segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Eu voto… na língua portuguesa!

Estava eu na casa de banho, ouvindo tranquilamente a cobertura das eleições na RTP 1, quando me senti impelido a correr para o computador e tomar nota do que ouvia. Tinha ligado o televisor há dez minutos para ouvir as previsões, mas, neste curtíssimo intervalo de tempo, o número de disparates por segundo ultrapassou qualquer previsão possível. Eu estou adoentado com uma inflamação na garganta, mas a língua portuguesa está com uma infecção muito séria e os jornalistas da RTP precisam de um potente antibiótico linguístico.
À primeira vista, as noites de eleições são excepcionais para os canais de televisão. Os cenários são vistosos, há ecrãs modernaços em que os jornalistas fazem parecer os resultados e as pessoas estão todas muito bonitas, sobretudo na minha televisão onde toda a gente parece morena mesmo que seja branca como a cal da parede.
Mas nestas noites acontecem muitas coisas em pouco tempo e, por vezes, não acontece nada durante tempo demais. O primeiro aplica-se ao período a partir das 20h00, em que todos estão à espera do escrutínio que está atrasado, e o segundo ao período entre as 19h00 e as 20h00, em que não há nada para noticiar e se ocupa o tempo a comentar o que não aconteceu e a carregar no ecrã gigante para fazer comparações que não interessam.
Mas mesmo quando os resultados não estão actualizados e os directos são interrompidos, o comboio da asneira nunca pára. O José Rodrigues dos Santos que, como já vos contei, é o rei do disparate, anuncia que estarão em directo com sedes de campanha onde há elementos picantes. Picantes?! Será que ele não queria dizer elementos de controvérsia? Ou de polémica? Fico em suspenso à espera desse apimentado directo e ele volta à carga: “Vamos agora para um desses municípios picantes: Oeiras.” Para rematar, acrescenta que, segundo as sondagens e o resultado de há quatro anos, o principal concorrente de Isaltino Morais é o PS. Agora o erro já é de conteúdo e não de forma. O principal concorrente do Isaltino há quatro anos foi o PSD, não o PS.
Esta coisa das eleições maça que se farta e às tantas a confusão é tanta que já ninguém mede as distâncias e somos todos uma grande família autárquica. Em directo de Matosinhos, um dos repórteres da RTP explica a disputa eleitoral entre “o Narciso” e o Guilherme Pinto. “O Narciso?” Então mas andaram juntos na escola? Ou são amigos do peito? O senhor não terá apelido? Deve ser como nas certidões de nascimento do século passado em que as pessoas só tinham o primeiro nome…
Além dos directos, outra coisa que perturba muito o decurso das noites eleitorais são as projecções. Às sete da noite, os programas começam mas ainda não há projecções nenhumas, por isso comenta-se o que não aconteceu, comenta-se o que provavelmente não vai acontecer e, à falta de outra coisa, comentam-se os próprios comentários. Às oito chegam finalmente as ditas projecções. Mas à mesma hora começam a surgir os resultados verdadeiros e as ditas projecções ficam desactualizadas em minutos. E, por sua vez, os resultados oficiais também ficam desactualizados, porque os políticos têm representantes nas mesas de voto que já sabem o resultado enquanto nos ecrãs ainda falta escrutinar metade das freguesias. Mas o espectáculo tem de continuar: ainda que desactualizados, os resultados lá continuam a surgir em rodapé, coloridos e vibrantes como na Feira Popular.
Por conta das projecções, o José Alberto Carvalho também meteu o pé na argola. A conversa com o especialista das sondagens começou por “Agora é assim,” que já de si não será a melhor forma de falar em público. A conversa prossegue sobre a abstenção que, afinal, é uma grande treta porque os cadernos eleitorais incluem quase um milhão de pessoas que, na realidade, não deveriam lá estar. Entre mortos e emigrantes, ainda as urnas não abriram e já há abstenção. Toda esta problemática é resumida pelo José Alberto Carvalho nesta breve pérola: “Os cadernos eleitorais não estão limpos.” Ai não? Estão sujos? Têm teias de aranha? Ou é coisa que se resolva com um pano do pó e um frasco de Pronto?
Já sabemos que, como habitualmente, nas eleições ninguém perde. Uns perdem câmaras mas continuam a ter o maior número de presidências. Outros perdem as principais câmaras mas têm o maior número de votos. Só há uma que perde quase sempre e não tem partido que lhe valha: a língua portuguesa. Quem vota nela?

