sábado, 24 de maio de 2008

A vela

Esta é realmente incrível. Mas aconteceu. E comigo.
Ora na semana passada, a senhora que me faz a limpeza da casa sem querer queimou a parte de baixo do ferro. Diz que passa sempre o ferro na tábua antes de passar a roupa propriamente dita, não seja conto que o dito esteja muito quente, só que desta vez virou-se para pegar na roupa e deixou o aparelho em posição horizontal. Resultado da obra: chego a casa e descubro, para meu absoluto espanto, que a parte de baixo do ferro, que sempre foi cinza e branca, estava verde. Por seu lado, a parte da tábua onde o ferro ficou esquecido no seu calor solitário ficou um bocado menos verde do que era, aliás ficou assim mais para o preto do que para o verde. Bom, toca a telefonar à responsável da ocorrência e o problema fica logo ali resolvido, que esta senhora é de uma eficiência fantástica (não é belga, escusam de perguntar): «Na semana que vem, eu levo uma cera que limpa o ferro e fica como novo!». Até aqui tudo bem, ou pelo menos a caminho do conserto.
Ocorre que a tal cera mágica deve ser coisa muito requisitada ou então os supermercados tiveram uma ruptura de stock ou, quem sabe, a fábrica fechou para férias. Certo é que não foi possível encontrá-la em nenhum supermercado, mas a minha despachadíssima empregada arranjou imediatamente outra solução: «Vou comprar uma vela.» Uma vela?? Vela? «Sim, não sabe o que é uma vela?» Sim, sei mas não estou a ver qual a relação entre uma vela e um ferro de engomar. «Ah, então, a vela é o ideal para limpar o ferro, é assim que fazemos na minha terra.» Com uma vela? Bom, à falta de outra solução, concordei, agradeci e dei por terminado o telefonema.
Nisto, fui para uma reunião fora e deixei no gabinete essa maravilha da tecnologia sem a qual já não vivemos chamada telemóvel. Ao voltar, venho que tenho dez-chamadas-dez da minha empregada. O pânico apodera-se de mim, mas que se terá passado, ligo imediatamente e descubro que não sou o único em pânico: a senhora estava para lá do pânico, à beira da total loucura. Acontece que, sem avisar ninguém, o detector de fumos do meu apartamento fez disparar o alarme, que desatou numa berraria insana. Apavorada, a minha empregada decide sair de casa e telefonar-me, e eu sem atender porque não estava lá e ela a ligar e isto dez vezes, como vos disse. Apuradas as razões da ocorrência, só tinha acendido a vela para, como previsto, limpar o ferro. Mas o imprevisto está sempre à espreita e desta vez entrou em cena! Sinceramente parecia-me impossível que uma vela fizesse fumo suficiente para o detector acusar, até porque cozinho todas as semanas, com vapor por todo o lado (porque a minha casa não tem extractor, nem chaminé, nem ao menos um buraco no tecto por onde o vapor saia - pode uma coisa destas??) e nunca tal tinha ocorrido. Mas o senhorio afinal confirmou que sim, a culpa era da vela, o fumo da vela faz toda a diferença porque o detector é muito sensível e sabe muito bem distinguir o fumo do vapor da comida. E, assim sendo, que até era bom ter acontecido isto, porque assim sabemos que o detector funciona. Pois claro, e eu que não pensado nesta perspectiva! Assim fiquei com a roupa por passar, a senhora passou uma manhã de pânico pensando que havia algum problema no prédio, mas ao menos fiquei a saber que o detector funciona. E bem!
Como vêem, temos sempre de olhar a vida pelo lado positivo! Desta história inimaginável aprendi três coisas ultra importantes: primeiro, o detector funciona bem, o que me tranquiliza imenso. Segundo, que é espertíssimo e não confunde vapor com fumo. E terceiro, e muito mais importante do que tudo o resto, que um ferro queimado se pode limpar com uma vela! Sim, porque ao chegar a casa encontrei o dito imaculado como se nada lhe tivesse acontecido. Esqueçam o tempo em que se ia à loja mandar reparar ou, pior ainda, se telefonava para a marca do ferro a perguntar o que fazer. Acabou. E a ideia de comprar cera para o dito vai também pelo cano. Doravante, meus amigos, se deixarem queimar o ferro já sabem que uma vela resolve logo o problema. Depois disto, não digam que eu não dou bons conselhos!
Aproveito para destacar a participação da cantora portuguesa no Festival da Eurovisão, a Vânia Fernandes, que teve um magnífico desempenho na semifinal e passou merecidamente à final. A parte instrumental era tão bonita que quase se ouvia o barulho das ondas a acompanhar as vozes dela e do coro! Amanhã estarei numa festa de inauguração de uma casa, mas a deitar um olho ao ecrã, porque o organizador prometeu logo que, apesar de a casa estar completamente vazia, a pedido de várias famílias haveria uma televisão para ver o Festival. A Hillary disse «full speed on to the White House» e eu neste caso, e com maior sucesso, desejo «full speed on to... 12 points

