sábado, 22 de novembro de 2008

Notícias do Pólo Norte

Prezados amigos, venho por este meio informar que a Força do Destino se transferiu de armas e bagagens para o Pólo Norte, de onde vos escrevo esta mensagem. Neste local ermo do nosso planeta, a temperatura é de um grau positivo, mas, como diz o tal sítio inteligente da Internet, sente-se como se estivessem três graus negativos. Como seria de esperar no Pólo Norte, tem nevado ao longo de todo o dia em quantidades abundantes que só não se acumulam porque a chuva é mais persistente e faz a neve dissolver-se. Não acreditam? Ora então vejam as fotos que se seguem…

Já sabem que falta de nitidez é culpa do telemóvel, mas eu garanto que nevou: não só vi muitos e gordos flocos de neve, como andei na rua a apanhar com eles em cima! Para animar a festa, o meu predilecto sítio web da meteorologia prevê que a temperatura desça efectivamente abaixo dos zero graus durante a próxima semana, por isso aqui continuarei a gelar e congelar até que o São Pedro decida repor a normalidade climatérica e devolver-me à Europa. Pensando bem, não sei se é o São Pedro que se ocupa da neve e do frio, mas concerteza saberá para quem reencaminhar este pedido que a Força do Destino encarecidamente lhe dirige.
Esta vida de andar entre dois países dá muito que pensar. E a mim deu-me não só para pensar como também para concluir – o que já é uma tarefa de monta – que razão tem o povo quando diz que não há sol na eira nem chuva no nabal. Deu-me para esta conclusão quando voltei de Lisboa e revi mentalmente uma série de coisas boas e más com que me deparei no nosso país e ao regressar a Bruxelas.
Como se recordarão de anteriores mensagens, as lojas em Bruxelas não são propriamente famosas em termos de atendimento. Há duas semanas, eu tentei em vão comprar um casaco de lã cinzento que experimentei na Zara. Ocorre, porém, que não tinham o meu número. O que é que faz nestas situações? Pede-se a um dos empregados para verificar se o dito cujo existe. Na primeira vez em que o casaco se atravessou no meu caminho, até era o meu número mas tinha as mangas diferentes e faltava-lhe um dos botões. Será que há um em condições noutra loja? Não é pedir muito que o verifiquem, pois não? Afinal, em Portugal qualquer Zara que se preze o faz por nós. «Peça ali à minha colega da caixa que ela vê». Óptimo, aqui fazem o mesmo. Chegado à caixa, esbarro nesta resposta: «Eu, ligar para outra loja? Não, não posso. Mas o senhor pode!». Ora que eu posso também eu sei, estava-lhe era a pedir se o fazia. «Mas é por o casaco não ter um botão? Não se preocupe, eu ofereço-lhe outro». Oferece-me outro? Mas está parva ou faz-se? Devia-me era fazer um desconto para eu levar uma peça desvirtuada! «Depois o senhor chega a casa e põe o botão». Claro, oferecer a possibilidade de o pregarem na loja era pedir demais. «E vende-me o casaco mais barato?» pergunto eu. «Mais barato? Por quê?? Eu já lhe estou a oferecer o botão!!» Desisto…
Como vocês sabem, eu sou muito persistente e quando encontro uma peça de roupa de que gosto sou… ainda pior! De modo que corri meia Bruxelas em busca do casaco e, na falta do meu número, decidi repetir a cena numa loja da baixa. «Pode-me ver se tem o M deste casaco? Não há nenhum aqui». Desta feita, encontrei um rapaz que respondeu prontamente: «Não quer levar antes o de algodão?» Se eu quisesse levar o de algodão, tinha pegado nele e levado, não achas imbecil? E para que é que me serve um casaco de algosão numa terra onde está um grau de temperatura? «Então vou procurar no armazém». Foi mas só voltou passado vinte minutos para me dizer que do dito cujo nem rasto.
Traz-nos esta aventura para Lisboa, onde finalmente encontrei o célebre casaco nessa instituição fabulosa que é o Oeiras Parque. Nem foi preciso procurá-lo, bastou dizer o que queria à menina da caixa, que, por sua vez, fez sinal ao menino que arrumava a roupa, que rapidamente o trouxe. Notem bem que ninguém me disse «vá ali à minha colega», nem me mandou telefonar nem me tentou oferecer botões para eu pregar...
Amanhã vos contarei mais pormenores curiosos e outros verdadeiramente surpreendentes desta Bélgica transformada em Pólo Norte. Boa noite!

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