domingo, 5 de abril de 2009

A crise 2

Continuo a ler, continuo a ver televisão e agora já sei que os líderes das maiores economias do planeta se encontraram em Londres para reverter a maré. Desta feita, em vez de organizarem “bailouts” para a banca, optaram por um mega plano de salvamento para o Fundo Monetário Internacional, o tal amigo das previsões que, como dizem no mundo da bola, faz os prognósticos no fim do jogo. Enquanto esperamos que os biliões de que tanto se falou cheguem a quem mais precisa e a crise acabe mais depressa do que começou, as televisões distraem-se e tentam distrair-nos com os passeios da Michelle Obama, que é obviamente mais importante do que tudo o resto. O tio Cavaco também anda um bocado distraído, porque, como hão-de compreender, o Estatuto dos Açores é um assunto de muito maior relevância. Entretanto, como a malta está bem é a laurear a pevide, alguns dos políticos que foram a Londres resolver a crise seguiram imediatamente para Estrasburgo, onde o Sílvio Belusconi, que é um homem educado como todos sabemos, resolveu trocar a Angela Merkel pelo telemóvel. Enfim, cada tem as suas prioridades e às vezes esta maçada de cumprimentar as pessoas calha nos momentos mais inoportunos.
Entretanto, eu cá continuo sem perceber algumas coisas…
Uma delas é como é que de um momento para o outro as economias mais prósperas entraram em profunda recessão. Provavelmente o problema é meu, que devo ser desinformado, iletrado ou pura e simplesmente imbecil. Li recentemente que, ainda há dois anos, o PIB da Irlanda crescia 6% ao ano e o de Singapura mais de 7%. Este ano, prevê-se que decresçam na mesma proporção. O que quer dizer que fosse lá o que fosse que estivesse a empurrar este crescimento, muito forte não era certamente. Fosse por conta da bolha imobiliária, do investimento estrangeiro ou do comércio internacional, estes países enriqueceram muito em relativamente pouco tempo. Mas que riqueza era essa que tão rapidamente desapareceu? Seria mesmo riqueza ou apenas ilusão? Que fundações tão pouco sustentáveis eram aquelas que, ao primeiro abanão, deram de si? Ou será que não havia fundações nenhumas e tudo não passava de um castelo de cartas?
Enquanto tudo isto me parece envolto em bruma, a boa da OCDE – a outra amiga que se dedica às previsões – sugeriu que o G20 dê sumiço aos paraísos fiscais, porque fez uma lista negra da qual a Bélgica só escapou porque foi parar à lista cinzenta. Mas tanto quanto julgo saber, os americanos que compraram casas que hoje não valem um terço do valor das hipotecas não as compraram no Liechtenstein, compraram-nas nos Estados Unidos. Nem pediram dinheiro emprestado a nenhum banco de Aruba, mas a bancos americanos, os tais donde o dinheiro dos depósitos bazou sabe-se lá para onde e o dinheiro dos contribuintes entrou sem eles darem licença.
E como se tudo isto não bastasse, a RTP passa uma reportagem sobre um atleta que corre pelas ruas de Paris tal como veio ao mundo e o José Rodrigues dos Santos encerra o Telejornal com esta verdadeira pérola: «E corre nu pelas ruas mostrando a sua grande vara!» Pode lá ser? Cá para mim, está tudo a ficar varado da cabeça…