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Óculos

Hoje deixo-vos uma mensagem rápida, pois aqui a hora vai mais adiantada, e que originalmente tinha como objectivo mostrar-vos que afinal há coisas que funcionam muito melhor na Bélgica do que em Portugal, é preciso é procurar muito bem. Depois de vos ter contado como funciona a recolha do lixo e outros capítulos afins desta saga que é viver expatriado, pensei que era desta que ia adicionar um capítulo altamente positivo sobre os belíssimos serviços que Bruxelas oferece.
Pois ocorre que preciso de mudar de óculos e comprar novas lentes de contacto. Vai daí, como já tinha comprado lentes de contacto na minha zona e não encontrei nenhum oculista minimamente simpático quanto mais eficaz, pedi ajuda a uma colega que também usa óculos. É o que se chama uma rede de entreajuda entre «caixas de óculos», como se dizia no liceu de quem os usava. Prontamente, a minha colega que é uma jóia de pessoa e que eu já alcunhei de «princesa árabe», indicou-me logo a morada do oculista aonde vai e disponibilizou-se logo para ir comigo. Não fosse dar-se o caso, mais do que provável, de o meu Francês não ser suficiente e precisar de ajuda, já que a minha colega é francesa. Terminado o trabalho, lá fomos, lá encomendei as lentes de contacto, mostrei a receita dos óculos e perguntei quanto tempo demorariam a estar prontos. «Dois dias». Dois dias? Não, não entendi bem. «Vou explicar: eu quero óculos de lentes orgânicas, anti-reflexo, como a médica me pôs nesta receita mas quero manter a mesma armação. Quanto tempo demora?» «Dois dias», respondeu o senhor e eu fingi que confiava. À saída da loja, imediatamente pergunto à minha colega se expliquei bem e ela que sim, que o meu Francês era óptimo. Então mas como é que em Portugal levam quase uma semana a fazer uns óculos e aqui é de um dia para o outro? «Mas o homem disse mesmo isso? Achas que ele entendeu?» «Sim, entendeu, mas que coisa...» Despedi-me da minha amiga, mas não me dei por contente. Escaldado como estou com as lojas nesta terra, resolvi subir a avenida do oculista e entrei em todos os oculistas que vi e fiz a mesma pergunta. E, surpresa, recebi sempre a mesma resposta! E assim me alegrei pela eficiência local nesta tarefa tão fundamental para os míopes como eu que é fazer óculos.
Passaram quatro dias. Hoje, fui buscar as lentes de contacto e pedi para me colocarem as novas lentes nos óculos. Estão a ver a resposta, não estão? Dois dias não foi de certeza. Nem três. Nem quatro. Ora bem, uma semana foi a resposta que recebi. E toma que é para aprenderes a não deitar foguetes antes da festa. E, depois da recolha do lixo, da limpeza das ruas e do tratamento nas lojas, lá se vai mais uma esperança que eu tinha na eficácia dos serviços locais. Mas pelo menos neste oculista demoram mas tratam-nos como gente, ao menos isso. Que, tendo em conta o que já conhecemos, já é muito!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Alemanha profunda

