quarta-feira, 22 de setembro de 2010

As luzes das colinas

Adoro chegar a casa e ver as luzes nas janelas dos vizinhos. Quando entro e me abeiro da varanda, o meu condomínio parece uma espécie de presépio iluminado. Uma luz aqui, duas ali, outras tantas acolá. Vem-me à memória uma canção antiga sobre Lisboa:

Lisboa adormeceu, já se acenderam
Mil velas nos altares das colinas
Guitarras pouco a pouco emudeceram
Cerraram-se as janelas pequeninas

Julgo que é uma canção dos anos 60, que agora ouço em versão renovada num disco absolutamente fabuloso que comprei quando estive em Lisboa. Canta a Anabela. Com uma voz muito doce e suave, sobre uns arranjos intimistas e sussurrantes. Assim a puxar para o jazz mas também há ali um som latino que me agrada. Só músicas do antigamente, mas com nova roupagem.
Claro que quatro prédios no meio de várias torres de escritórios não têm nada a ver com as colinas da nossa Lisboa. Mas há alguma coisa nas luzes das janelas que me reconforta.
Isto de se viver numa espécie de condomínio só tem uma pequena desvantagem: as pessoas – pelo menos algumas – adoram dar conta da vida alheia. Há umas semanas, organizaram um simpático jantar no jardim para que os vizinhos se conhecessem. Qual não é o meu espanto quando um deles começa a contar quem saía à varanda primeiro, quem tomava o pequeno-almoço fora e quem raramente ia ao jardim. Ora esta! Dei-lhe um desconto porque era uma daquelas bichas bruxelenses (quase tão típicas como os mexilhões) que não têm mais com que se entreter e têm uma coscuvilheira dentro de si. Mas eis que outra vizinha se vem juntar a esta exposição pública. Também ela dava conta dos horários e hábitos alheios.
Mas será que vocês não têm vida própria? Não têm trabalho, nem interesses? Não têm televisão? Nem o jantar para fazer? Porque eu tenho. Cambada…