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A crise

A crise é uma coisa muito mal explicada. Eu não entendo rigorosamente nada de economia, mas, tal como a generalidade das pessoas no mundo inteiro, tenho feito um curso intensivo ao longo das últimas semanas. Leio tudo a que deito a mão sobre o assunto e vejo os noticiários belga, francês e português, mais os da CNN ao fim de semana se o corpo der ordem para acordar cedo.
Já sei que a actividade económica mundial vai decrescer pela primeira vez desde há anos, segundo o Fundo Monetário Internacional. Também aprendi que as tendências proteccionistas, diz o Jacques Delores, são uma machadada no mercado único. Já travei conhecimento com o Galbraith, que disse que os mercados se desligaram progressivamente da realidade para entrar numa espiral especulativa que explodiu com a crise de 1929. E até sei que o Keynes defendia o investimento público para pôr cobro ao despautério e o Roosevelt tratou de construir estradas e infra-estruturas afins para criar emprego e fazer crescer a economia.
O que eu ainda não percebi é como é que tudo isto começou e quem é que andou a fazer chichi fora do penico, para não dizer pior. E ainda estou para saber o que é que andaram a fazer o tal Fundo Monetário Internacional que faz previsões sobre a actividade económica agora que o caldo já se entornou. Já agora, também gostava que me explicassem para que serve a OCDE, que também faz previsões e tem uma lista negra dos paraísos fiscais. Ora onde é que estes dois amigos andavam há uns anos atrás? A fazer previsões não devia ser concerteza.
Primeiro, os políticos de todo o mundo puseram milhões nos bancos com os «bailouts» e planos afins. Esses milhões como não pode deixar de ser, vêm directamente dos nossos bolsos. Até fizeram o enorme favor de nos garantir os depósitos. Garantir os depósitos? Então mas como é que uma coisa que não tem risco nem gera grandes vantagens pode não estar garantida? Quer dizer, pomos lá o dinheiro, confiando que não correremos riscos porque não investimos em fundos nem em acções, mas depois só lhe vemos a cor por obséquio. Isto é, só o lá temos porque puseram o dos impostos no sítio onde estava o dos nossos depósitos. No fundo, é como dizia o meu amigo Zé: para o dinheiro estar nos bolsos de uns tem de faltar nos dos outros. Evidentemente, quem teve estas pródigas ideias só as teve ao retardador, porque quando o Lehmann Brothers faliu, ninguém se lembrou de lhe arranjar logo ali um «bailout» à maneira e dar o assunto por resolvido…

terça-feira, 24 de março de 2009

Vamos acordar...

Diz o ditado que deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer. Quando eu era criança, a minha Mãe obrigava-me a ir para a cama às oito e meia, aquela hora em que todos os miúdos da minha geração queriam tudo menos cama. Quando cresci, continuei a ter de me deitar cedo porque acordava às seis da manhã para demorar uma hora e tal a chegar à escola que começava espartanamente às oito da manhã. A páginas tantas, deixei de me deitar a horas e continuei a levantar-me cedo, com excepção dos fins-de-semana em que o despertador não manda e, como tal, só se acorda quando o corpo dá ordem. Pese a tudo isto, o crescimento foi o que vocês conhecem e, a esta altura do campeonato, já só se cresce para os lados.
De modo que nunca consegui compreender o dito cujo ditado. Eu sempre tive péssima relação com esta cena do acordar. Ter um despertador é uma maçada mas ter de ter um despertador porque de outra maneira não se acorda é uma maçada ainda maior. Eu agora tenho dois despertadores: o de carreira, que veio de Lisboa, e o substituto ocasional, que é o telemóvel. Tal como a generalidade das pessoas, cada vez tenho mais dificuldades em levantar-me cedo, de tal forma que dei comigo a matutar no assunto. Cheguei à conclusão de que se a cabeça não der ordem não há despertador que faça o corpo levantar-se. Como habitualmente, hoje acordei com o zumbido imparável do despertador permanente às oito da manhã. Olhei para ele, ele olhou para mim, estiquei o braço, combinámos que o desligava e a coisa ficou por aí. Mas o temporário, que anda a ver se apanha o lugar do outro e deixa de trabalhar a recibos verdes, não perdoou e vai de tocar também. Nesta altura, já não foi suficiente esticar o braço. Tive de me soerguer, destapar-me neste frio matinal de Bruxelas e sossegar o animal. Posto isto, dei mais uma volta na cama, adormeci novamente, mas de repente, no meio do torpor generalizado, uma lâmpada acendeu-se na minha cabeça: o despertador permanente já tocou, o substituto também, por isso já não há mais nada que possa tocar nesta casa… o que talvez me faça falta é um certo despertador de que me falou uma amiga esta fim-de-semana. Consta que o dito (que eu nem para substituto quero!) tem um helicóptero incorporado que, à hora marcada, levanta voo pelo quarto e só aterra quando a pessoa se levanta e o devolve à mesa-de-cabeceira. Pressupõe-se que neste entretanto a vítima de tão perturbadora invenção já esteja fresca que nem uma alface…
Meus amigos, se se revêem nesta mensagem, então é porque o ditado não tem nada a ver convosco! Tudo o que nos arranque da cama sem o corpo pedir é anti-natural. Estamos todos na onda das Doce… não se lembram? Vamos acordar e ficar a ouvir, a rádio no ar, a chuva a cair…

