domingo, 24 de agosto de 2008

Regresso

Olá a todos! Antes de mais, obrigado pelos vossos desejos de boas férias. Espero que também estejam a gozar uns óptimos dias de descanso ou de viagem, conforme os casos.
Eu cá regressei a Bruxelas para encontrar alguma chuva e um frio verdadeiramente desconcertante para esta época do ano. Desconcertante para nós estrangeiros, sobretudo os que vimos do Sul da Europa, habituados a verões dignos desse nome, mesmo que com alguma ventania pelo meio como já sei que tem estado em Lisboa. Para os locais, todo este desconcerto climático é absolutamente normal. Tanto assim é que se espantam com o calor: antes de ir de férias estava um calor realmente estival em Bruxelas, conforme vos contei, e eu, contentíssimo, dizia a uma colega belga: «Espero que seja assim durante todo o Verão, está um tempo óptimo e nem sequer tem chovido». Ao que ela responde estupefacta: «Mas tu já te esqueceste de onde é que estás? Estás na Bélgica! Lá poderá vir um dia ou outro mais soalheiro e mais quente, mas regra geral não é assim». Escusado será dizer que esta semana lhe está a dar razão.
O que vale é que cheguei de duas semanas estupendas em Portugal, a maioria das quais passadas no Algarve. O tempo esteve perfeito, nem demasiado quente nem fresco, logo ideal para estar na praia, sobretudo para quem gosta de dormir de manhã e depois chega à praia àquela hora a que todos os médicos e outras pessoas de bom senso recomendam que não se esteja lá: por volta das onze e meia ou do meio-dia, precisamente quando o calor aperta mais, que para frio já basta o que passo aqui. A propósito de frio, a água estava completamente gelada, esqueceram-se de ligar o aquecimento todos os dias, o que devia dar direito a reclamação, que a malta está a contar com banhos de sol e banhos de mar mas acaba por dar alguns mergulhos - rápidos mas nada fáceis - só para depois poder aproveitar devidamente o sol. Como habitualmente, estive com a minha família em Armação de Pêra, que é aquele sítio do Algarve de onde toda a gente foge excepto quem vai para lá desde sempre, como é o meu caso, e adora ter a praia quase em frente a casa.
Não posso dizer que venha particularmente bronzeado, o que obviamente se compreende se tivermos em conta a hora a que ia para a praia. Mas, como diz a minha tia e bem, o bronzeado muito carregado já passou de moda e dado que vamos para a idade, todos os cuidados são poucos, porque os radicais livres dão cabo não sei do quê e provocam envelhecimento da pele. Sim, porque ao contrário daquilo que eu pensava, no ano que vem terei mesmo 30 anos!! Pois é, amiga Fatinha, eu realmente estava muito longe de pensar na coisa e muito menos de ter consciência dela. Sinceramente achei que o dentista estava parvo de todo, mas afinal quem andava baralhado era eu. Ainda bem que as minhas aventuras pelo maravilhoso mundo dos cuidados de saúde belgas lhe deram para rir, se não servirem para me pôr melhor ao menos já serviram para dar umas gargalhadas. Aliás, esta semana julguei que iria aqui dar conta de mais alguns disparates, pois fui a um médico especializado em problemas de sono. Porém, surpresa das surpresas, a coisa saiu melhor do que a encomenda, lá estive quase uma hora a responder a uma bateria de perguntas tipo interrogatório da polícia e o senhor até disse que o meu Francês era perfeito. Obviamente já tinha perguntado de antemão como é se diz «comprimidos para dormir» e «adormecer», mas o que interessa é que sobrevivi às perguntas e ninguém me pôs as mãos na boca sem luvas!
