quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O verdadeiro espírito belga - 2

Na mensagem que aqui deixei, procurava ilustrar o espírito belga. O exemplo da violência entre casais – a violência de sexo, como dizem na televisão espanhola – não é propriamente o melhor exemplo, mas dá para ver como reagem os belgas. Como vocês sabem, sou pacifista e acho a violência inadmissível, seja de que tipo for. Violência nem sequer verbal – mais palavrão, menos palavrão, claro. E claro que essa história de “entre homem e mulher ninguém meta a colher”, como dizem nos vossos comentários é tanga…
Mas o espírito belga não é tanga nenhuma. Minutos depois da cena do casal desavindo, vou despedir-me de uma amiga que, imbuída de espírito feminino, me pede para a acompanhar ao carro. Confesso que não acho particularmente excitante quando uma mulher me pede para a acompanhar ao carro. Nem ao metro. Ainda se fosse a casa dela… Prefiro quando me respondem “Não é preciso, eu posso ir perfeitamente” – gosto de mulheres independentes, como já sabem. Chegados ao carro, a pequena avista um McDonald’s e tem uma ideia luminosa:
- E se fôssemos comer qualquer coisa?
- A esta hora? É meia-noite.
Já não é a primeira vez que ela faz destas.
- E então? Está-me a apetecer. Vamos lá, “on se fait plaisir”!
Ok, então vamos lá…
Diante da empregada, o verdadeiro espírito belga emerge em todo o seu esplendor:
- É um menu de peixe, por favor.
Eu só lhe estava a fazer companhia, não tinha nem fome nem vontade de comer. Além de que devia estar em dieta.
- Não comes nada?
- Não.
- Que jeito! Come lá qualquer coisa para eu não me sentir mal.
Se insistes tanto…
- Bem só se fosse um gelado. Mas eu até estou de dieta…
- Ora, também eu, mas estou-me a borrifar. “On s’en fou”. Vais comer só o gelado?
- Já agora, podia comer um panado de frango. Mas depois engordo.
- Que se lixe! Só se vive uma vez.
Face a isto, não me restou alternativa. A gula ficou satisfeita. “On s’est fait plaisir” dizemos os dois. Cá está o verdadeiro espírito belga.

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