sexta-feira, 4 de julho de 2008

A outra Bélgica

Obrigado pelos comentários, fiquei super contente por saber que, apesar de estar estado sem escrever durante tempo demais, não se esqueceram do meu blogue!
Neste intervalo de quase três semanas, muito se passou por aqui para além do que vos contei ontem, incluindo algumas peripécias que me fizeram ver o outro lado da Bélgica, aquele que ainda pouco descrevi neste cantinho. As pessoas simpáticas e prestáveis, que nos atendem sem tentar expulsar-nos da loja simultaneamente, a gastronomia de excelência (ups, acho que disto já falei) a preços acessíveis, a vida nocturna animada e cosmopolita, as zonas comerciais diversificadas e irresistíveis.
Dado que não abundam, comecemos, pois, pelas pessoas simpáticas. Há três semanas, a minha família chegou de visita, aproveitando o 13 de Junho, que foi feriado por aí e dia de trabalho nestas paragens. O que, bem vistas as coisas, é uma autêntico desperdício, porque se as instituições são europeias, então não deveriam importar os feriados de todos os Estados-Membros da União? Cá para mim tem todo o sentido, ora está uma pessoa a trabalhar aqui e é feriado em Portugal ou Espanha ou na Eslovénia e não se pode contactar com colegas de lá, porque lá é feriado. Era muito mais simples se, de cada vez que é feriado em cada um dos países, a malta também não trabalhasse. Parece tão lógico, não sei por que é que ninguém ainda se lembrou de tal coisa. Se o Tratado de Lisboa já estivesse em vigor, o pessoal fazia já uma petição à Comissão Europeia para pedir a alteração da coisa, era só juntar um milhão de assinaturas - coisa pouca, afinal somos mais de 450 milhões, o que é um milhão no meio de tantos? Mas não, já não há petições para ninguém ou pelo menos não tão depressa, porque os irlandeses tinham de ser do contra e votar contra o tratado. Ainda por cima o Tratado de LISBOA. DE LISBOA. Pode? Está-se mesmo a ver que aqueles 50 e tal por cento que chumbaram o dito nunca ouviram falar de Lisboa nem nunca lá puseram os pés, senão sabiam que é uma cidade fabulosa, linda e única e que qualquer tratado que lá se assine é, por contágio, também bom. E assim fica o histórico «Porreiro, pá!» do nosso primeiro-ministro sem qualquer sentido, porque afinal já não é «porreiro, pá», é «e agora, pá?».
Enfim, voltemos à minha família que veio a Bruxelas celebrar antecipadamente o aniversário da minha Avó. Sim, a minha Avó que muitos de vocês conhecem, com os seus esplêndidos 85 anos, entrou num avião pela primeira vez na vida e chegou a minha casa em plena euforia, o que me deixou igualmente eufórico e felicíssimo. Passámos um fim de semana óptimo, visitámos Bruxelas, fizemos compras, comemos moules e gauffres e tudo o resto a que temos direito! Acho que a minha Avó adorou conhecer o novo sítio onde vivo e a minha casa onde afinal todos coubemos lindamente. E eu adorei que ela viesse visitar-me, agradeço à minha Mãe pela enorme paciência de organizar e patrocinar estes dias tão maravilhosos que me deixaram o coração cheio. E à minha Tia, que felizmente também se juntou à festa e foi de cá muito mais tranquila do que da última vez, porque eu agora tenho um escorredor de louça. Só me falta uma torradeira, que conto comprar amanhã. Como sempre nestas minhas histórias, estava tudo a correr muito bem, e era tudo muito bonito e estavam todos a adorar cá estar até que chegou a hora de voltar. E, como a minha Avó já tem uns respeitáveis 85 anos, pedimos no aeroporto que providenciassem um carrinho para a levar à porta de embarque, que o aeroporto de Bruxelas é uma espécie de passadeira rolante gigante que se vê onde começa mas não onde acaba. Cabe notar