segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Primeiras impressões

Estamos de novo em Pequim, mais precisamente à saída do Templo do Céu que já conhecem de uma mensagem anterior. É considerado um templo taoista, no qual os imperadores das dinastias Ming e Qing rezavam todos os anos ao Céu para terem uma boa colheita. Curiosamente, diz quem sabe que as orações ao Céu são anteriores ao culto taoista. Classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, este templo foi construído entre 1406 e 1420 pelo imperador Yongle, que também construiu a Cidade Proibida na qual ele e sua descendência assentaram arraiais. Não menos curioso é o facto de o Templo do Céu ter ser mais alto do que os edifícios da Cidade Proibida, pois, dado que os imperadores chineses se consideravam «filhos do Céu», não se atreviam a construir uma residência superior ao seu local de culto. E esta, hein?
Altamente enriquecidos pela beleza majestosa do templo e por todo este manancial de informação, lá fomos ver do almoço, que isto de aguentar um voo de nove horas e começar o programa turístico de imediato dá conta do estômago e da cabeça. No meio destas andanças para trás e para diante, surge uma primeira impressão que se viria a confirmar extraordinariamente exacta: Pequim é, antes de tudo o mais, gigantesca. Os edifícios são enormes, as praças são enormes, as estradas são enormes, os centros comerciais são enormes e as aglomerações de turistas são, também elas, enormes. Por conta de toda esta enormidade, em Pequim tudo é longe de… tudo. Como, aliás, verificaríamos mais tarde nas restantes cidades da China. Estão a ver o fundo da rua? Assim como quem diz «Ora esta praça é mesmo ao fundo da rua, podemos perfeitamente ir a pé, porque é tão pertinho!». Nada disso. Mal saímos do hotel por nossa conta pela primeira vez, bem tentámos chegar ao fundo da rua mas não houve meio, porque o fundo da rua – que é sempre tão perto nos mapas – é a quatro quilómetros de distância! Ou mais. A noção de «perto» tal como nós a conhecemos não existe. As únicas coisas que ficam perto uma da outra são os quartos do hotel e mesmo assim só se forem na mesma zona do mesmo piso. A dimensão das coisas e a enormidade das distâncias foram, sem dúvida, as primeiras coisas que nos despertaram a atenção em Pequim. Quem pensar que se pode conhecer as cidades a pé como nós fazemos na Europa, engana-se rotundamente. Até porque, além do obstáculo da lonjura, outro mais forte se nos depara...





A língua! A língua foi o maior de todos os obstáculos que tivemos de enfrentar na China. Ao contrário do que muitos poderão pensar, praticamente ninguém fala um idioma estrangeiro. Inglês? Forget it! Quais Jogos Olímpicos, qual quê! E não pensem que não tentámos: experimentámos na rua, em lojas, em restaurantes, em sitos turísticos, em sítios menos turísticos, com gestos, a apontar para o mapa…. E nada. Tudo começou no hotel, onde tentámos usar um cartão telefónico que o guia nos tinha vendido. De cada vez que marcávamos um número a resposta era em Chinês, por isso tratámos de pedir ajuda. A ajuda lá veio, não particularmente depressa mas veio, sob a forma de uma empregada muito simpática mas nada dada a qualquer outra língua que não fosse o Chinês. Nós explicámos que de Chinês não pescávamos nada, virámo-nos para o Inglês mas ela continuou, impávida e serena, a falar em Chinês. Face a este impasse, resolvemos pedir socorro e enviaram uma segunda empregada, igualmente solícita e igualmente incapaz de articular qualquer palavra em Inglês. Já meio desconcertados, telefonámos para a recepção, onde o Inglês pouco melhor era do que o de uma criança do quinto ano, e apareceu o próprio do guia que nos tinha vendido o cartão e que em boa hora estava ao balcão da recepção. O imbróglio resolveu-se mas bastou sairmos à rua, pedirmos para nos indicarem o caminho, com mapa na mão e tudo, para verificarmos que ninguém fala senão Chinês. Num mundo globalizado, onde o Inglês é um idioma quase ubíquo, facilmente nos esquecemos de que, nalguns lugares, a impossibilidade de comunicar pode ser praticamente total. E só não digo total, porque, à boa e desenrascada maneira dos Portugueses, contamos sempre com a nossa fabulosa capacidade de gesticular. Mas confesso-vos que poucas vezes em viagens vivi uma situação tão estranha como a de não conseguir comunicar. Não se tratava de não comunicar correctamente, de não me fazer entender como gostaria ou de não compreender os outros como eles desejariam: tratava-se, pura e simplesmente, de não comunicar! Dissecada a problemática, explicaram-nos que anualmente a China recebe menos de um milhão e meio de turistas ocidentais. Como vos disse, os grupos de turistas são enormes e omnipresentes… mas compostos quase totalmente de turistas internos!
Como vos contarei adiante, a situação haveria de se repetir em quase todas as cidades que visitámos, nem sempre com o melhor resultado. Mas disso vos darei conta numa próxima mensagem. Boa semana!



