quarta-feira, 14 de maio de 2008

Alemanha profunda

Realmente não ficámos no tal hotel que procurámos durante horas, idilicamente chamado Am Katherinenhof, porque, segundo a responsável, a noite ia ser muito barulhenta e tinha optado por colocar-nos noutro poiso. E nisto desaparece dentro do hotel... Quando reaparece é para nos dizer que só tem um quarto, quando nós tínhamos reservado (e pago em parte) dois. A mulher não está boa, pensámos nós, e mostrámos a confirmação da reserva, mas ela insistiu que levou a semana toda, coitada, a telefonar para o sítio web onde fizémos as reservas para cancelar. Por acaso, não lhe ocorreu telefonar-nos a nós quando tinha o nosso número de telefone, aliás mal é feita a reserva e debitado parte do valor, o hotel recebe logo a informação sobre os clientes, mas esta abécula esteve-se nas tintas, se calhar pensou que, como o hotel era onde o diabo perdeu as botas, provavelmente não o encontraríamos e o problema ficaria resolvido. Pois não ficou. Até porque o problema, a bem dizer, era outro: como está bom de ver, a desculpa inicial do barulho era tanga e a consideração que fingiu ter por nós ao colocar-nos noutro hotel também. O que se passava é que o hotel dela estava apinhado de motas e de motards, ele era motas dentro do hotel, ele era motas à volta do hotel, ele era uma tenda gigante montada para os condutores das ditas cujas celebrarem terem enchido o hotel todo e não terem deixado espaço para nós!
Sem mais conversa, enfiou-se num carro à nossa frente e conduziu-nos para fora da zona do hotel, para fora da povoação, para fora da estrada por onde tínhamos vindo, valha-me Deus que depois de tanto andar ainda voltamos para Colónia, e manda-nos entrar num hotel enorme, completamente às escuras, evidentemente fechado e povoado de bandeiras de uma famosa consultora. Entretanto, aparece outro homem, o dono do hotel a quem, percebemos entretanto, a doida tinha pedido encarecidamente que dispensasse um quarto. Que agora passava a dois, mas o senhor, muito calmo, tentou tranquilizá-los, «vão ver que ficam muito melhor aqui do que no hotel dela», imaginem como seria, eu cá prefiro nem imaginar. Pelo que me apercebi, o hotel é utilizado pela tal consultora para reuniões e formação, pois todo ele é bandeiras e quadros e brochuras da dita cuja. Mas os quartos até eram óptimos, espaçosos, lindamente mobilados e decorados, pois havia plasmas, pois havia sofás que reclinam, pois havia quadros de bom gosto, pois estava tudo muito bem até que dá à maluca para exigir o pagamento logo ali. O quê? Então mas que vem a ser isto? Ainda mal pusemos o pé no quarto e já estamos a pagar? «Olhe lá, a senhora costuma pagar a conta do restaurante antes de comer?», pergunto-lhe eu já sem achar graça nenhuma. E ela a fazer-se de desentendida, que no dia seguinte não nos vê, olha que pena, também não temos gosto nenhum em ver-te, não se perdia grande coisa. Nisto, o amigo que lhe tinha arranjado os quartos está a começar a perder a paciência, nós também e a mulher a bater na mesma tecla, até que se passa de vez: ou pagam agora ou saem daqui! Ou saímos? Nós? Que fizemos uma reserva tão honesta, como diz a minha querida Margarida, e tão atempada? Ou a mulher está parva de todo ou está tentar enlouquecer-nos. Por muito que nos tenha custado, não tínhamos onde ficar, estávamos no meio de nenhures e não restou outro remédio senão pagar. Felizmente, os quartos eram belíssimos, a estadia foi pacífica e o pequeno-almoço do dia seguinte bem fornecido. E a maluquinha acabou por se redimir ao procurar um restaurante para nós comermos, uma tarefa hercúlea, dado que eram dez e meia da noite e estávamos na Alemanha profunda, muito parecida com o Portugal profundo mas sem tascas.
E na manhã seguinte, como diz a minha Avó, abalamos dali rumo a Aachen, uma cidade encantadora e cheia de vida. Onde fiz a compra mais improvável: uma almofada. Quem me conhece bem sabe da minha clássica dificuldade em adormecer e das múltiplas almofadas que já experimentei, anatómicas e não só. Esta por acaso não é anatómica, não custou uma fortuna, nem é anunciada na televisão. Mas lá tem cumprido a sua missão!
No caminho de volta para Bruxelas, ainda tivemos oportunidade de passar em Maastricht, que é uma vila à beiro-rio repleta de lojas e de convidativas esplanadas. Mais um sítio que recomendo!

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Pedro, realmente que aventura !
Naõ é essa a impressão que tenho da Alemanha...mas já que estás por esses lados aproveita para conhecer o centro geográfico da Baviera - Kipfenberg fica em pleno parque natural do Almüthal( acho que se escreve assim )e é lindissimo toda essa zona e são todos muitos simpácticos e prestáveis têm vilas deliciosas e pitorescas e as pessoas são simples mas muito amistosas. Para dormir recomendo o Alter Peter e o Fritz e a sua mãe Franzisca iram fazer-te sentir que estás em casa , nas cidades é como aqui tem tudo demasiada pressa de ir para lugar nenhum ,Bjokas
EB

Anónimo disse...

Desde algum tempo que não tinha o relato das maravilhosas viagens, por isso fico muinto contente por ver esta viagem descrita no blogue. Assim posso guardar o que se passou em mais uma viagem para recordar quando já não viajar. Obriga, Bjs.