quinta-feira, 5 de junho de 2008

Torre de babel

Que bom vir ao blogue e ver que os meus amigos dão pela minha ausência. Maggy, ainda bem que o teu computador não se desabituou de o visitar! Quanto a não conseguir abrir os comentários, não sei qual o motivo porque eu li-os ontem mesmo antes de colocar a mensagem, mas isto da Internet é coisa para de vez em quando lhe dar uma pancada e não funcionar, já se sabe. Vê tu que eu comecei o blogue há meses e hoje dá-lhe ao inestimável domínio que me acolhe - o Blogger - para achar que eu não tinha uma opção qualquer de cookies activadas. Claro que bastou actualizar a página e a necessidade do bicho em ter as cookies activas passou-lhe logo. Nestas coisas o melhor é fazer como os informáticos nos mandam fazer a nós quando o computador não funciona: «Já experimentou desligar e voltar a ligar? Não? Então mas isso era a primeira coisa que devia ter tentado!»
Pois vamos lá pôr em dia o muito que está atrasado. Em primeiro lugar, descobri que não sou o único português no meu actual local de trabalho: conheci um colega de outra chafarica também português e não é que sabe tão bem nós falarmos a nossa própria língua? Isto pode-vos parecer a coisa mais estranha, mas acho que a nossa relação com a língua materna se altera quando uma pessoa passa o dia inteiro a falar em Inglês, a escrever em Inglês, a ouvir Francês e a tentar responder na mesma língua, a falar Alemão sentindo-se obrigado a falar correctamente mas depois esquecendo as coisas mais básicas e a falar em Espanhol aparentemente fluente, porque levam a vida a achar que eu sou espanhol. Vem-me à memória um bom exemplo desta torre de babel que é trabalhar aqui. No outro dia, falávamos de casamentos à hora de almoço e alguém perguntava à minha colega da frente se no trabalho também tínhamos conversas sobre o assunto. «Ah, claro, muitas vezes». Isto porque ela vai casar brevemente, tal como uma parte substancial do pessoal - a outra parte está grávida e os que restam em mudanças. Depois perguntaram-lhe: «E sempre em Inglês?» «Não, o nosso escritório é uma casa farta: em Inglês, em Espanhol, em Alemão e até de vez em quando em Português!». De facto, tenho uma colega espanhola que fala lindamente Português e instituiu que, como quer deixar de falar «Portunhol» de vez, numa semana falamos em Português e noutra em Espanhol (esta semana é portuguesa). E até tenho uma colega galega que parece estar sempre a falar em Português, tal é a semelhança. Mas, mesmo assim, é estranha esta sensação de a língua que falamos durante a maior parte do tempo não ser a nossa. E não é só no trabalho, porque obviamente em casa ouço as notícias em Francês, quando chego mais cedo em Francês belga e quando venho mais tarde em Francês de França, que não são exactamente a mesma coisa mas deveriam ser porque isto de ter aprendido Francês de uma maneira e agora estar a reaprender de outra dá cabo da cabeça a uma pessoa. Que culpa tenho eu que não sigam todos as mesmas regras? O resultado é que eu um dia destes estava eu a pedir uma chamada em Francês e a dizer «oitenta» em Francês da Bélgica, e o telefonista a corrigir-me e eu a repetir pensando que ele não tinha ouvido bem, e ele a corrigir-me outra vez e eu a insistir na mesma tecla, até que o senhor desistiu e fez a ligação. Eu explico: acontece que, na Bélgica, se diz «setenta» e «noventa» de outra forma, diz-se «septante» e «nonante» em vez de «soixante-dix» e «quatre-vingt dix», que realmente são uma enormidade e não dão jeito nenhum, além de não serem nada parecidos com o Português. Ora seguindo a mesma lógica, se se diz «septante» e «nonante», também se há-de dizer «octante», julgava eu na minha ignorância linguística. Mas não diz. Diz-se «quatre-vingt» tal como em França e o senhor telefonista não tinha qualquer problema de audição, eu é que tinha um problema de ignorância. Mas vamos progredindo... Ao ponto de um destes dias, quando estava a almoçar (já é a segunda vez que falo em refeições nesta mensagem, credo, até parece que não faço outra coisa, e ainda por cima o que vos queria contar do Sábado passado também mete comida... terá de ficar para outra mensagem) começar uma frase em Inglês, depois passar para Francês porque não sabia o nome de alguns alimentos e, em desespero de causa, acabar em Alemão porque me falharam as outras duas. Isto tudo a propósito de ter conhecido um colega português, realmente as conversas são como as cerejas... e o meu blogue deve ser daqueles bolos muito bem recheadinhos, todo ele cerejas, que por acaso aqui custam os olhos da cara, como aliás quase toda a fruta da época. E não é só por causa da subida do preço dos alimentos. Se calhar é porque cá é como nalgumas faculdades - só há a época única, que é a da laranja, da maçã e da banana. E mesmo assim a banana cuidado, porque também não é nenhuma barateza. Mas do que é realmente em conta nesta terra vos contarei na próxima mensagem.
Entretanto, respondendo à Margarida, o protesto dos pescadores por estas bandas fez suspender toda a circulação no quartier européen. Primeiro fecharam as estações de metro e de comboio, depois os manifestantes começaram a atirar pedras e foguetes e a fazer grafitis e nessa altura acharam melhor fechar todos os edifícios da rua por junto. Isto tudo logo no dia em que eu estava noutro lado em formação e por isso não vi os protestos em directo. Aliás, nem em diferido vi grande coisa, porque na televisão não se pode confiar: vem uma pessoa a correr do ginásio, uma pessoa que já transpirou o que tinha de transpirar, tudo para ver o noticiário nacional e depois dão dois ou três minutos de reportagem e já está. Isto é o tratamento que o canal principal dá a um acontecimento particularmente violento que ocorre numa zona importante da capital, e que, como dizia o meu professor de jornalismo quando eu andava a estudar, tem valor-notícia que sei lá. Olhem, estivesse cá a TVI e eu tinha visto e voltado a ver e sabido de todos os pormenores e ouvido os comentários!
Até amanhã!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sei quem é a Maggi, mas não foi ela que fez o comentário da tua mensagem anterior, mas já percebi que afinal havia qualquer coisa com os cookies que não sei o que é.
Bjs.

Anónimo disse...

Eu sempre disse que o teu futuro deveria ser num ambiente onde pusesses à prova o investimento que alguém cheio de boas intensões fez em ti, isto é, um lugar onde a tua facilidade para línguas estrangeiras e o teu Know How fossem utilizados. Ora aí está, essa torre de Babel em que te moves com facilidade só confirma o que sempre te disse. E mais, sabes que aprender línguas e/ou estudar matemática retarda a senilidade? Vais ter um cérebro jovem para o resto da vida. Mãe tem quase sempre razão! Beijos. M