quinta-feira, 10 de abril de 2008

Era uma vez um saco de lixo

Queridos amigos, ao escrever a última mensagem tive de a terminar mais depressa do que queria porque precisei de ir à rua deixar o saco do lixo e, ao voltar, lembrei-me que talvez fosse interessante contar-vos na mensagem seguinte como é que funciona a recolha de lixo no meu bairro. É que é daquelas coisas em que realmente Lisboa e Bruxelas são como a água e o azeite.
Ora eu que sou uma pessoa respeitadora da lei, logo nos meus primeiros dias de estadia aqui, perguntei a um casal de amigos que tem sido incansável e que vive cá há décadas como é que funcionava a cena do lixo, porque tinha ouvido dizer que era obrigatório separar tudo, só se pode usar determinados sacos e outras coisas afins que afinal são mitos locais. Respondem-me que só se pode usar um determinado tipo de sacos, na comuna onde eu vivo são brancos com letras azuis e suficientes para meter o lixo de uma família de oito pessoas durante uma semana. Eu lá vou comprar os ditos sacos, pensando para que é que eu quero uma coisa daquele tamanho, mas enfim, dou uso aos ditos para não quebrar os usos locais. Depois dizem-me que só há recolha três vezes por semana e que pergunte aos vizinhos quando é. Só há recolha três vezes por semana??? Então mas na minha terra há recolha todos os dias, onde é que nós estamos? Bom, ainda não tinha visto tudo. E ainda bem que digo dias, porque de facto não tinha mesmo vista era nada. Um belo dia reparo que há sacos de lixo em todas as portas, penso logo «hoje é dia da recolha» e lá vou pôr o meu saquinho ordeiramente. Qual não é o meu espanto quando na manhã seguinte o meu, o do vizinho e os dos restantes habitantes da rua estavam exactamente no mesmo sítio. Donde a recolha não é feita de noite. Pronto, mais uma que eu fico a saber. Nisto, começo a reparar que não é só em certos dias que as pessoas põem o lixo à porta. Primeiro, parecia ser à Terça e à Quinta, mas depois apercebi-me de que afinal à Sexta e ao Sábado e nos outros dias todos da semana também há lixo à porta. E a história dos sacos brancos também é chão que deu uvas, mal empregado dinheiro que gastei neles, porque há quem ponha amarelos, verdes, azuis, enfim, todo um arco-íris de cores, e também já quem se esteja totalmente nas tintas e ponha caixotes, móveis velhos, sapatos soltos, peças de roupa e por aí fora.
De volta à casa dos meus amigos, conto tudo isto e eles entram em choque: tu vives numa rua de selvagens! Só pode ser! Cá em Bruxelas cada comuna tem dias fixos para a recolha do lixo e só se pode -lo à porta depois das sete e meia da noite. Ai sim? Bom, então deve ser mesmo da minha zona, embora as pessoas não pareçam nada selvagens.
Com estes pensamentos em mente, venho um dia tranquilamente do trabalho, por volta das seis e começo a reparar que o lixo já está todo à porta. Já nem se fala da cor dos sacos nem do dia da semana, agora já só reparo na hora. Então mas a minha amiga disse que só se pode pôr depois das sete e meia e às seis já há sacos de lixo no passeio? Lá se passaram mais unas dias até que eu venho de fazer compras e entro pelo lado oposto da rua e vejo uma coisa aparentada, mas mesmo muito aparentada, a camioneta do lixo, isto ainda não eram um quarto para as sete. Aproximando-me, vejo que é mesmo a dita cuja em pleno labor. Finalmente percebi que no meu bairro as regras são mesmo outras: o lixo tem de se pôr à porta bem antes das sete e meia e não depois, senão fica lá a decorar a rua toda a noite e todo o dia seguinte, porque a recolha não só não é de noite, como nem sequer é antes das tais sete e meia. Enfim, com tanto falar em sete e meia só me lembra a música do «são sete e meia amor», do José Cid, uma canção absolutamente inenarrável que a Margarida me ensinou, mas essa história não é destas paragens...
Mas se procurarem por uma coisa chamada «favas com chouriço» no YouTube vão perceber do que estou a falar, só não ponho aqui porque sinceramente estragava-me logo o blogue, tirar o «Candlelight» que é tão bonito e pôr uma coisa daquelas!

3 comentários:

Anónimo disse...

Amigo, isto de nos estarmos a adaptar a novas realidades dá mesmo muito trabalho, mas com calma depressa vais estar adaptado e passas a saber tudo sobre essa cidade.
Força
Beijinhos

Carolina Afonso disse...

Amigo, que comédia!! Diga-me lá que graça é que tinha você ir parar a uma rua de gente certinha e direitinha!Foi calhar à rua dos irreverentes que é muito mais animado...desde que não tenha esgotos a céu aberto, "tá-se bem"!E vá-nos informando sobre as boas práticas da sua rua :)
Beijocas grandes,
Carol

Anónimo disse...

Realmente a tradição já não é o que era, mesmo em Buxelas.Mas agora que percebeste como são as voltas do lixo espero que antes de ires para o emprego ponhas o saco certo no sítio certo, caso contrário os nossos amigos vão ter razão: mais um selvagem na zona.
O que é isso do favas com chouriço?
Beijos
M