quinta-feira, 19 de março de 2009

A família Parraia

Conhecem a família Parraia? Não? Mas eu conheço! A família Parraia é uma das vítimas dessa eminência parda que é a RTP Internacional. Dêem-se por felizes e contentes por terem os dois canais normais, a TVI e a SIC – porque se tivessem apenas um único canal a falar Português, já estariam altamente familiarizados com os tesourinhos deprimentes que a dita cuja apresenta como se fossem coisas de espantar.
Calhou um destes dias eu ter a televisão ligada na altura em que o programa da ecologia foi para o ar. E foi mesmo uma pontaria desastrada a minha, porque, tanto quanto me apercebi, o dito cujo vai para o ar quando calha. Ora vamos lá a explicar o que é que vocês andam todos a perder…
O programa da ecologia consiste em acompanhar uma família e inspeccionar ao mínimo pormenor os seus pecados ecológicos. A estrela é uma apresentadora de exageradas convicções ecológicas, ao estilo não tomo banho para não gastar água. No dia em que vi o programa, coube à família Parraia fazer de palhaço de serviço. Tudo quanto a família Parria faz está mal feito, porque tudo implica prejudicar o nosso ambiente. E por isso deve ser objecto de repúdio colectivo. «Vocês estão a ver o lixo que fazem, estão???» pergunta a apresentadora implacável enquanto despeja dois sacos do lixo gigantes sobre uma mesa. «Sim!! Este é o vosso lixo!!!» Neste momento, a família Parraia começa a baixar os olhos de vergonha. Entretanto, a apresentadora conclui que, além de todos os outros crimes ecológicos, a família Parraia come carne a mais. E vêm de lá dois baldes de lavar o chão cheios de carne picada crua, que prontamente são despejados na mesa perante o olhar estupefacto da família Parraia. Agora a apresentadora já não aguenta mais e malha neles como o ministro Santos Silva na oposição: «Ó família Parraia, ó família Parraia, ó família Parraia, ó família Parraia!!!» Depois de repetir esta litania quatro vezes, a família Parraia estão tão transida de vergonha que já nem abre a boca. Só que a humilhação ainda não é suficiente. Afinal a família Parraia faz imenso lixo, come carne a mais, em suma merece punição. E em público, já agora. Assim sendo, a nossa amiga apresentadora pega na eco-calculadora e determina a pegada ecológica. Evidentemente, a família Parraia tem uma pegada monstruosa e larga lastro por todo o lado. Como castigo, a apresentadora passa diante de cada membro da família e pespega-lhe uma bola azul em cima da cabeça. Neste momento, a família Parraia está de todo, afundada na vergonha. Triunfalmente, a apresentadora decide pôr fim ao programa. E assim se ensina o povo a cuidar do ambiente…

