mais nada que possa tocar nesta casa… o que talvez me faça falta é um certo despertador de que me falou uma amiga esta fim-de-semana. Consta que o dito (que eu nem para substituto quero!) tem um helicóptero incorporado que, à hora marcada, levanta voo pelo quarto e só aterra quando a pessoa se levanta e o devolve à mesa-de-cabeceira. Pressupõe-se que neste entretanto a vítima de tão perturbadora invenção já esteja fresca que nem uma alface…
Meus amigos, se se revêem nesta mensagem, então é porque o ditado não tem nada a ver convosco! Tudo o que nos arranque da cama sem o corpo pedir é anti-natural. Estamos todos na onda das Doce… não se lembram? Vamos acordar e ficar a ouvir, a rádio no ar, a chuva a cair…

quinta-feira, 19 de março de 2009

A família Parraia

Conhecem a família Parraia? Não? Mas eu conheço! A família Parraia é uma das vítimas dessa eminência parda que é a RTP Internacional. Dêem-se por felizes e contentes por terem os dois canais normais, a TVI e a SIC – porque se tivessem apenas um único canal a falar Português, já estariam altamente familiarizados com os tesourinhos deprimentes que a dita cuja apresenta como se fossem coisas de espantar.
Calhou um destes dias eu ter a televisão ligada na altura em que o programa da ecologia foi para o ar. E foi mesmo uma pontaria desastrada a minha, porque, tanto quanto me apercebi, o dito cujo vai para o ar quando calha. Ora vamos lá a explicar o que é que vocês andam todos a perder…
O programa da ecologia consiste em acompanhar uma família e inspeccionar ao mínimo pormenor os seus pecados ecológicos. A estrela é uma apresentadora de exageradas convicções ecológicas, ao estilo não tomo banho para não gastar água. No dia em que vi o programa, coube à família Parraia fazer de palhaço de serviço. Tudo quanto a família Parria faz está mal feito, porque tudo implica prejudicar o nosso ambiente. E por isso deve ser objecto de repúdio colectivo. «Vocês estão a ver o lixo que fazem, estão???» pergunta a apresentadora implacável enquanto despeja dois sacos do lixo gigantes sobre uma mesa. «Sim!! Este é o vosso lixo!!!» Neste momento, a família Parraia começa a baixar os olhos de vergonha. Entretanto, a apresentadora conclui que, além de todos os outros crimes ecológicos, a família Parraia come carne a mais. E vêm de lá dois baldes de lavar o chão cheios de carne picada crua, que prontamente são despejados na mesa perante o olhar estupefacto da família Parraia. Agora a apresentadora já não aguenta mais e malha neles como o ministro Santos Silva na oposição: «Ó família Parraia, ó família Parraia, ó família Parraia, ó família Parraia!!!» Depois de repetir esta litania quatro vezes, a família Parraia estão tão transida de vergonha que já nem abre a boca. Só que a humilhação ainda não é suficiente. Afinal a família Parraia faz imenso lixo, come carne a mais, em suma merece punição. E em público, já agora. Assim sendo, a nossa amiga apresentadora pega na eco-calculadora e determina a pegada ecológica. Evidentemente, a família Parraia tem uma pegada monstruosa e larga lastro por todo o lado. Como castigo, a apresentadora passa diante de cada membro da família e pespega-lhe uma bola azul em cima da cabeça. Neste momento, a família Parraia está de todo, afundada na vergonha. Triunfalmente, a apresentadora decide pôr fim ao programa. E assim se ensina o povo a cuidar do ambiente…

