quarta-feira, 21 de março de 2012

A liga dos complicados

 
 
 
 
A minha chafarica podia-se chamar instituto para a burocratização.
Sempre que há uma maneira de complicar qualquer coisa, complica-se. Podia-se fazer isto agora já? Não, nem pensar, vamos lá pedir a opinião de toda a gente – mesmo dos que nem sabem do que estamos a falar nem querem saber. Depois fazemos um relatório com os pareceres de cada um. Em alternativa, podemos convocar um grupo de trabalho, que deverá igualmente produzir um relatório, que nós depois avaliaremos. Como dizia a minha antiga chefe, isto já nem é burocracia, que é um sistema de organização, mas burocratização, que consiste em criar processos, regras e afins que só servem para emperrar a vida de quem trabalha. Não acreditam?
Na reunião de departamento, uma colega anuncia euforicamente que finalmente compraram uma máquina fotográfica. Em qualquer departamento de comunicação, uma máquina fotográfica é material de primeira necessidade, mas aqui só ao cabo de vários anos, centenas de reuniões e dezenas de seminários, se chegou a esta miraculosa conclusão. Eis que se lançaram uns colegas nesse processo interminável de comprar a dita cuja, mas não havia maneira. Foi preciso pedir diversos orçamentos, como convém a qualquer serviço público que se preze. Até aqui, tudo bem. Em seguida, foi preciso ouvir a opinião de toda e qualquer pessoa que alguma vez na vida pode ter tido contacto com esta organização, mesmo que remoto e sem qualquer envolvimento fotográfico. Oito meses depois, quando o dito processo se concluiu com a emissão da ordem de compra, já o vendedor não tinha a câmara em stock… Mais uns meses decorreram e eis que o tão aguardo aparelho chega finalmente ao nosso poder. A tal colega anuncia euforicamente a boa nova, como quem anuncia o fim da crise, mas logo a radioactiva entra em acção. Isto estava a ser simples demais. Era preciso complicar. A máquina, coitada, ainda não tinha quem mandasse nela. Está mal, pois até a câmara precisa de ter chefe.
- Então quem é que vai coordenar a câmara?
A minha alma pasma. Será que estou a ouvir mal?
- Quem é que vai ficar responsável pelas fotografias?
No meu anterior emprego, onde sempre houve máquina fotográfica, usava-a quem precisava. Nunca se encarregou ninguém de ir a cada reunião, evento ou afim com o propósito único de tirar fotografias. Mas aqui…
- Então… alguém tem de coordenar a máquina fotográfica!
E mais não digo…

1 comentário:

Sara disse...

Mais uma história digna dos 'Gatos Fedorentos' eheh