terça-feira, 17 de março de 2009

O jejum

Comecemos pela primeira razão que me impediu de aqui escrever nos últimos tempos. Estava eu posto em sossego no ginásio quando o meu estômago se começou a queixar de dores que não desapareciam nem por nada. É como se tivesse levado um murro mas o punho invisível que dava o murro continuava a empurrar o estômago para dentro. Isto deve ser da ginástica, vou bazar daqui, janto e já passa. Mas não passou. No dia seguinte a mesma cena. Todo o dia. Ao terceiro dia, já em estado de semi-desespero, resolvi ir às urgências. E agora é que a coisa começa a aquecer.
A malta já não está bem, mas mal entra no hospital fica logo pior. A primeira coisa que fazem aqui quando entramos no consultório é tirar sangue para análises. Coisa que já de si me pôs imediatamente mal disposto, enervadíssimo e à beira de um ataque de loucura. Então a malta vai ao médico urgência à espera que nos curem e, pimba, dá cá o braço e vai de tirar o sangue? Assim sem mais nem menos?? Ainda por cima, não é tirar em sangue em quantidades normais, como quando fazemos análises regulares. É como tirar sangue para dar, uma pessoa está ali prostrada na marquesa e a enfermeira nunca mais pára. Graças a Deus, lá parou o procedimento e eu lá fiquei à espera dos resultados. Uma hora, hora e meia, duas horas, eu já a morrer de forme e resultados nada. Sim, porque a dor de estômago tirou-me energia mas não me tirou a fome, de modo que decidi ir à cafetaria. «Não, o senhor não pode comer. Até ter os resultados, vous devez rester en jeûne.», diz-me um enfermeiro. «Quê? Olhe, eu vou ali comer que estou cheio de fome e já cá volto». «Não, não pode, tem de estar en jeûne.» «Tenho de estar em quê?» Não estou a perceber nada e também não estou para grandes esforços porque a fome fala mais alto, mas o enfermeiro está irredutível. «Não pode comer, percebeu??!! Até ter os resultados não pode comer!!» Hã?? Não posso comer??? Quer dizer, tiram-me uma litrada de sangue, fazem-me esperar duas horas e ainda me obrigam a estar em jejum?? Jejum!! Ora é mesmo isso que o homem queria dizer com “en jeûne”. Agora sim, sinto-me muito mais esclarecido, esfomeado mas esclarecido. Se isto não tiver servido para mais nada, ao menos serviu para enriquecer o meu vocabulário.
Entretanto, o médico deve ter pressentido o meu estado e chamou-me. «Desculpe a demora, tivemos um problema informático.» Que animador… «As análises não indicam nada, parece estar tudo bem». Ah sim? Então por que é que me dói? Querem lá ver que me andaram a tirar sangue para o boneco? «Não lhe sei dizer exactamente o que será.» Está a gozar comigo? Então se não sabe exactamente, diga-me mais ou menos, a esta altura do campeonato já estou por tudo. «Deve ser uma ligeira gastrite, vai tomar este medicamente e se não passar vai ao especialista…» Assim terminou a consulta, pelo que me dirigi à recepção para pagar. «Tome conta de si», dizem-me de imediato. «Muito obrigado. E quanto devo?». «As melhoras», respondem. Simpático. «Obrigado, mas… não tenho de pagar?» «Nós depois enviamos a conta para casa». Ah é? Assim já estou a gostar, imaginem que mudo de casa e não dou cavaco…

domingo, 15 de março de 2009

Uma força inovadora

A pedido de várias famílias, cá estou de volta à Força do Destino, agora que recuperei plenamente as minhas energias. Como este é o Ano Europeu da Criatividade e Inovação, a Força do Destino está plenamente solidária com tão extraordinária iniciativa e toda ela é inovação, graças às maravilhas que os programas de design gráfico nos permitem fazer. Espero que as mudanças tenham sido do agrado de todos! Confesso que estou mesmo a pensar registar o novo look do blogue no programa oficial do dito Ano Europeu e transformar a Força do Destino num exemplo prático de como a Europa está na vanguarda da blogosfera. Como dizem aqui a propósito de tudo e de nada, é uma “best practice”. Modéstia à parte…
E porque a Força do Destino é um blogue atento aos seus leitores, as recomendações da Peg serão inteiramente tidas em conta: abaixo os textos longos e vivam as mensagens resumidas! O tempo é um recurso escasso e a Força do Destino é um blogue do seu tempo, consciente da necessidade de ser eficiente. Na realidade, a Força do Destino está em todas: inovação, eficiência e informação em tempo real! Aprendi com a minha querida amiga Carol, do blogue Laurear a Pevide, que se podem enviar alertas por e-mail de cada vez que escrevemos novos posts. De modo que a Força do Destino vos manterá ao corrente de todas as novas aventuras deste vosso amigo expatriado. Vamos já experimentar a ver se funciona…
Beijinhos, abraços e boa semana!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Depois da neve

