terça-feira, 4 de maio de 2010

Expliquem lá melhor

Os problemas que não se resolvem voltam sempre para nos atazanar. E, geralmente, voltam pior do que da primeira vez.
A crise na Grécia dá-me para pensar. Aliás, não é só a crise na Grécia, porque, segundo os jornalistas, a Espanha é hoje o novo alvo dos especuladores. «As bolsas europeias fecharam no vermelho por causa dos rumores sobre uma eventual ajuda europeia à Espanha». «Wall Street em queda por causa da instabilidade na Europa». «Economistas admitem que Portugal pode precisar de ajuda». «Steiglitz diz que está a chegar o fim do euro». Eu não sou especialista, mas, se bem percebi, a Grécia vai pagar juros mais altos pela sua dívida. OK. Porque o défice é maior do que o previsto. Percebo. As agências de rating mudam o rating da Grécia. Pois. Os mercados entram em paranóia. Não sei se consigo acompanhar. Por isso, a Europa – que somos todos nós – vai emprestar uma pipa de massa à Grécia. Como é que é? Expliquem lá isso melhor…
É impressão minha ou nós vamos emprestar uma fortuna à Grécia porque os mercados enlouqueceram e os especuladores precisam de se acalmar? Ou melhor, para assegurar a acalmia dos mercados, vamos até pôr a hipótese de dar uma ajudinha à Espanha. Que até há uns tempos atrás era toda saúde. Ah, e já agora, como o bolso dos contribuintes é sempre mais fundo do que a ganância pode imaginar, vamos lá também emprestar umas massas a Portugal, para que não haja descriminações entre os PIGs. PIGs ou PIIGs é um acrónimo de mau gosto com que aqui se designam os países da coesão: Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha.
Em troca do apoio europeu, a Grécia vai arrumar a casa e pôr ordem nas finanças públicas. A receita é a mesma do costume: os funcionários públicos vão ter os salários congelados, os pensionistas vão ter reformas mais baixas, o IVA aumenta, corta-se na saúde e na educação (nunca nos ordenados dos políticos, claro) e um dia, com boa vontade de todos os envolvidos, lá se há-de pagar o tal empréstimo. Nem que tal demore gerações a fio. Agora o que é preciso é acalmar os mercados. Daqui a uma décadas, pensamos nessa cena de pagar o empréstimo. Agora é urgente tranquilizar os especuladores. Deixem lá os pobres, os desempregados e a classe média, que agora não interessam nada… O que interessa é que as agências de rating não reduzam a classificação da dívida soberana. Mesmo que, para isso, a soberania dos países se esvaia no fumo das especulações…

3 comentários:

M disse...

Que saudades de te ler! Parece-me um bom sinal. É verdade, pobrezinhos mas vai de pagar para a Grécia. Há que salvar o euro, dizem. Cá para mim o escudinho deixou-me saudades, excepto quando quero viajar, altura em que o euro dá muitíssimo mais jeito. Espero que o falador continue a falar com frequência porque é sempre um prazer lê-lo.beijos M

Anónimo disse...

Meu querido! Isto da crise grega e dos empréstimos tem muito que se lhe diga. Muitas pontas soltas, numa história onde não há só anjos e diabos. Os especuladores são tiranos... certo; mas também são eles que estimulam os mercados financeiros sem os quais a economia já não vive. Vamos todos ter de ajudar a Grécia... certo; mas quando os 16 assinaram a entrada no euro deviam ter pensado que não era só para recolher os louros, mas também para os maus momentos. As agências de rating continuam a descer as notações... certíssimo; só que as agências são americanas e do outro lado do Atlântico dá um jeitão ter o euro em alta para as exportações em dólares serem mais em conta. A Alemanha está reticente em ajudar... certo; mas tem de pensar que, como economia forte, tem direitos e deveres e não pode fazer bluf com os epsculadores - ah e tal ajudamos mas os gregos têm de passar a viver a pão e água - porque isso tem o efeito perverso que se viu. Portugal não quer ajudar a Grécia... certo; mas quando nos tocar a nós vamos andar a bater de porta em porta (como já fazemos no mercado de dívida) a pedir esmolinhas e compreensão.
A crise grega - e a portuguesa e a espanhola e a irlandesa e a italiana - mostra-nos não só que andámos todos a viver muito acima das nossas possibilidades, como temos sido levianos nas escolhas de quem nos dirige. Os políticos e os especuladores estão lá porque nós os pusemos lá. Mea culpa a todos. É altura de aprender a lição que estas coisas da economia são todas para levar um bocadinho mais a sério. Beijos S.

Anónimo disse...

E gostei muito de te ler. Mesmo. Espero que o falador nos continue a dar os seus pontos de vista aguçados e inteligentes. S.