terça-feira, 21 de outubro de 2008

Sem palavras

Não quero que vos falte nada! Por isso, coloquei na barra esquerda uma compilação de imagens alusivas à China, uma espécie de resumo fotográfico deste país com tanto para fotografar. Mas como sou muito jeitoso com computadores, não só pus a China como também Times Square (assim vêem a diferença) e ainda um desconhecido que – acabo de descobrir – está a mexer nuns preservativos em forma de chapéu que custam 120 dólares! Horror dos horrores. Escândalo dos escândalos. O meu blogue não tem bolinha, pode ser visto por qualquer um sem aviso prévio, já viram o pavor? Virem os meus estimados amigos ler este digníssimo blogue e encontrarem um chinês a promover preservativos a 120 dólares? Já não bastava estar a mexer nos ditos cujos no meu cantinho da blogosfera, ainda por cima vende-os a 120 dólares! Estou sem palavras. E o mais curioso é que estou sem palavras depois de descobrir do que é que consta o vídeo mas, coincidência ou não, já tinha dado este título à mensagem de hoje. Que, obviamente, ia ter um conteúdo muito diferente. Mas agora com esta cena dos preservativos de luxo estou tão estupefacto que nem consigo escrever mais nada.
Se alguém souber como é que eu adiciono ao blogue uma apresentação da China sem contracepção à mistura, faça o favor de me avisar!

sábado, 18 de outubro de 2008

Era uma vez… em Paris

Mais precisamente no aeroporto Charles de Gaulle, essa monstruosidade aeroportuária onde fomos obrigados a correr feitos doidos depois de treze horas de voo. Mas isso passou-se no regresso da viagem e, portanto… agora não interessa nada!
O que interessa é que cheguei a Paris transportado pelo Thalys, uma verdadeira maravilha tecnológica que percorre os 336 quilómetros entre as duas cidades a uma velocidade média de 236 km/h e em apenas uma hora e doze minutos! Leram bem, uma hora e doze minutos. E diga-se a bem a verdade que são uma hora e doze minutos muito tranquilos, porque o comboio não efectua paragens pelo meio, é extremamente confortável, todo ele muito limpinho e apresentável, e custa apenas 25 euros. Já sei que agora estão todos a pensar que, daqui a uns anos, viajar entre Lisboa e o Porto também será assim graças ao TGV do tio Mário Lino… pois… enfim, vão sonhando, que a gente no dia de são nunca à tarde logo tira as dúvidas.
Eis-me então no aeroporto de Paris, à espera que a minha família chegue de Lisboa, juntamente com o restante grupo da excursão e na posse de toda – TODA – a documentação de que eu precisava para viajar: eu nem tinha bilhete nem passaporte. Sucedem-se telefonemas para cá e para lá, a minha Mãe do lado de lá do controlo de passaportes, eu do lado de cá, e assim estivemos uma série de tempo, como naquele filme em que as pessoas se estão a ver através de um vidro mas não há maneira de se aproximarem. Tudo porque uma alma iluminada declarou que ninguém do grupo podia sair da zona de embarque senão depois já não poderia voltar a entrar. Toda a gente tinha passaporte? Sim. E bilhete? Também! Então por que é que não haveriam de sair e entrar??? Ora aí está uma boa pergunta… o imbróglio resolveu-se por intermédio de uma caridosa assistente de bordo (anteriormente designada de «hospedeira»), que fez o grandessíssimo favor de me entregar os meus documentos.
E eis-me, assim, na companhia de minha família rumo a Pequim, instalado como o avião o permitia, o que não era lá grande coisa. Não sei o que passa pelas mentes brilhantes de quem concebe aviões quando o fazem, mas certamente não passa que um par de pernas – nem sequer muito grandes – terão de caber entre o nosso assento e o do vizinho da frente! Foi, portanto, com algum aperto que chegámos a Pequim, depois de nove horas a bordo e alguns apalpões no aeroporto, os primeiros de uma interminável série de apalpadelas que se seguiriam China afora. Ora em Pequim são mais oito horas do que em Bruxelas e mais nove do que em Lisboa. Está bom de ver que isto dá um jet-lag tremendo, por isso o melhor é a malta não se enfiar logo na cama mal chega, senão depois não há quem durma à noite. É justamente a pensar que a agência de viagens resolve cortar o mal pela raiz e nos despeja imediatamente no centro de Pequim. Hotel só à tarde, que para dormir ficávamos em casa. E assim lá fomos ordeiramente visitar o Templo do Céu.
Convido-vos a dar uma espreitadela aqui em baixo. A viagem segue dentro de momentos…