Como podem ver pela presente, sobrevivi às temperaturas negativas, à neve e à chuva e cá estou de volta à Força do Destino. Desde o início do mês, o tempo melhorou substancialmente e o Sol despontou logo depois de a neve ter ido nevar para outras bandas, por isso temos tido direito a dias soalheiros misturados, como dizem os meteorologistas, com alguns períodos de chuva ligeiros e um menos ligeiro arrefecimento nocturno. Segundo o Weather Channel, o sítio web que costuma ter os prognósticos mais simpáticos, as temperaturas mínimas na próxima semana serão de pelos menos zero graus e a máxima pode atingir os sete, o que é um verdadeiro privilégio. Tal é a espectacularidade do acontecimento que eu hoje até me dei ao luxo de cozinhar de janelas abertas…
Entretanto, já sei que a neve foi incomodar outros países, entre os quais o nosso Portugal, onde até foi lançado o alerta vermelho nalguns distritos. À conta deste frio inesperado, não sei quantas criancinhas deixam de ir à escola todos os dias porque neva e faz frio, dentro e fora da dita cuja. Como diz a minha tia, quando nós andávamos a estudar ninguém se preocupava com frio nem com chuva, aliás ninguém se preocupava com coisa nenhuma. E não se esqueçam de que eu estudei muitos anos depois da minha tia. Às oito da manhã, lá estávamos nós de pedra e cal na aula de Publicidade, muitas das vezes para fazer apresentações para a turma inteira, e aquecimentos nem vê-los. Mas nós lá estávamos, cobertos com casacos, enrolados em cachecóis e protegidos por luvas, prontos a ouvir, a ser ouvidos e a tomar notas a mil à hora para as mãos não arrefecerem!
Desde a minha última mensagem, muitos e extraordinários acontecimentos tiveram lugar no nosso mundo. E não me estou a referir aos bancos da Bélgica, que já pedem mais umas alarves injecções de euros a título de segundo plano de salvamento. Nem à tia Manuela Ferreira Leite a dizer que risca logo o TGV se lhe deixarem pôr os pés em São Bento. Nem ao tio Sócrates, que teve uma reunião com uns senhores do Freeport mas critica o ressurgimento do caso no início do ano eleitoral. Ainda alguém me há-de explicar por que é o processo foi despachado em vinte dias quando processos afins demoram três meses e o que é o tio do senhor anda a fazer metido neste imbróglio. A tia Manuela também não se rir: fica-lhe muito bem dizer que suspendia o TGV mas esquece-se de que, quando foi Ministra das Finanças, não suspendeu aquele disparate monumental que foi construir uma catadupa de estádios de futebol quando o país estava à beira da recessão… Recessão? Onde é que eu já vi este filme?
Outro acontecimento marcante desde mês (embora não tanto como os que descreverei em seguida!) foi a tomada de posse do Obama ou, melhor dizendo, a sua inauguração. Inauguração, pois claro! Por estranho que pareça, é por «inauguration» que os americanos designa a tomada de posse do Presidente. Ora, «inauguration» em tradução anárquica significa «inauguração». Temos, por isso, que o senhor foi oficialmente inaugurado diante dos olhos de milhões de americanos em Washington e de biliões de estrangeiros em todos o mundo, que assistimos ao evento como se nós próprios, que nem sequer podemos tomar parte na contenda, tivéssemos votado nele. E enquanto o planeta aguarda as cenas dos próximos capítulos, saudemos desde já o anunciado fecho da prisão de Guantanamo, que, se não servir para outra coisa, serve pelo menos para prenunciar que uma nova era poderá ter sido… inaugurada!
Agora que já assistimos ao noticiário internacional em versão ultra-resumida, passemos então aos acontecimentos verdadeiramente extraordinários. O primeiro deles foi a compra de dois candeeiros. Já que não mudar de casa este ano, decidi melhorar a qualidade de vida no interior desta. E como é tempo de crise, há que poupar e concentrar os investimentos no que é realmente necessário. Por isso, deixei de comprar trapos, o que por sua vez evita que tenha de comprar de imediato um novo roupeiro, e resolvi concentrar-me no essencial. Digam lá se não sou um rapaz consciencioso! Desta decisão madura e reflectida resultou a aquisição de dois magníficos candeeiros com spots que se viram para todos os lados, incluindo de pernas para o ar se for preciso. Outro investimento inteligente a fazer em tempo de crise é o investimento em nós próprios. Não, não, não é gastar dinheiro em roupa. Nem em inutilidades caras para nos fazerem fixar mais bonitos. É investir nos nossos conhecimentos. Não se costuma dizer que o saber não ocupa lugar. Felizmente os meus estimados empregadores concordam plenamente comigo e tomaram em mãos esta tarefa. Daqui resulta que estou a meio de uma ampla formação em quatro surpreendentes programas informáticos: InDesign, Illustrator, Dreamweaver e o inenarrável Photoshop, o programa que transforma as maltrapilhas de Hollywood em verdadeiras princesas. Tiram-se olhos vermelhos, encolhem-se ancas, diminuem-se barrigas salientes, disfarçam-se papadas, endireitam-se dentes tortos, retiram-se sinais, enfim as possibilidades são inúmeras! Depois de uma formação intensiva, estou tão rendido ao dito programa que em breve planeio mudar a minha trajectória profissional. Vou candidatar-me a um posto de designer gráfico na Vanity Fair. Ou na Rolling Stone. Ou até mesmo na Time quem sabe se a próxima mensagem não será enviada do outro lado do Atlântico…
Boa noite e boa semana!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Abaixo de zero