Realmente não ficámos no tal hotel que procurámos durante horas, idilicamente chamado Am Katherinenhof, porque, segundo a responsável, a noite ia ser muito barulhenta e tinha optado por colocar-nos noutro poiso. E nisto desaparece dentro do hotel... Quando reaparece é para nos dizer que só tem um quarto, quando nós tínhamos reservado (e pago em parte) dois. A mulher não está boa, pensámos nós, e mostrámos a confirmação da reserva, mas ela insistiu que levou a semana toda, coitada, a telefonar para o sítio web onde fizémos as reservas para cancelar. Por acaso, não lhe ocorreu telefonar-nos a nós quando tinha o nosso número de telefone, aliás mal é feita a reserva e debitado parte do valor, o hotel recebe logo a informação sobre os clientes, mas esta abécula esteve-se nas tintas, se calhar pensou que, como o hotel era onde o diabo perdeu as botas, provavelmente não o encontraríamos e o problema ficaria resolvido. Pois não ficou. Até porque o problema, a bem dizer, era outro: como está bom de ver, a desculpa inicial do barulho era tanga e a consideração que fingiu ter por nós ao colocar-nos noutro hotel também. O que se passava é que o hotel dela estava apinhado de motas e de motards, ele era motas dentro do hotel, ele era motas à volta do hotel, ele era uma tenda gigante montada para os condutores das ditas cujas celebrarem terem enchido o hotel todo e não terem deixado espaço para nós!
Sem mais conversa, enfiou-se num carro à nossa frente e conduziu-nos para fora da zona do hotel, para fora da povoação, para fora da estrada por onde tínhamos vindo, valha-me Deus que depois de tanto andar ainda voltamos para Colónia, e manda-nos entrar num hotel enorme, completamente às escuras, evidentemente fechado e povoado de bandeiras de uma famosa consultora. Entretanto, aparece outro homem, o dono do hotel a quem, percebemos entretanto, a doida tinha pedido encarecidamente que dispensasse um quarto. Que agora passava a dois, mas o senhor, muito calmo, tentou tranquilizá-los, «vão ver que ficam muito melhor aqui do que no hotel dela», imaginem como seria, eu cá prefiro nem imaginar. Pelo que me apercebi, o hotel é utilizado pela tal consultora para reuniões e formação, pois todo ele é bandeiras e quadros e brochuras da dita cuja. Mas os quartos até eram óptimos, espaçosos, lindamente mobilados e decorados, pois havia plasmas, pois havia sofás que reclinam, pois havia quadros de bom gosto, pois estava tudo muito bem até que dá à maluca para exigir o pagamento logo ali. O quê? Então mas que vem a ser isto? Ainda mal pusemos o pé no quarto e já estamos a pagar? «Olhe lá, a senhora costuma pagar a conta do restaurante antes de comer?», pergunto-lhe eu já sem achar graça nenhuma. E ela a fazer-se de desentendida, que no dia seguinte não nos vê, olha que pena, também não temos gosto nenhum em ver-te, não se perdia grande coisa. Nisto, o amigo que lhe tinha arranjado os quartos está a começar a perder a paciência, nós também e a mulher a bater na mesma tecla, até que se passa de vez: ou pagam agora ou saem daqui! Ou saímos? Nós? Que fizemos uma reserva tão honesta, como diz a minha querida Margarida, e tão atempada? Ou a mulher está parva de todo ou está tentar enlouquecer-nos. Por muito que nos tenha custado, não tínhamos onde ficar, estávamos no meio de nenhures e não restou outro remédio senão pagar. Felizmente, os quartos eram belíssimos, a estadia foi pacífica e o pequeno-almoço do dia seguinte bem fornecido. E a maluquinha acabou por se redimir ao procurar um restaurante para nós comermos, uma tarefa hercúlea, dado que eram dez e meia da noite e estávamos na Alemanha profunda, muito parecida com o Portugal profundo mas sem tascas.
E na manhã seguinte, como diz a minha Avó, abalamos dali rumo a Aachen, uma cidade encantadora e cheia de vida. Onde fiz a compra mais improvável: uma almofada. Quem me conhece bem sabe da minha clássica dificuldade em adormecer e das múltiplas almofadas que já experimentei, anatómicas e não só. Esta por acaso não é anatómica, não custou uma fortuna, nem é anunciada na televisão. Mas lá tem cumprido a sua missão!
No caminho de volta para Bruxelas, ainda tivemos oportunidade de passar em Maastricht, que é uma vila à beiro-rio repleta de lojas e de convidativas esplanadas. Mais um sítio que recomendo!

