quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A lata

Não pensem que estava a gozar com a radioatividade. A mulher disse mesmo que estava radioativa. E não foi só à secretária. Uma fonte bem informada contou-me que, após este primeiro telefonema, a radioativa criatura telefonou ao outro chefe de departamento, informando da sua ausência por motivos de radioatividade. Que lhe impossibilitava estar em contacto com outras pessoas. Assim. Sem mais nem menos.
O curioso de trabalhar neste sítio é que não preciso de inventar nada, a realidade ultrapassa a imaginação. É como diz a Jackie Collins, não invento nada, só conto o que vejo. Não é preciso nenhum argumentista de Hollywood, pois a realidade é mais surpreendente do que a ficção. E isto foi só um episódio, os disparates são tantos que podia estar aqui o ano inteiro a escrever e ainda me sobravam histórias.
Entretanto, estava eu a caminho da Laura Ashley para procurar um abat-jour que sirva no candeeiro que trouxe da minha avó quando me liga a M. Uma boa amiga daqui que já é vossa conhecida de outros capítulos. Vem isto a propósito da lata que as pessoas têm. Pensei organizar um jantar em minha casa para alguns amigos, para comemorar o meu aniversário. Convidei a L. Não convidei a M., porque não tenho propriamente um palácio (não aqui em Bruxelas, claro, tenho o do Liechtenstein como sabem, mas fica fora de mão) e quero convidar alguns novos amigos e não dá para todos. Além disso, ela é um bocadinho bruta e mandona e não me apetece gramar malta assim num dia de festa, e ainda pode aborrecer os outros convivas. 
Mas há gente que não se enxerga. A M. soube pela L. e telefonou-me expressamente para tirar satisfações:
- Pois já soube que vais fazer um jantar de aniversário como no ano passado. A L. disse-me que ia ser fantástico. Mas eu ainda não sei de nada. Estou a telefonar para saber se não estou convidada.
- Ó M., eu ainda não decidi bem… 
- Sim, mas eu já sei a data. Estava a achar muito estranho não me dizeres nada. 
- Pois, eu estava a pensar nisso, mas ainda não decidi nada…
- Ah, eu até estava a pensar que se calhar não querias que eu fosse. Mas claro que posso, conta comigo!
E assim a M. se convidou. Gosto muito da M. e é sempre bem vinda. Mas detesto que as pessoas não tenham tento. E pior, ainda tenham a lata de vir tirar satisfações. É preciso não se enxergar. E ter muita lata…





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