Feliz Ano Novo! A Força do Destino vestiu-se de novo para receber 2009 e deseja a todos os leitores que o destino vos traga tudo o que desejam neste novo ano.
Que a crise desapareça tão depressa como apareceu, que os ordenados aumentem todas as semanas, que as empresas contratem novos funcionários em cada dia útil, que os preços desçam e nos paguem para comprarmos combustíveis, que os bancos devolvam o dinheiro que desbarataram, que acabe esta loucura chamada guerra que acompanho na televisão e que a fome no mundo desapareça do dia para a noite. E que venha calor no Inverno e calor no Verão e calor o tempo todo!É que vocês não estão bem a ver. Já sei que uso esta expressão com grande frequência, mas desta vez é que vocês não estão mesmo a ver a coisa. Em lugar de apanhar o voo para Bruxelas no passado Domingo, enganei-me no avião e vim aterrar na Sibéria! Pode lá ser? Enquanto vos escrevo e o José Rodrigues dos Santos anuncia para Portugal uma onda de frio, lá fora a temperatura é de doze graus abaixo de zero. Ontem era de zero e para amanhã prevê-se um ligeiro aumento: um grau negativo. Após duas semanas muito bem passadas na nossa querida Lisboa, ontem de manhã fiquei sem palavras quando me levantei. Abri de rompante a janela, para ver se dava ar ao quarto, mas qual arejar, qual quê! Diante de mim, um imenso manto branco cobria os automóveis e os passeios, como se tivesse nevado sem parar durante toda a noite. E o que se faz perante tal cenário? Volta-se para a cama? Sentamo-nos num aquecimento? Enfiamo-nos num banho de vapor o dia inteiro? Nada disso! Tratava-se do primeiro dia de trabalho no novo ano e, por isso, vamos lá enfrentar o frio! Ao longo da noite, o gelo acumulou-se nas ruas, de modo que os cinco minutos que me separam do meu local de trabalho se transformaram em quinze, percorridos a passo de caracol. Uma colega mais assustadiça, ao olhar para a neve, decidiu pura e simplesmente meter um dia de férias e não sair de casa. Mas eu sou um homem de coragem, por isso toca de calçar meias até ao joelho, colocar o gorro, as luvas e o cachecol. Mas o frio é mais forte do que nós: não há parka, nem casaco de penas nem botas que valham. A única solução é mesmo… estar próximo de um aquecimento!