Notícias da sauna

Eis-me de volta a Bruxelas, depois de um fim-de-semana prolongado algo movimentado mas muito agradável.
Isto de fins de semana prolongados efectivamente dá para muito pouco, vou ter de explicar no trabalho que Portugal, bem vistas as coisas, é muito longe e, quando se lá chega, para ser franco, há muito que fazer! É preciso estar com a família, é preciso estar com os amigos, é preciso ir ao médico (não é que não existam cá, mas nunca fiando...) e desta vez foi preciso arrumar a roupa de Verão, uma vez que aqui apenas tinha roupa de Inverno. Sim, porque eu estou-vos a escrever da sauna, não propriamente de uma terra fria e chuvosa como até há umas semanas atrás, mas de um forno que serve faladores assados ao almoço e fritos ao jantar. Ao almoço, é assado porque o gabinete não há ar condicionado que lhe valha e os estores mais fechados não podem estar senão parecemos os filhos na Nicole Kidman naquele filme em que não podiam abrir as janelas, de modo que ao chegar pela manhã sente-se logo uma aconchegante sensação de calor. Que depois se vai adensando ao longo do dia, à medida que nós vamos assando, até atingir o seu ponto máximo ao meio da tarde quando o sol incide violentamente nas nossas janelas e a sauna se transforma em forno: nessa altura, o assado está no ponto. Ao jantar, serve-se falador frito, porque depois de um intenso dia de calor, chega-se a casa na esperança de refrescar e pimba, bate-nos logo o calor com toda a força que andou a acumular durante o dia para nos fritar à chegada. Como vêm, das duas uma: ou trazia roupa de Verão ou passava a ir de calções e havaianas para o trabalho, já que era a única roupa fresca que por cá tinha. Pensando bem, isso é que era uma ideia original, estão-me a ver de pasta na mão com calções, de preferência piratas, e havaianas? Pois, eu também não. Depois a moda pegava e era uma pouca vergonha e ainda diziam que tinha sido eu quem tinha dado o mote!
Puxando o fio à meada da viagem, estávamos nós a sair de Colónia. Que, na realidade, foi uma coisa fácil, foi só entrar no carro, procurar a auto-estrada e vai disto. E foi tão bem ou tão mal que não apanhámos a auto-estrada correcta e a Dulce sempre a dizer «eu acho que nos estamos a afastar» e nós sempre a achar que, vendo bem, íamos para Sul, que era o que interessava, por isso estávamos no caminho certo. O nosso objectivo era chegar a Gemünd, um lugarejo algures entre Colónia e Aachen, na Alemanha mais profunda que vocês possam imaginar. Seguindo pela auto-estrada correcta, coisa que não fizemos, seria um percurso de 40 km, mais uns quilómetros extra por estradas menos modernas. Como nos perdemos, foi uma canseira de mais de três horas por poucas auto-estradas e muitas estradas nada modernas e sinalizadas de forma confusa. Ora a terra era numa direcção, ora passava a ser noutra. Até que nos disseram que fôssemos em frente, que dali a nada aparecia um cruzamento com uma seta. Dali a nada, não apareceu nem cruzamento, nem seta, nem coisa nenhuma. Depois ligámos para o hotel, que, para dar indicações era tão bom como o de Colónia, e nos mandou seguir por uma estrada que não existia. Quando eu insisti na inexistência da coisa, mas tive de insistir mesmo muito, lá disseram que fôssemos pela auto-estrada (outra vez) e encontraríamos uma seta a indicar Gemünd. Viram vocês a seta? Nós também não. Em desespero de causa, parámos numa vila com um hotel, é desta que nos vão ajudar, toca a sair do carro para ir perguntar, mas ajuda só mesmo em sonhos, porque o hotel estava vazio e a vila parecia fantasma, sem uma pessoa que fosse a quem perguntar. Por acaso, à saída da dita, damos de caras com outro hotel, este com ar de coisa habitada e vai de perguntar e é agora que nos ajudam, porque nos dão logo um esquema do Google com o nome das estradas e ruas todas que temos de percorrer até lá chegar. Acontece, porém, que o esquema não ajuda nada, porque a malta não sabe o nome das estradas e o dito quase nunca está indicado. Finalmente, após uma maratona de carro pelo interior da Alemanha interior, aparece a bela da placa, amarela, provocadora e a fazer troça de nós: Gemünd! Ah, vira-se já aqui e pronto! Pronto nada, porque virou-se e na mesma hotel nem vê-lo. Perguntamos, telefonamos e é já ao fundo da rua, mas a rua não continua em frente e por isso não há um fundo da rua. Mas a minha tia que é muito despachada resolve fazer as coisas à sua maneira, sai do carro e em menos de nada encontra o hotel. Aleluia! Já temos onde pernoitar!!! Pode ser no fim do mundo, mas ao menos chegámos! É só parar o carro e vamos directos para o hotel... mas parece que não... não vamos? Não ficamos neste hotel? Pedimos dois quartos duplos e só têm um? E ainda por cima é noutro hotel qualquer? Porque este está cheio com uma concentração de motards? Só podem estar a brincar connosco. Mas não estavam...

sábado, 10 de maio de 2008

Em directo de Portugal


Hoje escrevo-vos deste nosso magnífico rectângulo à beira-mar plantado que se chama Portugal. Cheguei Sexta à noite, aproveitando o Dia da Europa que
ontem se comemorou e outro feriado que muito oportunamente coincide com a próxima Segunda. Assim sendo, lá fiz a mala e cá vim ao encontro da minha família, dos meus amigos e desta cidade sempre enconcantadora que é Lisboa. Não sei quem disse que Lisboa tem uma luz única, já ouvi isto centenas de vezes mas deve ser daqueles ditos populares que só os mais eruditos sabem ao certo como nasceram. Mas o que é certo é que anteontem estava no avião, a descer sobre Lisboa, a olhar o Tejo da altitude, a apreciar o sol brilhando sobre as colinas, e imediatamente concordei com o desconhecido autor da tal frase. Lisboa é realmente única, como logo no início deste blogue escrevia e com inteira razão a Margarida.
Depois, o avião aterrou e a beleza esmoreceu instantaneamente. Chegámos pontualmente, mas acabámos retidos no avião porque a Groundforce não encostou as escadas junto ao dito cujo para os passageitos desembarcarem, assim avisou um dos tripulantes passado um quarto de hora. Quando finalmente chegaram as escadas e desembarcámos rumo à sala de recolha das bagagens, a beleza que já tinha esmorecido foi quase liquidada pela lentidão indescritível de quem quer que traz as malas do avião para a passadeira: não sei se é a tal Groundforce que não encosta as escadas ou se é outra qualquer com idênticos problemas de desempenho, o que sei é que estivémos 50 minutos bem contadinhos à espera que as bagagens aparecessem na passadeira! No meio desta espera que desespera, lembrei-me de que na Bélgica, onde tantas coisas parecem não funcionar, a entrega das bagagens é uma limpeza: os passageiros chegam à sala de recolha e as ditas chegam quase ao mesmo tempo. E, ao contrário de Lisboa, o aeroporto de Bruxelas não parece um estaleiro permanente onde as obras nunca terminam e os passageiros se acotovelam e os acompanhaantes não podem entrar na zona de check-in...
Adiante, pois o propósito desta mensagem era, como prometido, mostrar-vos as fotografias de Colónia.





E cá estão, começando pela Catedral, onde se sobem 502 degraus (leram bem, não precisam de voltar atrás!) para depois se contemplar uma vista magnífica através de uma rede tão densa e estreita que mal lá cabem os nossos olhos, quanto mais a máquina fotográfica. Devem ter medo que alguém se suicide, de modo que envolveram o terraço panorâmico numa rede tão estreita que só uma formiga se pode atirar lá de cima e mesmo assim tem de ser flexível e magrinha senão nada feito. Em compensação, a própria Catedral é majestosa por si só, por dentro e por fora, como as fotografias demonstram. Pena que celebrem missa constantemente, se mais horas houvesse mais missas eles diziam, porque nessa altura não se pode visitar o templo e assim ficámos sem ver as relíquias dos Reis Magos. Além da beleza da Catedral, o espaço circundante é uma ampla e animada zona pedonal repleta de lojas, mesmo à beira rio.



