quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O regresso - 2


Saga “O Regresso da Múmia”, episódio de hoje.
Convidou-nos para jantar fora, mas ninguém quer ir e toda a gente está a arranjar desculpas.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Da nova ortografia

Isto é só surpresas. Estava eu uma pessoa a pensar que escrevia bem, pois foi assim que aprendi e se escrevesse de outra maneira a professora primária marcava erro. Eis senão quando o magnífico corretor automático do Word, que se atualizou sem autorização, me diz que estou desatualizado. Desatualizado sem c, claro. E corretor também sem c.
Fico a saber que radioatividade não tem c e ativo também não. Abençoado Word que me corrige a escrita e me põe ao corrente da atualidade ortográfica, eu que vivo aqui na ignorância de tais alterações de tão grande magnitude. Eu que julgava escrevia bem, descubro agora que escrevo mal. Também não é problema de maior, pois o Word, esse nosso amigo fiel e dedicado, resolve-me logo o problema sem eu ter de pedir. De uma assentada só, põe-me a par da minha ignorância ortográfica e corrige-a para que o texto chegue à rede e às vossas caixas de correio em português moderno, simplificado e sem consoantes idiotas que só incomodam o leitor. Português que, suponho, também terá letra minúscula. E para simplificar mais ainda, ficam as palavras sem as aspas que lhes caberiam, para melhor as distinguir do restante texto, a bem da simplificação do nosso idioma. Aposto que o Saramago, se ainda cá estivesse, haveria de gostar desta.

O regresso






Não sei se viram o filme “O Regresso da Múmia”, se não viram não perderam nada de especial. Veio-me à lembrança este título, mas quem regressou das trevas esta semana não foi propriamente uma múmia, foi a minha chefe. Não a radioativa, a outra. A radioativa continua em casa, agora não por conta da radioatividade, mas porque tem de tomar muitos calmantes, dado que partiu o braço, e por conseguinte, passa o dia a dormir. E dito isto os comentários são escusados. Se porventura não sabiam que curar braços partidos implica tomar imensos calmantes, é porque nunca partiram nenhum.
Voltando à nossa amiga múmia, regressou de onze meses de baixa médica mais bela e radiante do que nunca. Dado eu ter mais do que fazer do que aturar múmias e radioativas – afinal alguém tem de puxar a Europa para a frente, não é verdade? -, passei o dia de ontem numa reunião noutro lugar, o que me impediu de testemunhar o momento único em que a criatura abandonou a escuridão e regressou à luz. Que é como quem diz, abandonou a baixa e regressou ao ativo. Contava-me hoje uma colega que, ao vê-la no corredor, lhe parecia que estava a ver um fantasma, de tal modo nos habituámos à sua ausência. Tanto nos habituámos à sua ausência que nos esquecemos de que ela existia. Estávamos nós felizes e contentes a trabalhar para o bem comum do nossa querido continente, sem já nos lembrarmos dos tempos infames em que a tenebrosa criatura nos fazia a vida negra, quando a dita cuja se cansou da baixa e decidiu dar um ar da sua graça. E ei-la três dias depois de tão traumático anúncio, fresca como uma alface colhida da horta.
E agora perguntam vocês: mas não estava ela fresca e linda e radiante demais para quem estava doente desde o ano passado? Estava. Não que a causa da ausência me interesse nem diga respeito, claro. Estivesse ela mais tempo ausente e mais nós respiraríamos de alívio. Então que andou ela a fazer este tempo todo? Responde a própria na reunião de boas vindas: a fazer uma cura de terapias orientais e formação em liderança e coordenação de equipas. Isto dito diante de todos.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A lata

Não pensem que estava a gozar com a radioatividade. A mulher disse mesmo que estava radioativa. E não foi só à secretária. Uma fonte bem informada contou-me que, após este primeiro telefonema, a radioativa criatura telefonou ao outro chefe de departamento, informando da sua ausência por motivos de radioatividade. Que lhe impossibilitava estar em contacto com outras pessoas. Assim. Sem mais nem menos.
O curioso de trabalhar neste sítio é que não preciso de inventar nada, a realidade ultrapassa a imaginação. É como diz a Jackie Collins, não invento nada, só conto o que vejo. Não é preciso nenhum argumentista de Hollywood, pois a realidade é mais surpreendente do que a ficção. E isto foi só um episódio, os disparates são tantos que podia estar aqui o ano inteiro a escrever e ainda me sobravam histórias.
Entretanto, estava eu a caminho da Laura Ashley para procurar um abat-jour que sirva no candeeiro que trouxe da minha avó quando me liga a M. Uma boa amiga daqui que já é vossa conhecida de outros capítulos. Vem isto a propósito da lata que as pessoas têm. Pensei organizar um jantar em minha casa para alguns amigos, para comemorar o meu aniversário. Convidei a L. Não convidei a M., porque não tenho propriamente um palácio (não aqui em Bruxelas, claro, tenho o do Liechtenstein como sabem, mas fica fora de mão) e quero convidar alguns novos amigos e não dá para todos. Além disso, ela é um bocadinho bruta e mandona e não me apetece gramar malta assim num dia de festa, e ainda pode aborrecer os outros convivas. 
Mas há gente que não se enxerga. A M. soube pela L. e telefonou-me expressamente para tirar satisfações:
- Pois já soube que vais fazer um jantar de aniversário como no ano passado. A L. disse-me que ia ser fantástico. Mas eu ainda não sei de nada. Estou a telefonar para saber se não estou convidada.
- Ó M., eu ainda não decidi bem… 
- Sim, mas eu já sei a data. Estava a achar muito estranho não me dizeres nada. 
- Pois, eu estava a pensar nisso, mas ainda não decidi nada…
- Ah, eu até estava a pensar que se calhar não querias que eu fosse. Mas claro que posso, conta comigo!
E assim a M. se convidou. Gosto muito da M. e é sempre bem vinda. Mas detesto que as pessoas não tenham tento. E pior, ainda tenham a lata de vir tirar satisfações. É preciso não se enxergar. E ter muita lata…