domingo, 20 de julho de 2008

A boda

Ao longo destes cinco meses a contar as minhas aventuras neste país (que, apesar de tudo, ainda se mantém um país e como tal foi hoje comemorado), já muito aqui escrevi sobre os encantos e desencantos da Bélgica, as instituições que funcionam e as que não funcionam e as pessoas que só funcionam de quando em vez. Mas nunca aqui falei de uma instituição tão importante como é... o casamento!
Pois hoje vou-vos contar a história da Rachel e do Richard. É uma história absolutamente verídica, por mais que vos possa custar a acreditar. A Rachel, que é uma jóia de pessoa, é minha colega de trabalho e vive com o Richard há vários anos. Apesar de ambos serem irlandeses, trabalham em Bruxelas há longo tempo e têm toda a sua vida aqui estabelecida, pelo que decidiram comprar cá casa. Até aqui tudo bem. Acontece que a Rachel e o Richard gostam muito um do outro e decidiram dar o nó. Perfeito. Só que, como têm casa em Bruxelas, muitos amigos por cá e muita vontade de mostrar a casa bruxelense às famílias de ambos os lados, decidiram casar... em Bruxelas! Ora agora é que a porca torce o rabo. Como eu costumo escrever, estava tudo a correr bem, e era tudo muito lindo e andavam os dois felizes da vida a preparar a boda quando a Rachel descobre que... tem uma vida dupla. A propósito dos documentos da boda, a Rachel vai à commune certificar-se de que todos os documentos necessários chegaram da Irlanda e de que os restantes estão em conformidade com a lei - para que depois, como diríamos em Portugal e não sei se ocorre aqui, possam decorrer os banhos. Mas quem levou com uma banhada e das grandes foi a Rachel. Pediu para verificarem o seu processo e descobriu, de um momento para o outro, que não se chamava Rachel Candle como sempre pensou mas Rachel Carrot, como se de uma cenoura se tratasse. Da mesma maneira, aberto o processo do marido, verificou que o dito não dava pelo nome de Richard Croft, como sempre o conheceu e o próprio sempre se conheceu a si mesmo, mas Richard Crown, como quem traz uma coroa na cabeça. «Não, eu não sou essa e o meu namorado não é esse», diz a Rachel em desespero. «São, são, estou aqui a ver o vosso processo e condiz. Então não se vão casar neste dia?» «Vamos». «Neste sítio?» «Sim». «Pronto, então está tudo bem»...
Como se ainda não bastasse, a Rachel lá tentava estoicamente convencer o funcionário da comuna do enorme desacerto que reinava naqueles processos quando o senhor pergunta de rompante: «Olhe, e os meninos?» «Os meninos, quais meninos?» «As suas crianças» «As minhas crianças???!!! Mas eu não tenho crianças!!!» «Não tem? Claro que tem, estão aqui no meio do processo, um rapaz e uma rapariga!». Pára tudo: de um momento para o outro, graças à extraordinária organização da comuna onde reside, a Rachel ganhou uma vida dupla e daquelas bem recheadas. Não é quem pensava ser, vai casar com um homem que não conhece e, sem saber como, é mãe de duas criancinhas maravilhosas. «Eu nunca tive filhos e o meu namorado também não!», exclama a Rachel em absoluto estado de choque. «Não é o que consta aqui!», responde o funcionário muito convicto. Após alguns minutos de pura loucura, a Rachel resolve pedir os processos e vasculhar os ditos cujos. Assim descobre que os processos são de facto o dela e o do namorado apesar de se terem enganado nos apelidos, mas os filhos são filhos de outros, porque os nomes dos pais, como era de esperar, não condizem com os da Rachel e do Richard. E assim se resolveu o imbróglio pré-matrimonial. Ficámos sem saber quem são os progenitores destas pobres crianças envolvidas num casamento alheio, mas, pelo menos, a Rachel e o Richard podem casar em paz e, quando acharem oportuno, terem os seus próprios filhos e não aqueles que a comuna lhes dava já de bandeja antes mesmo de o casamento ter lugar.
Como diria o saudoso Fernando Pessa, e esta hem?

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo, uma vez que ai nao pode ver os Fascicinios e a A Outra, eis que já tem um reality show à altura :) Carol

Anónimo disse...

Fora eu a ti e ía rapidamente à tua comuna e talvez por sorte te tenha sido atríbuída uma família com criancinhas e tudo e ías rapidamente ao sector do pessoal da tua unidade dizer que afinal reencontraste a tua família perdida, vai daí queres a retribuição que te é devida para duas crianças e uma dondoca. M