E, como se os sentidos ainda não estivessem suficientemente apurados pela beleza da paisagem, no final do passeio marítimo há uma instituição (merece inteiramente a designação) chamada Museu do Chocolate. Trata-se de um espectacular edifício de três pisos em forma de navio, onde se vê toda a história e processo de fabrico do chocolate, desde uma estufa tropical que recria as plantações até uma moderna cozinha onde o dito cujo é cozinhado, separado e embalado.




Uma verdadeira preciosidade este museu! Vai um quadradinho de chocolate? Cá para mim foi logo uma tablete quase inteira, de um chocolate estupendo recheado de frutos do bosque... escusam de perguntar, esqueci a tabela das calorias no momento em que abri a tablete! E, mais, ainda lá voltei para uma fatia de bolo... inevitavelmente também de chocolate!





Coincidiu a nossa visita com o 1.º de Maio, de modo que no centro da cidade havia uma enorme festança com comes e bebes e música popular e a malta toda na rua de cerveja na mão, em alregre confraternização.





Terminada a visita, que melhor maneira de nos depedirmos de Colónia senão com uns deliciosos cachorros quentes alemães comidos mesmo à beira do Reno? Com salada de batata e tudo?




Antes do adeus, ainda tivémos oportunidade de visitar a Filarmónica da cidade, que é sem dúvida digna de registo, pena não poder aqui reproduzir o registo fotográfico, que ficou demasiado escuro. É um anfiteatro colossal em forma de cone, ou seja, de todos os sítos se vê o palco que está no nível mais baixo. Uma espécie de sala principal da Gulbenkian, mas de arquitectura diferente e com o quintuplo da capacidade. Tem umas cadeiras hiperconfortáveis, que acompanham as costas (quem tem dores nas costas certamente me compreende) e nesse dia estava aberta às crianças, por isso havia um concerto e actividades especiais a penar nos mais pequenos. A dinâmica cultural alemã no seu melhor!





Assim dissémos adeus a esta cidade, na certeza de que merece uma visita mais demorada (leia-se fim de semana de compras), e partimos em direcção a Gemünd, um lugarejo perdido na Alemanha profunda, porque no dia seguinte seguíamos para Aachen, mas apenas conseguimos encontrar hotel neste local escondido no meio do nada. E para lá chegar quem andou perdido de todo fomos nós, mas disso vos contarei na próxima mensagem! É mais uma daquelas hitórias do arco da velha...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Colónia à vista... mas do hotel nem sinal!