terça-feira, 17 de março de 2009

O jejum

Comecemos pela primeira razão que me impediu de aqui escrever nos últimos tempos. Estava eu posto em sossego no ginásio quando o meu estômago se começou a queixar de dores que não desapareciam nem por nada. É como se tivesse levado um murro mas o punho invisível que dava o murro continuava a empurrar o estômago para dentro. Isto deve ser da ginástica, vou bazar daqui, janto e já passa. Mas não passou. No dia seguinte a mesma cena. Todo o dia. Ao terceiro dia, já em estado de semi-desespero, resolvi ir às urgências. E agora é que a coisa começa a aquecer.
A malta já não está bem, mas mal entra no hospital fica logo pior. A primeira coisa que fazem aqui quando entramos no consultório é tirar sangue para análises. Coisa que já de si me pôs imediatamente mal disposto, enervadíssimo e à beira de um ataque de loucura. Então a malta vai ao médico urgência à espera que nos curem e, pimba, dá cá o braço e vai de tirar o sangue? Assim sem mais nem menos?? Ainda por cima, não é tirar em sangue em quantidades normais, como quando fazemos análises regulares. É como tirar sangue para dar, uma pessoa está ali prostrada na marquesa e a enfermeira nunca mais pára. Graças a Deus, lá parou o procedimento e eu lá fiquei à espera dos resultados. Uma hora, hora e meia, duas horas, eu já a morrer de forme e resultados nada. Sim, porque a dor de estômago tirou-me energia mas não me tirou a fome, de modo que decidi ir à cafetaria. «Não, o senhor não pode comer. Até ter os resultados, vous devez rester en jeûne.», diz-me um enfermeiro. «Quê? Olhe, eu vou ali comer que estou cheio de fome e já cá volto». «Não, não pode, tem de estar en jeûne.» «Tenho de estar em quê?» Não estou a perceber nada e também não estou para grandes esforços porque a fome fala mais alto, mas o enfermeiro está irredutível. «Não pode comer, percebeu??!! Até ter os resultados não pode comer!!» Hã?? Não posso comer??? Quer dizer, tiram-me uma litrada de sangue, fazem-me esperar duas horas e ainda me obrigam a estar em jejum?? Jejum!! Ora é mesmo isso que o homem queria dizer com “en jeûne”. Agora sim, sinto-me muito mais esclarecido, esfomeado mas esclarecido. Se isto não tiver servido para mais nada, ao menos serviu para enriquecer o meu vocabulário.
Entretanto, o médico deve ter pressentido o meu estado e chamou-me. «Desculpe a demora, tivemos um problema informático.» Que animador… «As análises não indicam nada, parece estar tudo bem». Ah sim? Então por que é que me dói? Querem lá ver que me andaram a tirar sangue para o boneco? «Não lhe sei dizer exactamente o que será.» Está a gozar comigo? Então se não sabe exactamente, diga-me mais ou menos, a esta altura do campeonato já estou por tudo. «Deve ser uma ligeira gastrite, vai tomar este medicamente e se não passar vai ao especialista…» Assim terminou a consulta, pelo que me dirigi à recepção para pagar. «Tome conta de si», dizem-me de imediato. «Muito obrigado. E quanto devo?». «As melhoras», respondem. Simpático. «Obrigado, mas… não tenho de pagar?» «Nós depois enviamos a conta para casa». Ah é? Assim já estou a gostar, imaginem que mudo de casa e não dou cavaco…

domingo, 15 de março de 2009

Uma força inovadora

A pedido de várias famílias, cá estou de volta à Força do Destino, agora que recuperei plenamente as minhas energias. Como este é o Ano Europeu da Criatividade e Inovação, a Força do Destino está plenamente solidária com tão extraordinária iniciativa e toda ela é inovação, graças às maravilhas que os programas de design gráfico nos permitem fazer. Espero que as mudanças tenham sido do agrado de todos! Confesso que estou mesmo a pensar registar o novo look do blogue no programa oficial do dito Ano Europeu e transformar a Força do Destino num exemplo prático de como a Europa está na vanguarda da blogosfera. Como dizem aqui a propósito de tudo e de nada, é uma “best practice”. Modéstia à parte…
E porque a Força do Destino é um blogue atento aos seus leitores, as recomendações da Peg serão inteiramente tidas em conta: abaixo os textos longos e vivam as mensagens resumidas! O tempo é um recurso escasso e a Força do Destino é um blogue do seu tempo, consciente da necessidade de ser eficiente. Na realidade, a Força do Destino está em todas: inovação, eficiência e informação em tempo real! Aprendi com a minha querida amiga Carol, do blogue Laurear a Pevide, que se podem enviar alertas por e-mail de cada vez que escrevemos novos posts. De modo que a Força do Destino vos manterá ao corrente de todas as novas aventuras deste vosso amigo expatriado. Vamos já experimentar a ver se funciona…
Beijinhos, abraços e boa semana!