quarta-feira, 14 de maio de 2008

Notícias da sauna

Eis-me de volta a Bruxelas, depois de um fim-de-semana prolongado algo movimentado mas muito agradável.
Isto de fins de semana prolongados efectivamente dá para muito pouco, vou ter de explicar no trabalho que Portugal, bem vistas as coisas, é muito longe e, quando se lá chega, para ser franco, há muito que fazer! É preciso estar com a família, é preciso estar com os amigos, é preciso ir ao médico (não é que não existam cá, mas nunca fiando...) e desta vez foi preciso arrumar a roupa de Verão, uma vez que aqui apenas tinha roupa de Inverno. Sim, porque eu estou-vos a escrever da sauna, não propriamente de uma terra fria e chuvosa como até há umas semanas atrás, mas de um forno que serve faladores assados ao almoço e fritos ao jantar. Ao almoço, é assado porque o gabinete não há ar condicionado que lhe valha e os estores mais fechados não podem estar senão parecemos os filhos na Nicole Kidman naquele filme em que não podiam abrir as janelas, de modo que ao chegar pela manhã sente-se logo uma aconchegante sensação de calor. Que depois se vai adensando ao longo do dia, à medida que nós vamos assando, até atingir o seu ponto máximo ao meio da tarde quando o sol incide violentamente nas nossas janelas e a sauna se transforma em forno: nessa altura, o assado está no ponto. Ao jantar, serve-se falador frito, porque depois de um intenso dia de calor, chega-se a casa na esperança de refrescar e pimba, bate-nos logo o calor com toda a força que andou a acumular durante o dia para nos fritar à chegada. Como vêm, das duas uma: ou trazia roupa de Verão ou passava a ir de calções e havaianas para o trabalho, já que era a única roupa fresca que por cá tinha. Pensando bem, isso é que era uma ideia original, estão-me a ver de pasta na mão com calções, de preferência piratas, e havaianas? Pois, eu também não. Depois a moda pegava e era uma pouca vergonha e ainda diziam que tinha sido eu quem tinha dado o mote!
Puxando o fio à meada da viagem, estávamos nós a sair de Colónia. Que, na realidade, foi uma coisa fácil, foi só entrar no carro, procurar a auto-estrada e vai disto. E foi tão bem ou tão mal que não apanhámos a auto-estrada correcta e a Dulce sempre a dizer «eu acho que nos estamos a afastar» e nós sempre a achar que, vendo bem, íamos para Sul, que era o que interessava, por isso estávamos no caminho certo. O nosso objectivo era chegar a Gemünd, um lugarejo algures entre Colónia e Aachen, na Alemanha mais profunda que vocês possam imaginar. Seguindo pela auto-estrada correcta, coisa que não fizemos, seria um percurso de 40 km, mais uns quilómetros extra por estradas menos modernas. Como nos perdemos, foi uma canseira de mais de três horas por poucas auto-estradas e muitas estradas nada modernas e sinalizadas de forma confusa. Ora a terra era numa direcção, ora passava a ser noutra. Até que nos disseram que fôssemos em frente, que dali a nada aparecia um cruzamento com uma seta. Dali a nada, não apareceu nem cruzamento, nem seta, nem coisa nenhuma. Depois ligámos para o hotel, que, para dar indicações era tão bom como o de Colónia, e nos mandou seguir por uma estrada que não existia. Quando eu insisti na inexistência da coisa, mas tive de insistir mesmo muito, lá disseram que fôssemos pela auto-estrada (outra vez) e encontraríamos uma seta a indicar Gemünd. Viram vocês a seta? Nós também não. Em desespero de causa, parámos numa vila com um hotel, é desta que nos vão ajudar, toca a sair do carro para ir perguntar, mas ajuda só mesmo em sonhos, porque o hotel estava vazio e a vila parecia fantasma, sem uma pessoa que fosse a quem perguntar. Por acaso, à saída da dita, damos de caras com outro hotel, este com ar de coisa habitada e vai de perguntar e é agora que nos ajudam, porque nos dão logo um esquema do Google com o nome das estradas e ruas todas que temos de percorrer até lá chegar. Acontece, porém, que o esquema não ajuda nada, porque a malta não sabe o nome das estradas e o dito quase nunca está indicado. Finalmente, após uma maratona de carro pelo interior da Alemanha interior, aparece a bela da placa, amarela, provocadora e a fazer troça de nós: Gemünd! Ah, vira-se já aqui e pronto! Pronto nada, porque virou-se e na mesma hotel nem vê-lo. Perguntamos, telefonamos e é já ao fundo da rua, mas a rua não continua em frente e por isso não há um fundo da rua. Mas a minha tia que é muito despachada resolve fazer as coisas à sua maneira, sai do carro e em menos de nada encontra o hotel. Aleluia! Já temos onde pernoitar!!! Pode ser no fim do mundo, mas ao menos chegámos! É só parar o carro e vamos directos para o hotel... mas parece que não... não vamos? Não ficamos neste hotel? Pedimos dois quartos duplos e só têm um? E ainda por cima é noutro hotel qualquer? Porque este está cheio com uma concentração de motards? Só podem estar a brincar connosco. Mas não estavam...

1 comentário:

Anónimo disse...

Delicio-me com estas descrições, até deixo o IRS à espera o que quer dizer que depois tenho de fazer noitada. Estas cenas de hotéis que não se encontram, autoestradas que vão dar exactamente ao sítio contrário ao que se pretende e parvalhões que não nos querem receber a chave do carro, são exactamente as que nos ficam na memória, ou então é a minha memória que retém mais facilmente estes episódios que os da cultura, história, etc. De qualquer forma as venturas e desventuras fazem parte do passeio e como é bom recordar uns tempos depois! Beijos M