que em Lisboa pediu-se o transporte no balcão de check-in e foi vê-lo chegar de imediato, mas aqui havia fila. Após alguma espera, o carrinho lá recolheu a minha Avó e a minha Tia, que foi acompanhá-la, mas ninguém se lembrou que, pese à respeitabilidade que emana das duas, inevitavelmente teriam de passar pelo controlo de segurança. Ora aí é que a coisa começou a ficar preta, porque nenhuma fala outra língua senão Português e estão mesmo a ver a minha Avó a achar piada a ser apalpada. Pois, não estão vocês nem estou eu e muito menos ela, que não achou gracinha nenhuma e começou-se a passar, que é uma coisa que a minha Avó sempre fez com grande facilidade. Vai daí a minha Tia tentou ajudar e explicou que ela não falava Português, mas, como também não fala Inglês nem Francês, pôs-se a explicar que ela não fala Português em Português. Estão a ver a cena? Ainda por cima em Bruxelas, com todo aquele contexto pouco simpático que já conhecem dos meus escritos? Pois pasmem-se, porque alguém deve ter percebido e do meio do nada surge uma segurança a falar Português e disposta a ajudar. E assim a minha Avó lá passou a porte do controlo, o imbróglio ficou resolvido e ficamos todos a saber que nem todos os serviços aqui funcionam mal. Alguns, aliás, funcionam tão bem que nos surpreendem quando menos esperamos!
Outra coisa altamente funcional nesta terra e à qual tenho de voltar são os restaurantes. Tal como em Roma se deve ser romano, também em Bruxelas se deve ser bruxellois e assim fomos devorar moules ao restaurante mais bem cotado no género. Uma verdadeira orgia gastronómica é o que vos posso dizer: comida óptima, bem confeccionada e melhor servida. E quanto mais como, mais aprecio esta gastronomia. Além dos mexilhões, outro dos meus pratos típicos favoritos são as endívias gratinadas, enroladas em fiambre e cobertas com imeeeeenso queijo. Só de falar já me está a dar a fome e ainda comi há dez minutos. Claro que no restaurante chique, a conta não foi propriamente lá muito elegante, foi assim mais para o obesa. Mas tenho para mim que, em Portugal, num restaurante de marisco de nível reconhecido, seria ainda mais obesa, tipo obesidade mórbida. Aliás, estou-me agora a lembrar daqueles restaurantes do Guincho, onde costumamos ir na Páscoa, e que não cobram menos de forma alguma. Mais: na semana passada, almocei com a minha chefe e uma colega num restaurante super agradável, este já dentro dos parâmetros normais, e mais uma vez me dei conta de que os preços são mais baratos do que em Lisboa. Lá comi as tais endívias, as minhas colegas comeram um Croque Monsieur, demos conta de todo o pão que havia sobre a mesa (que aqui não cobram) e a conta foi muito... em conta. Ou como dizem por aqui, bon marché.
Só falta contar-vos das lojas mas essa parte guardo para amanhã. Porque amanhã é precisamente dia de compras. E como os saldos começaram no fim de semana passado, não há tempo a perder! Abram alas!

2 comentários:

30aos30 disse...

Muito bem! Amanhã estou aqui novamente para ver como é que correram essas compras! Eu estou a "poupar-me" para terça-feira, altura em que tenho a última entrega de trabalhos ... Ai saldosss ... só espero que não comprem tudo! :-)

Anónimo disse...

Ainda não tinha tido tempo para ler todoas as novidades do blog, mas devo dizer-te que chorei a rir com a idéia da avó a ser apalpada, o que eu perdi por saber falar (mal) outra língua que não a minha.
Espero que os saldos não acabem antes de eu aí voltar porque face à tua publicidade e ao meu lado economicista (comprar nos saldos porque tem de se aproveitar o preço)vais ter de por o despertador mais uma vez ao Sábado para ir ao Dod e não só.
Beijos
M