sábado, 11 de outubro de 2008

De olhos em bico

Amigas e amigos, após umas maravilhosas férias e um atribulado regresso ao trabalho, este vosso cantinho da blogosfera declara-se oficialmente reaberto!
Como hão-de calcular, entre a última mensagem que aqui deixei e o dia de hoje, passou-se uma enorme quantidade de coisas que quero partilhar convosco. Mas a verdade é que foram tantas que... nem sei por onde começar! Ora vejam: passei duas semanas de sonho na China, diverti-me imenso, vi coisas que me deixaram de olhos em bico, andei numa cabine de esqui por baixo de água, visitei os guerreiros de terracota e temi que me atacassem, fui a Veneza sem sair de Macau, mandei fazer um fato por medida, usei quase toda a roupa que levei na tal mala atafulhada, voltei para Lisboa, não estive com quase nenhum dos meus amigos mas vou desforrar-me em breve, assisti ao casamento de um grande amigo e perdi a parte do banquete, fiz dez viagens de avião em duas semanas e meia, regressei a Bruxelas, recomecei o trabalho, tentaram dar comigo em doido mas não conseguiram, conheci uma série de pessoas novas, dormi duas noites com dez eléctrodos na cabeça como se fosse um extraterrestre, acordei com os mesmos dez eléctrodos e a cabeça cheia de cola, fechei mal a panela de pressão e acabei com espinafres a enfeitar a sala toda, encontrei uma rapariga que me viu uma única vez há seis anos e se lembrava de mim, vi o Mamma Mia e delirei, vi a Mariza ao vivo e julguei que estava a ver um filme de terror, organizei três eventos que correram lindamente, pus 60 adultos a brincar com cadeiras num hotel de cinco estrelas e descobri que, após 28 anos de culpabilização, não ressono. Aposto que agora já compreendem que uma mensagem só não chega para contar tantas aventuras!
Mas enquanto tudo isto acontecia, o mundo começou a girar a uma velocidade ainda mais rápida do que o habitual: a Sarah Palin saiu do seu bloco de gelo e candidatou-se a vice-presidente, as acções das bolsas começaram a andar aos trambolhões, distribuíram umas coisas quaisquer chamadas «Magalhães» que parece que são importantes mas eu ainda não percebi do que se trata, as seguradoras americanas entraram em colapso e pegaram a doença aos bancos, os bancos americanos pegaram a doença aos europeus, o principal banco da Bélgica esteve quase a falir mas o Sarkozy e companhia puseram lá o dinheiro dos contribuintes, o Obama perdeu eleitores e voltou a ganhá-los, a filha da Sarah Palin está grávida e não é casada, a dita cuja parecia muito séria mas afinal quis despedir o cunhado porque se separou da irmã, a Carol abriu um blogue, os americanos vão gastar 700 biliões de dólares para salvarem os bancos deles mas parece que não chega, o segundo maior banco da Bélgica também esteve quase a falir, três países juntaram-se para o pôr na ordem, as acções do dito cujo perderam 15% num só dia e os ministros juntaram-se à noite para lá injectar mais dinheiro, o Vítor Constâncio disse para estarmos descansados mas a mim não me tranquilizou nada, a Bélgica tem finalmente um governo, o novo governo diz o mesmo que o Constâncio mas a malta está toda em pânico, os Fascínios acabaram e a minha tia deixou de ver telenovelas em protesto contra o final imoral da coisa, a Ângela entregou a tese, os italianos manifestaram-se contra o Berlusconi, a AIG que foi salva da falência com o dinheiro dos contribuintes americanos mandou os executivos para um resort de luxo na Califórnia com direito a spa e golfe, um dos bancos belgas que esteve quase a falir ofereceu um jantar para duzentos convidados no hotel mais caro de Monte Carlo, o outro que também esteve à beira da catástrofe ofereceu um almoço de 150 mil euros exactamente no mesmo hotel e a Coreia do Norte já não é perigosa. Ao menos valha-nos isto: mesmo que o sistema financeiro ande todo às cambalhotas, com a Coreia do Norte já não precisamos de nos preocupar!
De amanhã em diante, cá estarei para vos dar conta das peripécias que aqui resumi, pois com todo este tumulto no mundo e o adiantado da hora, a minha pobre cabeça já só pensa na almofada. Boa noite e até breve!