Tão bom ler estes comentários da minha família!!! Ainda por cima, todos gostaram da minha casa, que, graças à generosidade da minha tia e da minha avó e à paciência da minha Mãe, agora está ainda mais bonita com um quadro fantástico. Comprei um poster do «África Minha» e mandei colocar vidro por cima e uma fina moldura dourada que combina na perfeição com as cores do poster. Que, por sua vez, combinam com as da casa. Mais uns tempos aqui e escrevo um livro de decoração... «Guia prático de decoração para expatriados», que vos parece? Ou então, «Como transformar um T1 belga numa casa portuguesa concerteza». Depois só faltava a Oprah descobrir que eu existo e convidar-me para ir ao programa dela falar do assunto, já que falam tantas vezes em mudanças nas casas. Aliás, o que vinha mesmo a calhar era aquele programa em que mudam as casas das pessoas completamente de borla, infelizmente acho que não existe por cá, senão candidatava-me logo e era só ver entrar a mobília nova, montes de roupeiros (de preferência com montes de roupa nova já lá dentro), um sofá daqueles com chaise longue no canto, um plasma topo de gama... bem, e já que se está a pedir, coisitas assim mais práticas como um frigorífico dos normais também seriam bem-vindas. O pior que podia acontecer era entrar tudo e sair eu...
Amiga Patrícia, obrigado pelas novidades que me dás. Em relação ao nome da cidade, originalmente era apenas Louvain ou Leuven, em Holandês. Mas, como esta gente não há meio de se entender, andaram às turras nos anos 60 por causa da universidade, a tal onde a Paulinha andou, e dividiram a dita cuja que era bilingue em escolas separadas. Enquanto os flamengos se mantiveram em Leuven, os francófonos decidiram deslocar a sua universidade para além da fronteira linguísitica, construindo-a numa nova cidade: Louvain-la-Neuve. Como vês, não era só na nossa faculdade que a malta se desentendia, a diferença é que aqui a coisa não fica por protestos e greves e os da asociação de estudantes a pintarem cartazes o dia todo no meio do pátio a estorvar o caminho de quem passa.
Recuperando o rasto da nossa viagem, faz hoje uma semana que fomos para Colónia, uma cidade lindíssima com uma catedral colossal, uma localização deslumbrante sobre o Reno e fiadas de lojas que nunca mais acabam. Ora a minha Mãe que é uma pessoa muito organizada tinha reservado um hotel pertíssimo da Catedral, de modo a ficarmos mesmo no centro. Mas o hotel estava tão perto, tão perto da Catedral que levámos horas a dar com ele! E a Catedral, como sabem, não é propriamente um edifício térreo que não se veja de lado nenhum, é um templo gigante que se vê de todo o lado. Depois de abordarmos uma quantidade incontável de transeuntes, que nos diziam que não podíamos chegar ao hotel de carro porque estava situado numa zona pedestre, e de ligarmos diversas vezes para o hotel, que dizia exactamente o oposto, não nos restou outra solução senão parquear o carro numa garagem junto à Catedral e dar corda aos pés para procurar o hotel. Nisto tinham-se consumido horas em voltas e voltas em torno da Catedral a tentar perceber como é que se passa para o lado de lá. A resposta é: não se passa... de carro! Afinal o bom do hotel, que sugestivamente se chamava Callas, era efectivamente paredes-meias com a Catedral mas numa zona totalmente interdita ao trânsito. Nada como os locais para informar correctamente!
Para que não pensem que de Colónia só falo e não mostro fotos, nos próximos dias colocarei algumas... mas como não as tenho aqui vou ter de as ir buscar... a Portugal!
Até breve!

domingo, 4 de maio de 2008

Primeira etapa

A primeira etapa foi Lovaina, ou Louvain ou ainda Leuven, consoante os idiomas. Em Espanhol provavelmente será qualquer coisa muito mais estrambólica, porque Brugges se traduz como Brujas - exactamente a mesma palavra usada para designar as malvadas!
Lovaina está situada a 26 km a sudeste de Bruxelas, percurso que se faz tranquilamente de comboio em cerca de meia hora, e é uma cidadezinha encantadora, repleta de edifícios históricos impecavelmente preservados e atafulhada de bicicletas. Não por acaso, é famosa pela sua universidade, que, bem a propósito, inclui uma reputada faculdade de comunicação. Aqui ficam algumas fotos que ilustram como esta cidade é realmente agradável e tem um ambiente particularmente animado. Como se vê numa das fotografias, há imensas esplanadas com imensa gente, que nesse dia estava a apanhar imenso calor! Note-se para quem quiser visitar que, além da parte histórica, há uma rua que liga a estação ao centro completamente apinhada de lojas de ambos os lados, pena que estivessem fechadas, porque está ali uma concentração tão jeitosa que nem o menos consumista resiste.