Depois de duas semanas de perfeito descanso, trago uma mão-cheia de sugestões literárias para vocês e, desta feita, para todos os gostos. Recordação Perigosa, da Mary Higgins Clark, é uma acelerada história de suspense em torno de uma mulher que descobre que o marido é sonâmbulo precisamente na altura em que uma série de homicídios ocorrem na cidade onde vive. Tal como em outros livros da autora, ora é contado na terceira ora na primeira pessoa, o que torna a narrativa ainda mais aliciante. Lamentavelmente, a editora traduziu o título inglês I Heard That Song Before por Recordação Perigosa, o que é particularmente absurdo porque o título original é uma frase tirada do romance e da maior importância no desenrolar da história. Despachei este livro num ápice e voltei-me para O Perfume, de Patrick Süskind, que me foi recomendado há muitos anos pela Patrícia e pela Sara e é um best-seller internacional já adaptado ao cinema. Intrigante, misterioso e fora do comum, está cheio de descrições pormenorizadas de aromas apurados. Depois, optei por algo mais entusiasmante e li A Ameaça, no original Whiteout, um thriller de Ken Follet, um britânico que escreveu numerosos êxitos entre os quais Os Pilares da Terra. Este recomendo vivamente, mas, a ser possível, sugiro a versão original. Não sei se é por ter feito traduções no passado, mas tornei-me particularmente sensível a traduções mal feitas e a erros inadmissíveis, como trocar sistematicamente os nomes dos personagens. Trocas e baldrocas que são uma especialidade da Margarida Rebelo Pinto, que altera pormenores da vida dos personagens conforme o capítulo. Tudo acontece em Português Suave, um livro sem grande qualidade mas extraordinariamente bem vendido: a capa é irresistível, com uma lindíssima vista do Tamariz de outros tempos, a síntese na capa parece prometedora e a da badana também. Foi tudo isto que me levou a comprá-lo. Só que depois gasta-se o dinheiro, lê-se o livro e chega-se à conclusão de que frustra qualquer expectativa; como dizia um dos meus professores de marketing, a promessa do produto não está minimamente à altura do dito cujo. E é uma pena, porque a ideia de base é interessante e o romance poderia ser riquíssimo. Pretende contar a história de três gerações de mulheres da mesma família que se rebelam contra os brandos costumes típicos do nosso País, no meio do ambiente idílico do Estoril. Ora aqui estava um belo ponto de partida para um romance interessante. Só que o dito acaba por tratar não de como as senhoras enfrentam os brandos costumes, mas dos amores desavindos e das desgraças quotidianas da geração mais nova, que ora chora por um homem que não quer ora dorme com o primeiro que lhe aparece, como acontece nos livros anteriores da autora. Aliás, as personagens mais jovens são quase iguais às dos outros romances dela: as mulheres são todas umas tias lindas, elegantes e bem-vestidas que só usam carteiras de marca; os homens são todos altos, umas «brasas» e umas «bombas na cama» - todas as expressões são dela e repetidas até à exaustão. A descrição dos locais e o enquadramento histórico são pobres e triviais, não acrescentada nada ao que já sabemos. Enfim, para ler e deitar fora. Um desperdício, porque esta ideia nas mãos do Miguel Sousa Tavares ou da Rosa Lobato de Faria ou do Domingos Amaral tinha dado um belíssimo romance. Terminada esta leitura, virei-me para a biografia da Hillary Clinton escrita pelo Carl Bernstein que a minha Mãe em boa hora me ofereceu - Uma Mulher no Poder. Um retrato excepcional da mulher que não chegou à Casa Branca como presidente, mas ainda vai ajudar a empurrar o Obama para lá. Ou então ele ainda fica pelo caminho. Uma obra detalhada sem ser aborrecida, rica sem ser repetitiva, crítica mas sempre documentada. Recomendadíssima!
E com estas sugestões me despeço por hoje. Boa semana e até breve.

2 comentários:

Anónimo disse...

Desta feita é que a fizeste, pois não é que agora estou verdadeiramente aborrecida com o menino , ah pois estou , então não qeu o nosso menino volta ao seu berço e nem um café vai beber com os seus amigos , ou foi só para alguns ? Pois então, lá me considero apartada dos vossos conhecimentos meu ex-amigo até um dia destes !!!! EBaltazar

Anónimo disse...

Afinal pensava que as férias eram para estar de papo para o ar, mas com tanta leitura deves ter voltado ao trabalho um pouco cansado. Beijinhos