sábado, 24 de maio de 2008

A vela

Esta é realmente incrível. Mas aconteceu. E comigo.
Ora na semana passada, a senhora que me faz a limpeza da casa sem querer queimou a parte de baixo do ferro. Diz que passa sempre o ferro na tábua antes de passar a roupa propriamente dita, não seja conto que o dito esteja muito quente, só que desta vez virou-se para pegar na roupa e deixou o aparelho em posição horizontal. Resultado da obra: chego a casa e descubro, para meu absoluto espanto, que a parte de baixo do ferro, que sempre foi cinza e branca, estava verde. Por seu lado, a parte da tábua onde o ferro ficou esquecido no seu calor solitário ficou um bocado menos verde do que era, aliás ficou assim mais para o preto do que para o verde. Bom, toca a telefonar à responsável da ocorrência e o problema fica logo ali resolvido, que esta senhora é de uma eficiência fantástica (não é belga, escusam de perguntar): «Na semana que vem, eu levo uma cera que limpa o ferro e fica como novo!». Até aqui tudo bem, ou pelo menos a caminho do conserto.
Ocorre que a tal cera mágica deve ser coisa muito requisitada ou então os supermercados tiveram uma ruptura de stock ou, quem sabe, a fábrica fechou para férias. Certo é que não foi possível encontrá-la em nenhum supermercado, mas a minha despachadíssima empregada arranjou imediatamente outra solução: «Vou comprar uma vela.» Uma vela?? Vela? «Sim, não sabe o que é uma vela?» Sim, sei mas não estou a ver qual a relação entre uma vela e um ferro de engomar. «Ah, então, a vela é o ideal para limpar o ferro, é assim que fazemos na minha terra.» Com uma vela? Bom, à falta de outra solução, concordei, agradeci e dei por terminado o telefonema.
Nisto, fui para uma reunião fora e deixei no gabinete essa maravilha da tecnologia sem a qual já não vivemos chamada telemóvel. Ao voltar, venho que tenho dez-chamadas-dez da minha empregada. O pânico apodera-se de mim, mas que se terá passado, ligo imediatamente e descubro que não sou o único em pânico: a senhora estava para lá do pânico, à beira da total loucura. Acontece que, sem avisar ninguém, o detector de fumos do meu apartamento fez disparar o alarme, que desatou numa berraria insana. Apavorada, a minha empregada decide sair de casa e telefonar-me, e eu sem atender porque não estava lá e ela a ligar e isto dez vezes, como vos disse. Apuradas as razões da ocorrência, só tinha acendido a vela para, como previsto, limpar o ferro. Mas o imprevisto está sempre à espreita e desta vez entrou em cena! Sinceramente parecia-me impossível que uma vela fizesse fumo suficiente para o detector acusar, até porque cozinho todas as semanas, com vapor por todo o lado (porque a minha casa não tem extractor, nem chaminé, nem ao menos um buraco no tecto por onde o vapor saia - pode uma coisa destas??) e nunca tal tinha ocorrido. Mas o senhorio afinal confirmou que sim, a culpa era da vela, o fumo da vela faz toda a diferença porque o detector é muito sensível e sabe muito bem distinguir o fumo do vapor da comida. E, assim sendo, que até era bom ter acontecido isto, porque assim sabemos que o detector funciona. Pois claro, e eu que não pensado nesta perspectiva! Assim fiquei com a roupa por passar, a senhora passou uma manhã de pânico pensando que havia algum problema no prédio, mas ao menos fiquei a saber que o detector funciona. E bem!
Como vêem, temos sempre de olhar a vida pelo lado positivo! Desta história inimaginável aprendi três coisas ultra importantes: primeiro, o detector funciona bem, o que me tranquiliza imenso. Segundo, que é espertíssimo e não confunde vapor com fumo. E terceiro, e muito mais importante do que tudo o resto, que um ferro queimado se pode limpar com uma vela! Sim, porque ao chegar a casa encontrei o dito imaculado como se nada lhe tivesse acontecido. Esqueçam o tempo em que se ia à loja mandar reparar ou, pior ainda, se telefonava para a marca do ferro a perguntar o que fazer. Acabou. E a ideia de comprar cera para o dito vai também pelo cano. Doravante, meus amigos, se deixarem queimar o ferro já sabem que uma vela resolve logo o problema. Depois disto, não digam que eu não dou bons conselhos!
Aproveito para destacar a participação da cantora portuguesa no Festival da Eurovisão, a Vânia Fernandes, que teve um magnífico desempenho na semifinal e passou merecidamente à final. A parte instrumental era tão bonita que quase se ouvia o barulho das ondas a acompanhar as vozes dela e do coro! Amanhã estarei numa festa de inauguração de uma casa, mas a deitar um olho ao ecrã, porque o organizador prometeu logo que, apesar de a casa estar completamente vazia, a pedido de várias famílias haveria uma televisão para ver o Festival. A Hillary disse «full speed on to the White House» e eu neste caso, e com maior sucesso, desejo «full speed on to... 12 points

3 comentários:

Anónimo disse...

A vela é nova para mim e está demais e o detector de incêndio também. Já me tinha perguntado como era possível o dito não dar sinal de si com os cozinhados, uma vez que chaminé, viste-a e exustor idem, mas muito sinceramente pensei que o objecto apenas lá estava, neste caso, para português ver. Afinal não é bem assim, tenho de me redimir destes meus maus pensamentos.
Santo Deus, essa do festival da eurovisão vai contigo para a cova e como é possível que encontres sempre alguém que seja tão fanático quanto tu???!!! Graças à distância, este ano não fui obrigada a ver, mas acidentalmente li que Portugal ficou em 13º lugar. Quantos eram? beijos e continua com a escrita, dá-me um especial prazer ler e ver que voltaste aos velhos tempos. M

Anónimo disse...

ola Pedro...continuas activo...boa..abraço Paulo Mendes-Moptc

Anónimo disse...

Então nestes ultimos dias não nos tens contado as aventuras do expatriado, será que não há tempo ou materia?
Beijinhos