domingo, 5 de abril de 2009

A crise 2

Continuo a ler, continuo a ver televisão e agora já sei que os líderes das maiores economias do planeta se encontraram em Londres para reverter a maré. Desta feita, em vez de organizarem “bailouts” para a banca, optaram por um mega plano de salvamento para o Fundo Monetário Internacional, o tal amigo das previsões que, como dizem no mundo da bola, faz os prognósticos no fim do jogo. Enquanto esperamos que os biliões de que tanto se falou cheguem a quem mais precisa e a crise acabe mais depressa do que começou, as televisões distraem-se e tentam distrair-nos com os passeios da Michelle Obama, que é obviamente mais importante do que tudo o resto. O tio Cavaco também anda um bocado distraído, porque, como hão-de compreender, o Estatuto dos Açores é um assunto de muito maior relevância. Entretanto, como a malta está bem é a laurear a pevide, alguns dos políticos que foram a Londres resolver a crise seguiram imediatamente para Estrasburgo, onde o Sílvio Belusconi, que é um homem educado como todos sabemos, resolveu trocar a Angela Merkel pelo telemóvel. Enfim, cada tem as suas prioridades e às vezes esta maçada de cumprimentar as pessoas calha nos momentos mais inoportunos.
Entretanto, eu cá continuo sem perceber algumas coisas…
Uma delas é como é que de um momento para o outro as economias mais prósperas entraram em profunda recessão. Provavelmente o problema é meu, que devo ser desinformado, iletrado ou pura e simplesmente imbecil. Li recentemente que, ainda há dois anos, o PIB da Irlanda crescia 6% ao ano e o de Singapura mais de 7%. Este ano, prevê-se que decresçam na mesma proporção. O que quer dizer que fosse lá o que fosse que estivesse a empurrar este crescimento, muito forte não era certamente. Fosse por conta da bolha imobiliária, do investimento estrangeiro ou do comércio internacional, estes países enriqueceram muito em relativamente pouco tempo. Mas que riqueza era essa que tão rapidamente desapareceu? Seria mesmo riqueza ou apenas ilusão? Que fundações tão pouco sustentáveis eram aquelas que, ao primeiro abanão, deram de si? Ou será que não havia fundações nenhumas e tudo não passava de um castelo de cartas?
Enquanto tudo isto me parece envolto em bruma, a boa da OCDE – a outra amiga que se dedica às previsões – sugeriu que o G20 dê sumiço aos paraísos fiscais, porque fez uma lista negra da qual a Bélgica só escapou porque foi parar à lista cinzenta. Mas tanto quanto julgo saber, os americanos que compraram casas que hoje não valem um terço do valor das hipotecas não as compraram no Liechtenstein, compraram-nas nos Estados Unidos. Nem pediram dinheiro emprestado a nenhum banco de Aruba, mas a bancos americanos, os tais donde o dinheiro dos depósitos bazou sabe-se lá para onde e o dinheiro dos contribuintes entrou sem eles darem licença.
E como se tudo isto não bastasse, a RTP passa uma reportagem sobre um atleta que corre pelas ruas de Paris tal como veio ao mundo e o José Rodrigues dos Santos encerra o Telejornal com esta verdadeira pérola: «E corre nu pelas ruas mostrando a sua grande vara!» Pode lá ser? Cá para mim, está tudo a ficar varado da cabeça…

3 comentários:

Anónimo disse...

As coisas que um expatriado vê na RTP, eu também vi,mas não dei conta da boca do José Rodrigues dos Santos. Não é preciso ir a França para ver um homem nu, porque um domingos atrás, no Tamariz - Estoril, cerca do meio dia, um turista que devia pertencer a um grupo qualquer que vestia uniforme,despiu-se totalmente e voltou-se a vestir em plena explanada.
È optimo não perceber a crise e Deus nos guarde da sentirmos.
Beijinhos

M disse...

Pois é, andavam todos distraídos a dar o resultado de previsões de crescimento , quando o que deviam dar era de decréscimo. Mas provavelmente baralhavam-se com a moda que agora inunda os textos, queriam dizer que o PIB ía dimiuir, mas como utilizaram a expressão "crescer", com sinal negativo, baralharam tudo e agora o Zé aguenta. Na realidade ando tudo um pouco avariado e não varado. Beijos M

Peg solo disse...

isto anda mto abandonado!