segunda-feira, 10 de maio de 2010

Expliquem lá melhor, mas agora como se eu fosse muito burro

Continuo a ver televisão, a acompanhar os jornais e a ler os comentários das minhas visitantes habituais, mas não há meio de entender. Sei que há uns especuladores e umas agências de «rating» e umas bolsas que têm de ser satisfeitos dê lá por onde der. Também sei que a Europa não pára de pôr dinheiro na mesa. Ainda não percebi é por que é esses amigos têm de ser acalmados e por que é que o nosso dinheiro é disponibilizado sem parar para acalmar a inquietação dos ditos cujos. Expliquem lá melhor, desta vez como se eu fosse muito burro…
A União Europeia acaba de disponibilizar 500 mil milhões de euros para, segundo os noticiários, «estabilizar o euro». Um plano gigantesco e inédito, que, nas palavras de outros especialistas, irá «salvar a moeda única». Isto foi hoje de madrugada. Durante o dia, graças a este excepcional envelope de dinheirinho fresco, já está tudo bem outra vez. Os mercados estabilizaram, a bolsa portuguesa registou a maior subida de sempre, a de Madrid cresceu 10% e os juros da dívida portuguesa desceram. E, como a festa não ficaria completa sem todos os convivas, os EUA deram um ar da sua graça e Wall Street foi contagiada pela euforia europeia. O FMI saudou as medidas anunciadas. Por acaso, umas horas antes, Barack Obama tinha expressado a sua preocupação com a situação da Europa em geral e da Grécia em particular. Fica por saber se a dita preocupação significa vontade de ajudar ou apenas a conversa do costume. Entretanto, como a situação já voltou ao normal, Obama terá certamente posto o assunto de lado para se preocupar com temas mais urgentes e inadiáveis, tais como o papel da Xbox na evolução da democracia.
Mas, enquanto os mercados entram em euforia e o resto do planeta se regozija com o plano multimilionário, a tesoura dos governos não pára de atacar a despesa. A sociedade? Que aguente e é se quer! O Ministro das Finanças admite que poderá aumentar os impostos. Os ex-ministros das Finanças, esquecidos de que ocuparam esse cargo, avisam para medidas mais drásticas. O Vítor Constâncio, com o seu talento único para criticar o ordenado alheio sem falar no próprio, quer que o défice desça mais. E já este ano. O pessoal que se aguente à bronca e nada de vir armar confusão como os doidos dos Gregos.
Esta perturbadora realidade recorda-me do 11 de Setembro e da recessão económica que se seguiu. Nesse dia, o António Perez Metello teceu um comentário muito elucidativo, que rezava mais ou menos assim: «As torres caíram, mas, excepção feita às que desapareceram na tragédia, as empresas continuam de pé, as pessoas vão voltar ao trabalho e a economia pode retomar o seu curso. Mas tudo depende do que os mercados dirão». Vários anos depois do 11 de Setembro, veio a crise financeira que começou na América e contagiou a Europa. Muitos países endividaram-se até à medula. A Islândia faliu. As tais agências de «rating», porém, continuaram impávidas e serenas a brincar com os ditos «ratings» e nós a pagarmos. Poucos meses antes do colapso, estas amigas consideravam a Islândia um país seguríssimo para investir. Também não se sabemos estas queridas onde andavam quando a América deixou falir o Lehmann Brothers. Aliás, nessa altura a quantidade de agências, institutos e demais garantes do bem comum que estavam em sono profundo devia ser enorme, porque o FMI, que agora dá sentenças a torto e a direito, também estava ausente do escritório. O Barack Obama, por sua vez, estava ocupado com a campanha eleitoral, que, ao contrário da Xbox, é boa para a democracia.
Quando o G20 se juntou para resolver a tal crise que veio do outro lado do Atlântico, uma analista espanhola disse que, quando saíssemos da dita cuja, a economia teria irremediavelmente de se reconstruir de outra forma. Mais cuidadosa, mais sustentada e menos sujeita aos caprichos dos especuladores. Mas, dois anos depois, estamos de volta ao ponto de partida: os especuladores estão inquietos, os mercados pressionam e os rumores multiplicam-se. E lá vão os mesmos de sempre pagar a factura. Os mesmos pagadores que continuam à mercê dos mesmos especuladores. Nenhuma das tais agências distraídas mencionou que fechou uma fábrica em Portugal onde 900 pessoas perderam o emprego. Nem que o desemprego na Europa não pára de subir. O que interessa isso comparado com a pressão dos especuladores? Não interessa nada…

1 comentário:

M disse...

Pois, isto é complicado! Mas é como o casamento. Quando duas pessoas casam comprometem-se para o bom e para o mau (devia ser), de acordo com o ritual católico. Assim, quando uma coisa boa acontece a um dos conjuges, como por exemplo ganhar o euromilhões, a festa é dos dois, mas quando algo de mau lhe acontece, os dois sofrem em conjunto e lutam contra tudo e contra todos para para que a vida volte ao seu curso normal, honram o compromisso. ora quando Portugam aderiu à UE ganhou muita coisa (utilizou-a mal, problema dele, utilizésse-a bem, mas comprometeu-se com os parceiros, de modo que quando um precisa há que defendê-lo, até porque do outro lado do mundo estão uns gigantes a quem dá jeito a doença da velha Europa.Beijos M