E estava tudo a correr tão bem e a cidade era tão bonita e o tempo tão soalheiro quando tinha de acontecer uma daquelas coisas que volta e meia me acontecem nesta terra. A malta estava cheia de fome, com tanto andar a pé já passava das cinco, e assentámos arraiais numa esplanada virada para um canal. Neste ambiente prazenteiro, pedimos uma tortilha e avisam-nos logo que a tortilha não é à espanhola mas à californiana, mas a malta esfomeada está-se nas tintas para a origem da receita, quer mas é ver a dita no prato. Esperando se passam dez minutos, tempo de ir à casa de banho e converseta daqui e dali, tortilha nem vê-la, até que um dos empregados diz que daqui por vinte minutos já haveria comida. Daqui a vinte minutos??? Uma tortilha? Pânico geral, o estômago já não aguenta mais, toca de chamar o empregado, que responde angelicalmente que antes das seis não há ninguém para cozinhar. Quê?? Então deixou-nos pedir sem avisar que a cozinha estava fechada? «Pois, desculpem, quando eu disse 20 minutos para a comida, queria dizer que daqui a 20 minutos... há-de chegar alguém... e depois fazem a tortilha!». Então e por que é que só disse isso depois de estarmos sentados há dez minutos? Ficámos sem resposta, sem tortilha e fomo-nos vingar num gelado de tamanho XL...
Antes que me esqueça, os créditos das fotografias são inteiramente da minha Mãe. Um beijinho e bem hajas.
Hoje, além das fotos, deixo um beijinho especial para todas as visitantes do blogue que são mães. Feliz Dia da Mãe!


Em família

Meus amigos, hoje sou um homem particularmente feliz porque tenho tido a companhia da minha família desde o dia 25, uma estadia que me deixou a alma lavada e o coração cheio. Daí a minha ausência de quase uma semana, que é, bem sei, imperdoável... mas em compensação trago aqui um rol de coisas para contar que parece não ter fim. Incluindo algumas peripécias que não lembram a ninguém, porque ultrapassam tudo o que já tinha vivido até aqui, contadas vão parecer mentira mas aconteceram e comigo! E também trago umas fotografias muito ilustrativas, porque já li os vossos sempre agradáveis comentários sobre a falta das ditas.
Pois, comecemos pelo princípio. A minha família chegou no 25 de Abril, que aqui não é feriado mas poderia ser, dava um jeitão poder gozar todos os feriados dos outros Estados-Membros, sobretudo quando os ditos são à Sexta ou à Segunda. Mas nada feito, o 25 de Abril é mesmo propriedade lusa e portanto lá veio a minha família em férias e eu, ao fim de um dia de trabalho, esqueci instantaneamente o dia de trabalho, a semana de trabalho e todos os assuntos conexos, porque é um privilégio ter a nossa família a visitar-nos. Os que já estiveram expatriados ou vivem longe da família compreendem-me certamente e acho que os que nunca estiveram em nenhuma das situações também! Há lá coisa melhor do que a nossa família? Por coincidência, no mesmíssimo dia 25, tive uma entrevista para conhecer o presidente da agência, que é um encanto de pessoa e me perguntou se tinha família, ao que eu prontamente respondi «Sim!». A conversa continuou sobre se a família tinha vindo comigo e quantos filhos tinha. «Filhos? Não, eu sou solteiro». «Ah, era nisso que estava a pensar quando lhe falei em família!». Pois eu cá não estava a pensar em nada disso, e por aqui já se vê como cada um tem o seu conceito de família. Lá por não ser casado nem ter filhos não me passaria pela cabeça dar outra resposta!
Voltando ao fio da história, das primeiras coisas que a minha família fez foi o reconhecimento da zona, de modo que eu que nem tenho máquina fotográfica tenho já posso responder aos pedidos de vários famílias e colocar uma foto da zona onde moro. Digam lá se não é agradável? Não tem praia, que alguns de vocês têm referido nos comentários e me faz uma inveja danada, mas tem este jardim magnífico. E muito próximos estão os monumentos das outras fotografias. A propósito, dizem-me vocês que o tempo aí está muito agradável, mas eu aqui também não me posso queixar, aliás nos últimos feriados quase dava para servir ao almoço Português assado com tanto calor que passei! Ainda por cima, como quando vim para cá estava frio, quase só tenho roupa de Inverno... mas isso agora não interessa nada!
Como sabem todos os que me conhecem, a minha família adora passear (acham que eu saio a quem???) e por isso aproveitámos o fim de semana passado e os feriados desta semana para conhecer a Bélgica, já que dia 2 de Maio aqui não se trabalhou. Primeira paragem: Lovaina. Amanhã conto...