domingo, 27 de julho de 2008

Finalmente o Verão!

Depois de algumas semanas de puro desalento, pensando que aqui não existia Verão e - pior! - que daqui em diante teria de conviver com esta fria e chuvosa realidade por não sei quanto tempo mais, eis que o calor estival chegou finalmente a Bruxelas. Uma entrada em grande estilo, com os termómetros a aproximarem-se dos 30 graus. Parece que amanhã choverá novamente e durante o resto da semana voltaremos ao cenário do ora agora desponta o sol, agora agora chove e faz frio. Mas o fim de semana, pelo menos, salvou-se do mau tempo e foi altamente utilizado para descansar.
Como efectivamente o bom tempo não é o forte de Bruxelas, de cada vez que o sol espreita com maior intensidade, as esplanadas nascem como cogumelos e o pessoal ruma para os parques e jardins como quem vai para a praia. Digo-vos eu que vi: pessoal em fato de banho e deitado na relva por cima da toalha, da mesma forma que nós pomos a toalha de praia sobre a areia. Só faltava o mar do Algarve ou o rio da nossa Lisboa, mas quem não tem cão caça com gato, por isso inventaram uma espécie de praia artificial chamada Bruxelles les Bains, que inclui bancos de areia, esplanadas da Provença (diz a publicidade, eu não sei que não fui lá verificar, mas esta é mesmo muito boa), palmeiras tropicais e um ambiente digno de Copacabana no seu melhor. Reservo as minhas dúvidas sobre a semelhança com a belíssima paria de Copacabana, mas a iniciativa é de saudar: afinal procura-se oferecer a uma cidade um cheirinho daquilo que, por conta da geografia, nunca poderá ter - praia!
Já perceberam pelo andar da carruagem que não visitei a praia artificial mas, em compensação, fui a dois parques excepcionais, que aqui vos mostro. O primeiro é o Parc du Cinquentenaire, a que eu ainda não tinha ido desde que aqui estou, e é verdadeiramente uma maravilha: um oásis verde e espaçoso no meio de uma área particularmente densa de betão, a uns escassos metros dos edifícios-sede do Conselho e da Comissão Europeia.






As fotografias, como já sabem, foram tiradas com o telemóvel e, como tal, não serão da melhor qualidade, mas dá para ver que, sim senhor, o parque é realmente espaçoso e lá está o pessoal espojado sobre a relva. Ao fundo avista-se um arco do triunfo, que celebra os 50 anos da independência da Bélgica, aliás, que pretendia celebrar os 50 anos da independência da Bélgica em 1880. Mas, claro, do querer ao fazer vai uma grande distância, ainda por cima recordem-se de que apesar de estarmos no século XIX, mas continuamos na Bélgica. Vamos lá pôr isto em pratos limpos. Originalmente, a intenção até era boa: o rei Leopoldo II queria organizar uma exposição internacional em Bruxelas em 1880 para comemorar o 50.º aniversário da independência. Aproveitando que a colónia do Congo lhe fornecia uns trocos jeitosos, decidiu usar parte da fortuna para renovar Bruxelas e torná-la uma cidade imponente à imagem das grandes capitais europeias, mostrando ao mesmo tempo a prosperidade da Bélgica e a vontade de reencontrar o seu lugar entre as mais importantes nações da Europa. O monumento em si pretende simbolizar o passado glorioso de Bruxelas. Até aqui estava tudo bem. O problema é que, no século XIX, o rei nunca poderia ter ouvido falar da Casa da Música. Nem das obras do metro no Terreiro do Paço. Muito menos da Ponte Europa, que teve uma derrapagem orçamental tão grande que até já nem se chama Europa. Desconhecia, pois, o enorme manancial de conhecimento que Portugal tem para partilhar em matéria de obras que incomodam toda a gente, resultam num inacreditável gasto de dinheiro e demoram uma eternidade - em suma, ignorava a fabulosa expressão «obras de Santa Engrácia». Ignorando estes factos, todos eles da maior relevância, o rei lá mandou erguer o arco, mas tal como a Casa da Música, a exposição de 1880 decorreu sem que o arco estivesse construído. Depois, para não parecer que é só de hoje, andou de candeias às avessas com o governo, que achava que o arco era um dispêndio colossal de dinheiro - ora este governo tinha olho. De modo que o dito cujo acabou por ser concluído apenas 25 anos depois, em 1905. Mas como os aniversários são coisas que tendem a repetir-se todos os anos (vá-se lá saber por quê), não é que o bom do arco ficou pronto mesmo a tempo da celebração dos 75 anos da independência? E até aposto que no fim acabaram todos felizes com uma enorme festarola cheia de fogo de artifício!
Depois de almoço, a visita foi ao Parque de Bruxelas, que tem uma localização privilegiada entre a Rue de la Loi, morada do Parlamento Nacional e da residência do Primeiro-Ministro, e a Place des Palais, onde se encontram o Palácio Real e o Palácio das Academias.


A propósito, ocorre-me agora que me esqueci de vos contar que o Dia Nacional da Bélgica decorreu com a pompa e circunstância que convém, como se não se te tivesse demitido o Primeiro-Ministro apenas uns dias antes. E, pensando bem, porque haveria de ser de outra maneira? Afinal ele demitiu-se, é certo, mas o rei Alberto II, que é mais avisado do que o seu antecessor do arco, não foi de modas e recusou. Não deve ser da escola do tio Sampaio... Assim a festa decorreu como manda a tradição, sob o sol radioso que banhava Bruxelas. Só o Primeiro-Ministro decidiu dar uma facada no protocolo, a ver se era desta que o rei o demitia, e entrou na Catedral pela porta lateral, a pensar que ninguém o apanhava. E se o pensou bem, fê-lo melhor, porque os repórteres só se deram conta da ocorrência quando as câmaras o focaram no interior do templo. De tarde, ao longo da Rue de la Loi, houve uma enorme parada em que todos desfilaram. Começou com o desfile militar, coisa intragável na minha opinião e péssima forma de comemorar o que quer que seja, mas, enfim. Depois tiveram direito a desfilar todos os que assim quiseram. Verdade. Abram alas, minha gente, que a malta quer é desfilar! Eu estava a assistir completamente boquiaberto, pois olhava-se e vinham de lá os bombeiros não sei de onde, em seguida a guarda costeira com os seus barcos atrelados, tudo em enorme animação.
E passaram precisamente junto ao Parlamento Nacional, que podem ver na foto do canto superior direito e à entrada deste parque, que é verdadeiramente encantador com este repuxo enorme e refrescante. Tão encantador que até tem um teatro!
Hoje despeço-me deixando aqui ao lado um vídeo que no outro dia me enviaram por e-mail e que não quis deixar de partilhar convosco. Fui ao YouTube e lá dei com ele: é a incomparável e saudosa Ivone Silva às voltas com o cubo mágico!
Até breve!

Sem comentários: